domingo, 6 de abril de 2014

Where The Wild Things Are


Where The Wild Things Are ( Onde Vivem os Monstros em Terras Brasilis) é desde sempre um dos meus filmes favoritos. É a adaptação de um dos livros mais bacanas que eu já vi, mas não me toca por estes motivos.  Me toca porque toda vez que eu assisto penso que deveria ser facultado também  a adultos o direito de ter um lugar de refúgio de vez em quando sem maiores culpas.

Eu queria ter um lugar como o do filme sabe? Com uns monstros simpáticos, todos representações de mim mesmo, todos mostrando quem eu verdadeiramente sou, mas ser adulto fodeu com minha vida. Ter responsabilidades, ter que cuidar de outro ser, ter que interagir de forma responsável com outras pessoas, tudo isso me parece muito, mas muito longe da minha realidade.

O pior é que eu não posso fugir. Posso ler, mas o livro acaba. Posso ouvir músicas incríveis que duram o que? 5, 6 minutos? Dai acabam também. E o que fica? Um sensação de impotência, de completa falta de habilidade para lidar com as pessoas. No filme, Max,  um garoto muito parecido com o que eu mesmo fui, um dia simplesmente pega o seu barquinho e vai parar na terra dos Monstros. Tem certeza que não posso fazer o mesmo?

Então, eu vendo imóveis. Tenho que parecer sério e seguro. Nem um nem outro. Minha insegurança vem de um poço sem fundo e não admiti-la só me faz ainda mais inseguro,então a real é esta, não estou a altura da minha profissão, de ser pai, de ser marido, de ser uma pessoa minimamente adulta. Eu quero ser criança de novo, quero ser uma versão do Max e que ninguém me incomode com isso.

Agora mesmo, enquanto escrevo, ouço a música tema do filme, maravilhosa, interpretada pelo Arcade Fire. Estou em um plantão de vendas e tenho que ouvi-la nos meus fones mas queria estar cantando bem alto, gritando cada frase a plenos pulmões, berrando mesmo, pois é assim que eu seria feliz. Não sei ser uma pessoa plastificada e politica como todos são.  Não sei falar mal de alguém de graça, prejudicar a outrem apenas por esporte, não sei jogar o jogo dos adultos a minha volta.

No lugar onde os monstros vivem, Max achou um porto seguro, mas não  pode ficar lá por muito tempo, pois o mundo real chama até mesmo as crianças para nele viver, mas ficou tempo o suficiente para não ser mais o mesmo, para se renovar. Eu queria um stop and go que fosse em um lugar assim, porque estou cansado.

Cansado de ver as pessoas sendo tão falsas e ardilosas. Não que eu não minta ou não tenha defeitos, claro que tenho. Mas não identifico em mim mesmo a maldade que vejo por ai que te faz abrir a boca com o intuito declarado de prejudicar outra pessoa, apenas porque não se gosta dela. Não consigo entender isso.

Cansado também de ser adulto. Ser adulto é muito chato. Dirigir um carro é chato. Parar no Shopping e ouvir aquela maquininha irritante de estacionamento falando com você é chato. Ter clientes que juram pela mãe morta que vão comprar pra depois não atender mais seus telefonemas é chato. Ver pessoas morrendo de fome chato.

Eu não sei ser uma pessoa adulta. Não sei. Pronto, falei. Acho que falo tudo o que penso, que escrevo tudo o que me vem a cabeça porque não quero ter o compromisso de ser político. Não adianta, não consigo. Se as pessoas não gostarão de mim por isto, paciência. Eu escolho de quem eu gosto, independente da pessoa gostar de mim ou não. Agora mesmo escrevendo, me lembro que a tampos deveria ter enviado o relatório de pessoas no plantão para o meu coordenador. Enviar relatórios é chato. Apenas números inúteis que não ajudam em nada o desenvolvimento do meu trabalho. Pronto, enviei, fiz um burocrata feliz e matei mais um pouco de mim mesmo.

Por que é disso que se trata. Ser adulto mata um pouco de mim por dia.  Mas tenho que prosseguir e a recepção me chama para mais um atendimento.

É isso, mas apenas porque tenho que desligar o note, cliente na espera...

Ouvindo, Arcade Fire

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