domingo, 17 de agosto de 2014

Por um mundo sem Photoshop

Não, é evidente que não me refiro ao programa de correção de imagens. Ele é necessário afinal. Ainda que usado de forma indiscriminada tire toda a beleza e naturalidade das fotos que corrige. Mas isso é coisa de quem não sabe utiliza-lo verdadeiramente. Retoques sempre serão bem vindos se usados coma  devida parcimônia.

Mas enfim, não é disso que se trata e graças ao meu jeito prolixo você leu bem mais do que deveria, afinal quero falar do "Photoshop social" se é que posso usar esta expressão.

Fico deprimido ao ver que o mundo de hoje se transformou em um lugar para ver e ser visto. Nada além disso. Ser alguém que pensa, ser alguém que apenas é, sem amarras, sem a politica, sem ser rendido a um stablishment opaco não é aceitável. Houve uma época em que não ser quem se é era considerado errado. Hoje errado é não ser como todos.

Basta uma simples olhada nas redes sociais, Facebook a frente para se perceber que ninguém nunca está triste, nunca está chateado, apenas os melhores comentários, as melhores fotos, os melhores pensamentos. Nada de estar de mau humor, nada de uma foto tirada por um ângulo desfavorável, nada de dizer algo que cause "polêmica", alias, é incrível o mau uso que se faz desta palavra Cada coisa vazia que acaba virando "polêmica", muito em função do vazio que assolou o mundo.

E na verdade este é o real problema. Um vazio inescapável tomou conta do mundo que vivemos. "Os Trapalhões" um programa imbecil desde sempre por sem graça que era, ao menos fazia piadas com Negros, Gays e outros grupos que hoje se denominam "minorias"  e ninguém reclamava. Alias no grupo havia um negro e um gay.  Dizer o que? Que na época eramos mais tolerantes ou mais buros e graças aos "avanços" sociais  o que era uma simples piada virou ataque a honra das pessoas e ainda bem? Isso é evolução? Por favor né?

Aceitamos ser "achatados" por imposições midiáticas que nem paramos para analisar o conteúdo, apenas as repetimos para parecermos mais inteligentes. Nessa ânsia de falarmos coisas coerentes, não reparamos que estamos tal qual uma nuvem de Papagaios repetindo todos as mesmas coisas, gostado todos das mesmas músicas, partilhando todos dos mesmos valores e isso não nos torna de forma alguma uma sociedade igualitária, e sim uma sociedade onde todos são iguais, reflexos opacos uns dos outros sem identidade, sem rosto, sem nada que diferencie um pessoa da outra.

E é exatamente isso o que estamos buscando. Sermos  iguais. é mais fácil. Pensar cansa. Pensar te faz refletir e encontrar cantos dentro de cada um de nós que não queremos remexer. Baús que não queremos abrir de forma alguma. Quando nos pegamos cantando a mesma música ruim, ou gostando do mesmo programa de TV idiota, nos aliviamos porque gostamos do mesmo que nossos conhecidos gostam e assim somos iguais a eles.

Nas redes sociais é onde este photoshop social rola mais solto e encontra seu terreno mais fértil. Ninguém diz nada que possa ser objeto de reflexão. Apenas bobagens envoltas em belas imagens que funcionam como uma moldura que enquadra o nada de forma solene. De enfiada, ainda se  acaba com a moral de gente como Clarice Lispector, Cora Coralina, Arnaldo Jabor (este a bem da verdade merece por chato que é), citando frases ou textos completos que nunca foram escritos por tais pessoas. Um Imbecil escreve e os outros, na fissura de parecer inteligente ou de lustrar a imagem a custa do que pessoas nunca disseram, mas que lhes parece factível compartilham em velocidade subatômica e tal qual um vírus a tal citação vira "propriedade" de gente que passou a vida inteira medindo suas palavras para que soassem belas e coerentes e são reduzidas a porta vozes de gente desclassificada.

Agora, diga isso em um post qualquer e veja a saraivada de impropérios que receberá. Hoje em dia, enquanto se pensa em descriminalizar a maconha, pensa-se em paralelo e com muito mais vigor, criminalizar a opinião. Opinião só vale se for de consenso. Pensar fora dos parâmetros cada vez mais esdrúxulos que a sociedade tem como aceitáveis é ofensa e ofensa grave. Pensar por si só, não te torna independente te torna obtuso e o mais ridículo é que você será considerado obtuso aos olhos dos verdadeiros obtusos.

Não se vê mais verdadeiros debates de idéias. O que se vê são pessoas concordando umas com as outras ainda que achem totalmente sem propósito as opiniões emitidas, porque concordar é mais fácil e mais rápido do que se falar o que se acha de forma clara e concisa. E se por algum motivo você decide falar, vai ouvir muxoxos de reprovação por ousar pensar diferente daquela roda determinada.

Enfim, eu sonho com um dia em que o mundo não será movido pelo photoshop social. Mas este dia não chegará. Mas para mim é de sonhos impossíveis que a vida é feita, pois os sonhos possíveis já tem um nome: Realidade.

É isso.

Ouvindo: Jorge Camargo






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