sábado, 29 de agosto de 2015

De quando eu era criança.


Hoje acordei com saudades da minha infância. Um periodo que nem gosto muito, mas acordei com saudades. Por que? Sei lá. Sou imprevisivel.

Lembranças esparsas, sem ordem cronológicas me vem a mente. A primeira escola que frequentei, Jose Escaramelli, em Guarulhos. Tinha um raiva surda e incontida em ir a escola. Entrei aos 6 anos mas já sabia ler e escrever perfeitamente um ano antes, minha mãe havia me ensinado. Minha professora, da qual faço questão de não lembrar o nome, me forçava a fazer circulos, ondas, traços, entre outras bobagens. Quando entramos no lance de aprender a ler e escrever propriamente dito, ela me reprimia por ja saber. Gritava comigo como uma porca tresloucada e me enchia de raiva, o que levou minha mãe a me trocar de escola depois que mordi furiosamente a mão direita da professora e ato contínuo, chutei sua canela com minha bota ortopédica.

Sim, tenho uma deformidade nos pés e usava botas ortopédicas. Tinha uma branca para ir a igreja (acho que minha mãe associava a pureza) e uma preta. Eram pesadas, feias mas os únicos modelos disponíveis na época e minha mãe ralava para compra-las sempre que meu pé crescia. Só usava tênis (Kichute ou Bamba) para jogar bola na rua com os amigos. Odiava empinar pipa, sempre achei uma atividade de retardados mentais sem nenhum charme intelectual e mesmo o futebol eu trocava pelos livros.

Fui para uma escola chamada Anita Saraceni e ais 7 anos, enfim, me apaixonei pela primeira vez. Andreia Bonneti era o nome da loirinha por quem cai de amores. Ela no entanto gostava de um tal de Gustavo o que me fez espanca-lo até que ele perdesse a consciência com um pedaço de madeira, o que motivou a escola querer me expulsar da mesma. Entrou em cena a professora que todo garoto deveria ter, Dona Milvia, uma senhora que me reconhecia como diferenciado (seja lá oq ue isso queira dizer) e intercedeu a meu favor. Dona Milvia me indicava livros, e só me dava uma tarefa de casa "Composição" nome antigo que se dava a atual "Redação" devo ter feito, a pedido dela, mais de 200, 300, de temas variados, livres ou por ela propostos o que me fez ser ao final do ano, uma pessoinha apta a escrever o que quer que fosse da forma que fosse. Se não fosse Dona Milvia e seus livros indicados e sua obsessão por redações, eu seria mais um analfabeto funcional que lê sem no entanto compreender o que leu.

Depois de mais dois anos na escola, agora com uma professora cretina chamada Eliana, que andava com os peitos praticamente de fora e era mais burra que uma porta e nada tinha a me acrescentar além de me ensinar que pessoas podem ser Asnos falantes, decidi por mim mesmo sair da escola. E sai. Passava minhas tardes em uma biblioteca que ficava na escola e a Dona Milvia me deixava frequentar mesmo sem ser aluno. Dona Milvia era diferenciada.

A esta altura minha irmã morreu, a vida virou uma bosta total e fui enviado a um psicologo. O psicologo é algo que prefiro não comentar. Simplesmente não estava a minha altura e em nada me ajudou.

Eu ainda jogava bola na rua, mas lia cada vez mais e com mais intensidade absorvia minhas leituras. Descobri a poesia de Cecilia Meireles e Cora Coralina, li Hamlet, li Cervantes, li Jorge Luís Borges, li Saramago, li tanta coisa e cada vez lia mais e mais. Li até Jorge Amado, apenas para perceber o quão ruim era a sua literatura e como brasileiro é bobolino e gosta de porcaria. Mas também li Machado de Assis e Li Eça de Queiroz. Drumond, Fernando Sabino, enfim, a lista é muito, muito extensa.

Começei junto com minha madrinha, a frequentar a Igreja Presbiteriana da Vila Ré, na ZL de SP. Lá, ais 11, 12, sei lá, me apaixonei de novo (sim, foi um hiato um tanto quanto longo sem paixões) por uma ruivinha que nem o nome me lembro. A gente ficava conversando o tempo todo eu falava de livros e ela de música. Me apaixonei por ela e por música, porque ela defendia com tanta paixão que música era tudo que para mim se tornou tudo. Ela por sua vez se tornou leitora ávida e entre livros e LP´S dei o primeiro beijo de minha vida. Um beijo péssimo, afinal eu não sabia beijar, mas tão bom, afinal foi dado com paixão que me lembro dele até hoje. Não com saudade, mas com uma nostalgia boa. Acontece que aos 12 eu era um menininho lindo, porém um menininho, e ela aos 12, era uma mocinha que caiu de amores por um garoto de 15. Tentei espancar este também, mas apanhei clamorosamente, como um cão ladrão e desejei ser o homem de lata pela primeira vez, porque meu coração se partiu em 1.000 pedacinhos. Como vingança quebrei todos os LP'S que vi na minha frente e detalhe, não eram meus. Foi algo um pouco burro de se fazer.

Aos 13, comecei a trabalhar e virei adulto. Ai a vida ficou chata de vez. Me tornei beijoqueiro e praticamente um compulsivo sexual e acreditem, conseguir sexo aos 13 anos sendo bonito é a coisa mais fácil do mundo, mas isso ferrou minha vida. Me tornei um predador disposto a ficar com quantas garotas eu conseguisse para em seguida fazer o que a ruivinha fez comigo, dispensa-las. Até que aos 16 me apaixonei novamente. Mas ai ficou tudo mais chato ainda.

É isso

Ouvindo: Grupo Elo

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