terça-feira, 24 de novembro de 2015

Camisetas na gaveta


Minhas gavetas são por si só definição da minha vida. São uma bagunça. Eu não gosto de arrumar gavetas, pois para mim as roupas são apenas roupas e não carecem de organização.  Sim, estou errado por pensar assim, uma vez que exatamente por serem roupas elas precisam de organização, precisam ser guardadas de forma correta.  Qualquer adulto minimamente responsável sabe disso. Eu não. Deixo a bagunça correr solta. Tanto nas gavetas, quanto na minha vida. É assim que é comigo.

Ontem abri uma de minhas gavetas a de camisetas. Estavam todos impecavelmente organizadas. Me assustei, pois não deixo elas assim. São sempre uma zona, bagunça total. Contemplei por um momento aquela arrumação que para mim é tão estranha e automaticamente soube quem tinha arrumado minhas camisetas na gaveta. Graziela. Sim, minha doce Graziela.

Sou um homem de sorte. Em meio a bobagens abissais, que falo e faço, em meio a passos em falso, em meio a tanta coisa enfim, ela está lá, arrumando minhas gavetas. A esta altura de nossa convivência, ela já sabe que minhas gavetas estarão bagunçadas em pouco tempo, mas mesmo assim as arruma sistematicamente e esta talvez seja a metáfora da nossa vida e antes de mais nada da minha vida.

Ela poderia ter desistido, de arrumar gavetas, de conviver comigo. Sou uma figura ora trágica, ora patética. Momentos de normalidade são raros, e embora estes valham a pena, eu bem sei, são poucos eu bem sei e por serem poucos, talvez não valham assim tanto a pena não.

Alguém que insiste tanto em arrumar minhas gavetas e me vê como alguém especial, diferenciado, merece o melhor de mim. Ainda que eu não tenha nada de melhor para dar, preciso arrumar algo. Preciso de fato me reconstruir, me reinventar como alguém que tem algo a oferecer. Não posso ser indiferente ao amor, não posso ignorar que camisetas bagunçadas sempre acabem arrumadas, dia após dia e tenho sim que parar de bagunça-las, Não  existe mais espaço ou tempo para bagunças as camisetas e a minha vida. O tempo urge e ele diz que eu preciso entender que é tempo de mudança de entender a beleza da vida e vive-la de modo belo. Chega do que é pequeno, do que não agrega, do que não traz vitória.

O tempo de ser feliz é agora, o momento para viver o que nunca foi vivido é esse. Tudo ja foi vivido, tudo já foi experimentado e agora é o momento de experimentar a serenidade, a tranquilidade, de amarrar meu burro na felicidade e é isso que farei. Com Graziela ao meu lado, logo minhas camisetas estarão sempre arrumadas dentro da gaveta. Um quadro, diga-se de passagem muito mais bonito de ser ver.

É isso.

Ouvindo: Jota Quest

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