domingo, 22 de novembro de 2015

Eu não sei mais


Eu não sei mais quem eu sou. Se eu sou um bom pai, se eu sou um bom cidadão. Não sei nada a meu respeito, eu não me reconheço mais. Sou cristão? Sou ateu?  Quem eu sou, pelo amor de Deus, ou de Darwin. Eu me perdi ao dobrar alguma esquina a esquerda quando deveria ter entrado a direita. O meu caminho foi ficando escuro, estreito e a bagagem cada vez mais pesada. Quem sou eu? Um andarilho sem cajado, sem ponto de referência, sem saber onde quer chegar.

Até outro dia eu era Corretor de Imóveis e esta era a única certeza que eu tinha. Agora, eu não vendo mais, não para os meus clientes. Sou "Gestor de Produto". Que porra é essa, sem ofensa, não me levem a mal, mas que porra é essa ? Quem sou eu no rolê da corretagem? Eu to me perdendo, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto. Eu mal me reconheço, eu mal consigo achar eu lugar.

Sentir-se perdido é angustiante e torna-se ainda mais quando não se sabe mais quem se é, e eu não sei. Eu não sei o que eu quero, como eu quero e quando eu quero. Eu queria alguém que me desenha-se um carneiro, mas a dias de fazer 43 anos, externar algo assim é pedir para ser chamado de idiota e embora eu seja um rematado idiota, não fica bem ficar dando mostras disso para todos. Se alguém me desenha-se um carneiro eu cuidaria dele e teria um tremendo apreço pela pessoa autora do desenho. Mas a esta altura? Quem vai me desenhar um carneiro sem antes me chamar ao menos mentalmente para si mesmo de lunático?

Me sinto em pedaços. Não quero recolher os cacos, não quero me reconstruir. M eu riso nunca foi frouxo a bem da verdade mas ultimamente sumiu. Eu grito. Grito comigo mesmo, com os outros, com as árvores, com as borboletas e com as lagartixas. E em um Domingo melancólico eu fico tentando achar onde o que de bom em mim havia se escondeu  e chego a conclusão que se é que havia algo, escorreu. Pelos poros, pelas lágrimas, pelo suor, pela falta de me amar. Sumiu o sorriso, sumiu a leveza e quanto mais endureço por dentro, mais percebo que o ponto em que esta condição se tornará irreversível esta cada vez mais próximo. O abismo, minha alegoria favorita para uma vida sem graça como a minha é logo ali e cada vez mais atraente a sua vista.

Hoje pela manhã acordei com minha casa inundada de água. Uma torneira aberta e pronto: Sala, quartos, cozinha, tudo inundado e enquanto eu puxava a água para o ralo da lavanderia, mais claro ficava para mim que me afogo dia a dia em meus problemas, mágoas, tristezas guardadas e se me mantenho respirando é por conta de um snorkel que insisto em usar, sei lá porque. Eu sou a Karen Carpenter da corretagem. Uma Baterista que jogaram para o vocal sem que ela realmente quisesse. Eu não Muhammad Ali, eu Sou Adilson "Maguila" Rodrigues. Mas e dai também? Quem se importa? Se nem eu me importo, quem mais vai dar valor a este amontoado de besteiras?

Maria Callas só houve uma e seu padrão de qualidade é tão alto que mesmo me esforçando, jamais alcançarei. Eu sou medíocre, um entre outros tantos, mais um que caminha entre a multidão sem distinção, sem valor especial a se atribuir. Eu não sei mais quem eu sou, mas sei que náo sou nem de perto quem gostaria de ser. Triste.

Desenha-me um carneiro?

É isso.

Ouvindo: Maria Callas


Nenhum comentário: