quinta-feira, 23 de junho de 2016

Dias de praia no inverno.


A menos que você more no litoral e já tenha se acostumado plenamente a todas as facetas que morar próximo a praia implica, o inverno por lá não é uma coisa bacana. Ter a faixa de areia a disposição, a imensidão do mar e tudo o que ela significa tanto em um plano literal como sobretudo em um plano literário e não poder desfrutar é de doer na alma e também é a metáfora quase que perfeita para falar sobre melancolia.

Se o Sol pede Beach Boys na vitrola e pessoas com seus maios, biquínis e sungas correndo em direção ao mar e logo em seguida ao Por Do Sol,  o inverno na praia pede uma reuniãozinha de poucas pessoas, Tom  e Sinatra cantando "Bonita" na mesma vitrola, queijos e vinho. Só que isso é Campos do Jordão, não litoral. Litoral no verão é sinônimo de festa de agitação de pessoas felizes. No invernos apenas soturnas figuras o frequentam com seus olhares macambúzios que entregam a falta de alegria a iluminar a alma.

Dias de praia no inverno não são dias de praia, são dias de não ir a praia. Dias de olha-la, deseja-la, imagina-la tal qual ela é. é ver o mar lindo, oferecendo-se com suas ondas em languidos movimentos, seu barulho musical sussurrando  poesias que de tão translúcidas, diafanas  são. Praia no inverno para o turista é a sensação máxima de não pertencimento  a algum lugar, é sentir-se mais triste do que se é ou do que se deveria ser. Dias de praia no inverno é abrir mão da felicidade que  Sol traz. É conscientemente escolher a tristeza, é de forma retumbante gritar ao mundo que se falhou.

Mas é claro que vive dias de praia no inverno quem se recusa a dela ir embora. O sentimento de  melancolia. tristeza,. não pertencimento, a solidão que dias passados no inverno do litoral traz, tudo isso pode ser substituído quando pura e simplesmente muda-se de lugar. Quando o inverno é vivido onde se deve, da forma que se deve,  Quando as coisas estão nos devidos lugares, o inverno não é um fator de interferência na felicidade e saindo da metáfora, quando as coisas estão no lugar dentro de nós, a tristeza, este inverno que a mim assola de vez em quando, não passa de uma nuvem escura que se dissipa.

Mas se ela me atinge quando as coisas já não estão bem, dai sim é como uma paisagem de inverno no litoral e nem quero sair de lá, é como se a estadia na gélida faixa de areia se prolongasse de forma natural, simplesmente porque é assim que tem que ser. E não é.

Me sinto como numa cidade muito bonita litorânea, mas estou  nela na estação errada. Esse frio vai passar, logo estarei adaptado, fora dessa cidade errada na hora errada. O tempo se encarrega de nos levar de volta para onde nunca deveríamos ter saído. O tempo e só ele pode me ajudar. Eu vou seguindo. Que assim seja.

É isso.

Ouvindo:Magic Numbers

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