terça-feira, 4 de outubro de 2016

Eu, O Quebra Galho (A Vida É Assim)



Sou, segundo minha própria visão, um excelente profissional de vendas. Não de vendas de imóveis, mas  de vendas em geral. Se eu fosse vender carros, venderia bem, se fosse vender filtros Europa, venderia bem, se fosse vender consórcio, venderia igualmente bem. Enfim, creio de forma inequívoca na minha capacidade de vender o que quer que seja a qualquer pessoa.

Me identifiquei 16 anos  atras com a corretagem de imoveis. Tenho uma paixão tão violenta por minha profissão que não me vejo fazendo outra coisa, não quero fazer outra coisa e ao londo desses anos todos raras foram as vezes em que não acordei feliz por ter que ir a um plantão de vendas. Mas estou ficando cansado e pior, desmotivado.

Não é a idade, não é uma desilusão com a profissão. Antes, o que me entristece é o rumo que dei a minha carreira. Nunca fui político e nem polido e isso foi um erro capital. Nunca ambicionei patentes, posições e acompanhei a acensão e queda de muitas figuras ditas proeminentes no mercado imobiliário que com a mesma velocidade que subiram, tombaram.

Enquanto isso fiquei eu em meu canto, corretor de plantão, vendo gente sem a menor postura e principalmente competência achando que mandava em alguma coisa e ganhando um dinheiro indigno por imerecido que era. Pessoas que não sabiam diferenciar  o "A" do "Z" arrotando um conhecimento que nunca tiveram e jamais terão por pura incapacidade de assimilação. Sempre achei engraçado no fundo ver gente sem capacidade liderar, porque cometem sempre erros tão primários que acabam sendo risíveis, patéticos mesmo.

Não que eu seja uma pessoa fácil ou um gênio do mercado, não me entendam mal, estou longe de ser ou um ou outro, antes sou apenas uma pessoa muito esforçada que embora tenha a excelência no atendimento ao cliente peca no relacionamento com seus pares. Este sempre foi meu penalty, minha falha principal e não saber me relacionar, nem ter saco ou paciência para aprender me fez ver pessoas muito menos capazes galgando posições em que eu certamente teria um desempenho muito superior.

Mas a coisa de um ano atrás a chave virou e comecei com o trabalho de gestão de produto. Avalio meu desempenho comercial como nada menos que excepcional, porque nos produtos que passei performei em todos de forma absolutamente satisfatória. Ainda sim, não me sinto feliz, não me sinto realizado, ao contrário. Se como corretor não tinha nenhum feedback positivo ou negativo, apenas trabalhava  e ganhava meu suado dinheirinho, hoje sou avaliado e tenho uma posição privilegiada para avaliar também e percebo para meu desgosto que não passo de um quebra galhos.

E se me tornei um quebra galhos é exatamente por minha própria incompetência no trato com as pessoas. Culpa minha, absolutamente minha. Não culpo ninguém por meus infortúnios e ao constatar que sempre serei suplantado por pessoas com habilidades de relacionamento muito superiores as minhas só me resta ficar em meu canto e aceitar a vida como ela é, ou melhor a vida como ela se tornou por minhas próprias ações e escolhas.

Para mim o tempo passou. Muita gente nova e com disposição superior a minha, ideias mais arejadas, propostas muito mais inteligentes estão chegando e logo tomarão conta deste mercado. Para mim resta continuar quieto no meu canto, tentando fazer meu trabalho da melhor maneira possível, entrego os resultados que preciso entregar e perceber que não posso mais almejar nada de grande pois meu tempo passou. A vida é assim.

É isso

Ouvindo Mutantes

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