quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

a corretagem de imóveis e o mundo cínico que vivemos


escrevo este post ao som de "pie jesu"  o que por si só já é de um cinismo escorchante, mas gosto da música e ouço o que quiser para escrever não é mesmo? fato é que novamente vou falar da profissão que amo, para fechar o ano, já que no decorrer dele, mal falei sobre corretagem de imóveis.

amo ser corretor de imóveis, uma profissão para poucos é bem verdade, mas amo de coração, de todo coração. vir para um plantão todos os dias é um prazer, é como se eu nunca trabalhasse. é um prazer orgásmico para mim vender um imóvel, seja ele qual for e para quem for. vender para mim é respirar.

mas na verdade, ouvir uma música sublime como "pie jesu" enquanto fala de corretagem é a melhor forma de exemplificar o quanto a profissão que escolhi é cínica e na maioria das vezes, podre. ela é exatamente como o cristianismo, não como a essência dele, mas no que ele se tornou quando os homens adquiriram o seu controle e fizeram dele não uma religião dos que amam e seguem a cristo, mas sim uma religião que segue o que os homens que a dominam querem que seja seguido.

a corretagem de imóveis é uma daquelas profissões "mágicas" onde mais do que simplesmente intermediar uma venda, o corretor se torna presente na vida de seu cliente. acaba sabendo de dramas, alegrias, situação financeira entre outros  e estado de espírito absolutamente confidenciais de seus clientes. trabalhamos, os verdadeiros corretores com informações privilegiadas e devemos ter o  maior cuidado com essas informações, pois se ao comprar um tênis o cliente estas relaxado e feliz por ter um novo calçado, ao comprar um imóvel, ele está tenso, via de regra, pois irá contrair uma vida de alguns anos e jogará com todas as variáveis de incertezas que o futuro pode trazer,

no entanto, a relação com os clientes é o que menos me importa neste cínico mundo da corretagem. sempre fazemos tudo pelo cliente, tudo o que está ao nosso alcance. e mesmo que na maioria dos casos não sejamos reconhecidos por isso, é assim que as coisas são. o que me irrita na corretagem e a faz ser tão cínica é o relacionamento entre corretores, incorporadores, aqueles que acham que são incorporadores, gestores, donos de imobiliárias, diretores e que tais. não existe lealdade, não existe sinceridade, não existe verdade. apenas uma bruma de cinismo pairando por entre todos e envenenando relações.

as frases mais ouvidas na corretagem são: "vou te falar algo, mas é em off", "por favor, não conte a ninguém o que lhe disse", "não, eu não disse isso, não dessa forma", "quem te disse isso está mentindo" e algumas outras variáveis sobre o tema.  a sinceridade e a lealdade inexistem no meio imobiliário. o que vale, conforme nosso lema mais utilizado, é "dinheiro no bolso". muitas vezes informações são sonegadas ou são divulgadas não para ajudar em uma venda, mas apenas para atrapalhar, seja a venda, seja a vida profissional de alguém. o sucesso de um  indivíduo, raramente é comemorado, é antes entendido como injustiça. "que capacidade fulano tem para ocupar tal cargo?" essa é a pergunta que se faz, porém, para consumo externo, abraços e felicitações é o que são entregues. os ursos ficariam com vergonha de alguns abraços e se tivessem o poder da fala e de criar expressões ideomaticas diriam para tomar cuidado com o "abraço humano".

infelizmente na minha profissão, não existe a sinceridade integral. sofro com isso, pois sou, sem falsa modéstia e sem medo de soar ridículo ou coisa parecida, uma espécie de "jerry maguire" da minha profissão. um cara que além de  ser excepcionalmente bom ainda é dotado de um senso de lealdade e uma sinceridade impar e isso me traz por incrível que pareça muito mais problemas que qualquer outra coisa.

de qualquer forma, não consigo jogar o jogo do cinismo que me é proposto todos os dias e todos os dias ainda me surpreendo como alguns o jogam tão bem e conseguem resultados tão bons manipulando pessoas, fatos e o que mais der pra ser manipulado. a vida, vai seguindo, mas no apagar das luzes de 2016, me pergunto constantemente se quero mesmo continuar a viver neste mundo de mentiras e falta de lealdade (perceberam que uso demais o termo lealdade né? é para mim a característica mais importante que uma pessoa deve ter, a mais apreciável em alguém) que engole aos poucos as pessoas para depois regurgita-las de forma rápida e sem o menor remorso.

que 2017 chegue logo e conserve meu amor pela corretagem. mas que ele também renove minha coragem para ser o que sempre fui: um simples corretor alheio a tanta falta de sinceridade nas relações.

é isso.

ouvindo: andrew johnston

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