domingo, 2 de abril de 2017

a selva do youtube


gosto do youtube. de todas as redes (anti)sociais, é de longe a minha favorita. porque posso ouvir música, muita música. basicamente por este motivo. mas é claro que lá estando, acabo vendo filmes e cenas engraçadas e todo tipo de trivialidades e também muita coisa útil, ótimos documentários (após assistir "hot  girls wanted" me senti tão enojado com a indústria pornográfica que vomitei tudo o que comi e quando comi novamente vomitei de novo e desde então me abstenho de tudo o que diga respeito a esta indústria abjeta o que significa que sim, antes eu via muita pornografia, e dai? a vida é minha não? obrigado, de nada).

o youtube nada mais é do que uma colagem de imagens que assombram ou clareiam a vida de quem as posta. simples assim. ao menos, ainda existe alguma supervisão e não é um reino sem lei no que tange ao quão baixo podemos chegar enquanto seres humanos e absurdos ainda são barrados por ali. claro que o conceito de absurdo é extremamente particular, mas algumas coisas são senso comum não? enfim. ainda dá pra ver com alguma margem de conforto as boas coisas que a rede oferece.

o que me incomoda no youtube e é evidente para mim, que incomoda a muito pouca gente, são as chamadas "trolagens". não, não sou hipócrita de dizer que não dou risada de muitas e negar o quanto elas podem ser criativas embora algumas sejam puro mal gosto e imbecilidade concentrada, mas independente de serem bem executadas ou não todas partem do mesmo princípio: ganhar dinheiro fácil com os acessos a custa de outras pessoas. quer sejam familiares, estranhos ou quem possa estar disponível. são filhos declarando-se gays para os pais, dizendo que engravidaram fulana para chatear a mãe, sustos de todas as espécies, mulheres induzindo maridos a acharem que foram traídos e vice e versa e entre as mais populares as que mostram como mulheres podem ( na visão dos organizadores dos vídeos) serem  vadias aproveitadoras ao entrar nos carrões de homens completamente desconhecidos.

antes de continuar é importante lembrar que sempre existiram mesmo no mundo pré  youtube programas de tv dedicados a trolar as pessoas e as expor ao ridículo e em que pese o fato de que muitas vezes essas pessoas passassem por constrangimentos inomináveis, a grande diferença entre este formato  consagrado no brasil por silvio santos no seu "topa tudo por dinheiro" onde ivo holanda passou décadas apanhando e nos alegrando, o conceito intrínseco er ao da diversão da audiência ao passo que os denominados "youtubers" querem na sua grande maioria promover juízo de valor nos infelizes que caem em seus vídeos.

os vídeos em que mulheres entram em carrões de estranhos ou desprezam pessoas aparentemente pobres e depois se arrependem ao descobrir suas posses são clássicos de como em pleno século 21 elas ainda são tratadas como objetos que servem para o uso e diversão dos homens. como julgar uma mulher apenas porque ela prefere alguém aparentemente mais bem sucedido do que outra pessoa? qual a garantia que homens submetidos ao mesmo "experimento" não teriam a mesma atitude? é tão sem sentido a mensagem que vídeos assim passam que me é perturbador ver que eles conseguem milhões de acessos e os comentários são sempre os mais machistas e infames possíveis. não, silvio e ivo nos faziam rir, não tentavam nos fazer olhar para alguém e pensar: "como você é vadia!" um diferença absurda na forma e conteúdo.

existem também os vídeos em que filhos sacaneiam pais e também o que o contrário é o que ocorre. é uma disfunção tão sem sentido que nem o dinheiro proveniente das curtidas consegue explicar o porque tais vídeos são produzidos. claro que os vídeos em que namorados trolam uns aos outros são mais fáceis de explicar em um mundo, louco mundo em que vivemos onde o compromisso que deveria permear qualquer relação se torna absolutamente obliterado pela mera possibilidade de ganhar dinheiro fácil expondo ao ridículo a quem se afirma gostar. não sei se a psicanalise explica mas ao meu ver é de uma deprimência sem limites.

não, não é este post uma crítica ao youtube ou mesmo as pessoas que postam vídeos desta forma, é antes um simples olhar que se posiciona entre o estupefato e o incrédulo com os caminhos que a humanidade vem trilhando e pelos caminhos que comportamentos como este sinalizam que ainda trilhará. o youtube não deveria ao meu ver ser uma rede onde apenas o que eu aprovo pode ser postado, longe disso e nem é ele, youtube, o responsável pelas porcarias que pululam em seu conteúdo. como disse no início, todo conteúdo ali postado apenas reflete quem somos e o que esperamos ver quando o acessamos.

é triste, mas é a verdade. ou melhor, a minha verdade.

é isso.

ouvindo: mutantes

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