sexta-feira, 2 de junho de 2017

joão dória e sua gestão equivocada quanto a cracolândia



gosto de joão dória. é sim, um bom gestor e se gosta de suéteres em volta dos ombros, problema dele. mas o pragmatismo da gestão pela gestão talvez o esteja levando a equívocos que com um pouco mais de humanismo pudessem evitar.

a questão da cracolândia requer muito mais humanismo do que a mera gestão de demolir cortiços e fazer seres humanos parecerem ratos ao correr antes que pedaços de concreto caiam sob suas cabeças e o pior: sem prévio aviso. me parece uma ação de higienização muito mais do que tudo. não existiu preocupação com pessoas que são, antes de mais nada, doentes crônicos que precisam de tratamento, auxílio, enfim, de politicas públicas que olhem para eles não como bichos, mas como dependentes de uma droga que o estado não consegue refrear o trafico e muito menos consegue assistir aos usuários com ações que os ajudem de fato a saírem deste poço sem fundo.

ao expulsar os usuários de crack das imediações do bairro da luz, um lugar extremamente degradado por si só e faze-los perambular pelo entorno e instalarem-se em outras ruas, dória só mudou o problema de localização geográfica. ok, traficantes foram presos, drogas apreendidas mas quem duvida que outros traficantes tomaram o lugar dos que se foram e as drogas apreendidas serão respostas em velocidade relâmpago? midiática e desnecessária a ação apenas aprofundou problemas já enraizados tanto na vida  da cidade quanto no cotidiano dessas pessoas atingidas. e mostrou que o poder público esta se lixando para pessoas com problemas que dependem dele, estado, para ter uma resolução.

mas se por um lado a prefeitura mais uma vez agiu de forma equivocada, a população tampouco se mobilizou para ser parte da solução de um problema que afeta a todos, mesmo aqueles  que longe da área da cracolândia.estão. o grande erro é tratar a cracolândia não como um caso de saúde pública o que de fato ela é, mas como um centro de habitação de desvalidos, vagabundos, pessoas sem força de vontade e sem controle que chafurdam na lama da droga porque querem, não porque em algum momento foram capturados por um vício que se tornou mais forte que eles e os levou a uma espiral de dor e tristeza, a menos que alguém em sã consciência ache mesmo que exista felicidade possível nesta forma degradada de viver. para a população, ou ao menos para a maioria dela, o ideal é que a prefeitura empurre a sujeira para baixo do tapete de forma simples e prática que  fosse possível tratar de forma simples problemas complexos.

ja passei pela cracolândia, ja olhei nos olhos daqueles viciados perdidos e vi que a chama da vida havia se apagado daqueles olhos. vi pessoas que deveriam ter 30, 40 anos, aparentando 50, 60, destruídas pelas drogas, vazias de alma e espirito, vagando a esmo. a rua dino bueno, coração da antiga cracolândia, que agora esta na pça princesa isabel, com as mesmas barracas de drogas a disposição, um grito agudo chamando a atenção para a falha total da ação da prefeitura.

enquanto o foco das ações não for o usuário e enquanto não se encontrarem formas sérias e comprometidas de tratamentos que os humanizem, a cracolândia continuara a  ser a morada de pessoas que por total descaso do estado, mas sobretudo por total indiferença da sociedade e de seus grupos organizados que preferem  ações paliativas quando estas existem, a tomar a frente e fechar uma lacuna deixada pelo estado, não haverá horizonte de mudança possível. o estado deve sim, ser gerido de forma competente e séria, mas não pode ser focado apenas em resultados sejam financeiros, sejam políticos, precisamos de ações que levem em conta a pessoa, o individuo e não a higienização forçada de um espaço. dória, se quer mesmo deixar um legado para a cidade, deveria se concentrar nisto.

é isso.

ouvindo:point of grace


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