sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Eu, que tanto comia



E eu, que tanto comia, e tanto gostava de comer me vejo a algum tempo, dia após dia, sem conseguir finalizar um prato. Algumas garfadas me bastam, e embora eu sinta o sabor do alimento, não sinto o prazer que deveria estar ali e sei que esta, mas me foge. Como para não ficar com fome, não para ter prazer como antes. É um ato obrigatório ter um prato de comida na minha frente. No que estou me tornando?

Comer sempre foi vital para mim. Na verdade, trabalho para comer, porque tenho medo de não ter comida no prato. Sempre foi minha necessidade primeira a comida. Não sei porque, mas em relação a alimentar-me sempre foi assim que me senti. Agora, comer me é algo vulgar, sem graça, tolo, uma frívola obrigação. Se colocarem Beringela no meu prato, vou comer porque agora como apenas para não ter fome.

É estranho porque sempre foi prazer para mim comer até me fartar e talvez até um pouco mais. Confesso, sempre fui guloso, ansioso, dormia pensando no que comer no dia seguinte ao acordar e os dias se passavam sempre com referências a comida bolava lanches maneiros em minha cabeça para fazer quando chegasse em casa, qualquer hora era hora de pizza e frango frito sempre me seduziu. Agora? não obrigado para todas as opções.

Estou lentamente aprendendo que o prazer da vida, seja em que situação for, seja comendo, bebendo, ou qualquer outra situação, tem muito mais a ver com seu estado de espirito do que com a situação em si. Pode parecer um ensinamento bobo, talvez eu ja devesse saber disso, mas confesso que nunca pensei dessa forma. Sempre achei que o prazer estava na situação em si, no ato de fazer o que quer que seja, de viver um bom momento, mas não. Descobri que tudo o que faço, quer seja comer, quer seja o que for, carece de um estado de espirito positivo para valer a pena.

Para que a comida me seja novamente agradável além de puramente um matar minha fome, para que a vida volte a respirar de forma natural, é preciso que mudanças aconteçam. Elas estão em gestação, a bem da verdade, irão acontecer, porque a vida tem que ser vivida e a comida saboreada. Eu, que tanto comia, preciso voltar a comer. Com prazer, com felicidade, com um apetite real. Comida como metáfora da vida é tão clichê... Só mostra como eu escrevo demasiadamente mal mas neste caso é um clichê que se aplica diretamente a mim, então não tinha como fugir.

A vida segue. Comendo muito ou pouco, a vida segue. Eu, que tanto comia, já não como mais coo antes. Que triste.

É isso.

Ouvindo: Felipe Valente

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