quarta-feira, 16 de maio de 2018

Estanislau Sílvio Carnovali. Irmão, Amigo, Cristão Exemplar. O Eterno O Receberá Quando De Sua Volta.



Algumas pessoas influenciaram  a minha vida muito mais do que podem imaginar. Erro meu de nunca ter dito a estas pessoas o quanto foram importantes em minha formação é claro, mas é assim que sou. Facilidade para a escrita dificuldade para verbalizar o que quer que seja. Fazer o que?

Irmão Silvio entra na minha vida mais ou menos no início de minha adolescência na, na IASD Penha, SP igreja onde passei minha juventude. Era o 1° Ancião local, e explicando um pouco sua função, era como se fosse um super zelador do local, com influência em todos os departamentos da comunidade e obviamente, seu líder. Em minha visão, mais importante que o Pastor que fica por tempo determinado e depois parte para outra igreja enquanto o 1° Ancião por lá permanece, (como ancião ou não).

Aos 13 anos eu queria tocar o terror onde quer que fosse. Ia para a igreja vestido como um Judas por mais que minha mãe pedisse que eu me vestisse de forma adequada e comprasse com muito sacrifício o que ela chamava de "roupas de Sábado". Eu as desprezava. Ia do jeito que eu queria apenas para atazanar irmão Sílvio. Descobri que o irmão Sílvio abominava a forma que eu me vestia para ir a igreja e me esmerava para ir o mais zuado possível  aos cultos.

Meu comportamento também não era dos melhores, muito pelo contrário. Fazia de tudo para chamar a atenção, bagunçava o coreto (estou realmente velho pra usar este lastimável termo), era por vezes, muitas vezes desrespeitoso, não tinha de forma alguma uma postura que lembrasse que eu era Cristão, um Cristão Adventista do Sétimo Dia. Tinha prazer em agir dessa forma e sendo absolutamente sincero, achava que o mundo estava errado e eu, certo.

Irmão Sílvio era um homem sério, rígido. Confesso que quando ele chegava perto, eu temia. Ele me dava altas broncas e quando ele falava rápido, começava a gaguejar. Ele também não era unanimidade na igreja, muita gente queria sua substituição e ele foi um 1° Ancião dos mais longevos que já vi. No entanto, Irmão Sílvio não se abatia com as críticas e buscava dar o seu melhor para a igreja que literalmente ajudou a construir.

Até que um dia, quando eu tinha meus 15 anos, ele me chamou para conversar e ele nunca vai saber, mudou grande parte da minha vida. Ele me disse, muitas vezes gaguejando e mais vermelho que jamais o tinha visto que jamais iria brigar comigo novamente. Antes que eu perguntasse porque ele me disse " Você tem potencial para ser o que quiser, aqui, fora daqui, onde for. Você pode ser um líder, mas provavelmente jamais o será porque não quer ser um líder. Ok, eu respeito isso, mas use seus dons, deixe as pessoas saberem quem você é de verdade. Observo  você a anos e você não é esse menino irracional que quer que as pessoas pensem que você é. Você tem muito a oferecer, ofereça" E disse algo que me desmontou e até aquele dia nunca tinha ouvido creiam ou não. "Filho, amo você!" Virou e foi embora.

Fiquei ali, na sala Pastoral da igreja sozinho muito, muito tempo. Sai dali e não tinha vontade de zuar com mais ninguém, de ser inoportuno, nada. Comecei a subir para o culto Divino e assisti-lo com atenção. Um culto na IASD  é divido no estudo da lição semanal, onde somos divididos em classes e o culto divino, onde o Pastor ou algum outro irmão ou Pastor convidado apresenta a palavra. Sempre amei a Escola Sabatina por ser participava e porque era minha chance de impressionar a todos com minhas intervenções tão interessantes quanto vazias mas que sempre chamavam a atenção. No culto, ficava zanzando pelo pátio da igreja já que não iria me pronunciar.

Daquele dia em diante, comecei a assistir os cultos e prestar atenção neles. Comecei a ir para igreja vestido de forma adequada. Quando fui alinhado pela primeira vez, Irmão Silvio saiu de onde estava e foi me dar um abraço. Fiquei com vergonha, mas orgulhoso. Eu agora era amigo do 1° Ancião. As palavras do Irmão Silvio não me impediram infelizmente de cometer diversas burradas em minha vida. Muitás, impossível enumerar as vezes que cometi erros que foram verdadeiros descalabros e minha vida seguiu. No entanto, enquanto frequentei aquela igreja, ao chegar lá a primeira pessoa que procura para trocar um olhar cúmplice era o Irmão Sílvio. Depois de um tempo eu era para ele o Santista e ele para mim o Palmeirense, alias suspeito que o Palmeiras era sua paixão inflamada  e ainda sim era por ele contida com toda elegância.

Depois de adulto, já casado pela primeira vez, (Não por acaso Ross Geller é meu personagem favorito de Friends entendedores entenderão), mudava meu caminho e horários apenas para encontra-lo quase toda manhã na pracinha perto do metrô porque cada vez menos eu ia a Iasd Penha e precisava ver Irmão Sílvio, o Palmeirense, o Italiano bravo que disse que me amava e ali na pracinha sempre trocávamos várias ideias sobre tudo, e ele me apresentava para os velhinhos amigos dele.

Na segunda, estava no trem, voltando para casa e soube de sua morte. Lágrimas rolaram como rolam agora ao escrever este texto. A vida não deveria ser assim. Por mais que tivéssemos perdido total contato, Irmão Sílvio foi uma referência tão forte em minha vida que saber de sua morte me deixou devastado. Silvio Carnovali, o homem que disse que me amava, o Palmeirense, vermelho como um pimentão quando ficava bravo, de uma ternura insuspeita, me deixa saudades. Sei que ele se levantará quando o Eterno o chamar docemente na ocasião de sua volta, e sei que eu também, não estarei nesse grupo para poder revê-lo, mas Irmão Sílvio, também amei você por tudo o que representou em minha vida.

Que Jesus o tome em seus braços, querido irmão Estanislau Sílvio Carnovali

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