domingo, 13 de maio de 2018

Pra Quando Eles Voltarem (Mães São Mães Até Quando Os Filhos Vacilam)



Mães são mães até quando os filhos vacilam. Creio, na verdade, que  nesse momento elas se tornam ainda mais extremadas. Minha mãe, que nunca ligou muito para mim, quando eu fazia alguma cagada muito forte me defendia como uma Leoa pronta pondo para correr quem quer que fosse estando eu certo ou não. Mas hoje, dia das mães, vou falar sobre mães que por circunstâncias da vida eu vi de perto: Mães de presidiários.

Os pais dos presos via de regra os abandonam, as irmãs, irmãos ou tias e tios nem podem visitar, via de regra. As mulheres, ao menos as mais obstinadas, os seguem de prisão em prisão, mas tem motivos diferentes. Seja os filhos que tem com eles, seja porque elas mesmo viraram "mulas" dos maridos algumas poucas porque os amam, elas estão lá, nas filas imensas que circundam os muros dos CDP'S ou Presídios, mas na hora é possível discernir as que são mães e as que são mulheres. As mães são silenciosas, senhoras que aguentam horas de pé na fila, que olham seus "meninos" nos olhos lá dentro e choram, ou se fingem de   fortes para que eles não as vejam chorar. As mães de presos, que em momento algum, salvo em casos pontualíssimos um dia se imaginaram naqueles muros, são mulheres a quem a vida machucou e ainda sim elas continuam a viver e de visita em visita, de humilhação em humilhação, seguem uma rotina que não seria a delas não fossem os filhos que tem.




É fácil julgar essas mulheres e dizer que não educaram seus filhos de forma correta. É fácil dizer que faltou uma boa surra, castigos rígidos, é fácil falar muita coisa, difícil é entender a rotina dessas mulheres que via de regra vem de lugares absolutamente periféricos e que tiveram que desde muito cedo trabalhar de forma ininterrupta para garantir o sustento de seus rebentos e o seu próprio. E nesse ciclo de trabalho interminável, viram seus filhos se perderem ons descaminhos que toda periferia oferece e infelizmente seduz a tantos. Essa mulheres não se importam com julgamentos, não se deixam abater com palavras descabidas e amam seus filhos porque eles são seus filhos e é isso o que as mães fazem, amam a seus filhos, mesmo que a sociedade os odeie e ainda que tenham cometido erros horríveis e elas em seu íntimo saibam bem o que o filho fez. O amor é e sempre será maior.

Para essas mães, que várias vezes vi com as pernas inchadas, com varizes visíveis e horríveis, com o rosto cansado, com o espirito aparentemente derrotado porém com uma dignidade insuspeita, para essas mães eu desejo que se seus filhos voltarem, sejam outras pessoas. Que reconheçam o seu esforço em visita-lo, o dinheiro gasto com o "Jumbo" (que hoje uma matéria do UOL chamou de forma risível de "KIT" KIT? irmão? ta tirando?) Até hoje reconheço essas senhoras nos trens, ônibus, principalmente as Sextas Feiras, com suas bolsas padronizadas cheias de comida, cigarros, calças bege, camisetas brancas e sempre em estado de alerta pois os agentes penitenciários podem simplesmente jogar fora toda a comida feita com tanto carinho e falta de tempo por achar que está de alguma forma com drogas infiltradas. Nessas horas elas olham para baixo e seguram o choro, diferente das mulheres dos presos que vão para o confronto verbal. É Como se pensassem como toda mãe e talvez algumas digam para os seus filhos: Se você não tivesse aprontado, nada disso teria acontecido!

Mas para essas mulheres que merecem elogios e aplausos ao invés dos olhares tortos e muxoxos enviesados, eu desejo que neste dia, o dia delas, elas encontrem a paz que lhes foi, com perdão do trocadilho, roubada. Que o conforto no coração de cada uma delas se instale ainda que por apenas um dia e que seus filhos, muitos reincidentes, se compadeçam de suas mães e por elas tomem juízo. Eu desejo que a sociedade se não quiser acolher, também não humilhe, seja indiferente se for o caso, mas não aponte o dedo  e não dirija palavras que degradam, ofendem, entristecem. Para essas mães, eu desejo que o nosso Pai Eterno tenha um olhar de carinho, uma porção dobrada de amor e que em algum momento as suas marcas possam ser curadas e as cicatrizes, lembretes de tudo o que passaram, lembre também aos seus filhos que tudo foi feito por amor.

Aos que acham que bandido bom é bandido morto, eu lembro que ele também tem uma mãe e ela pode estar ao seu lado quando você proferir tal sentença. Nenhuma mãe sonha ver o filho no mundo do crime e nenhuma mãe tem o condão de devolver a vida que seu filho tirou. Mas ela sofre. Ela gemem de dor em seu quarto a noite porque ela sabe que ourta mãe perdeu o seu filho e mães sabem o tamanho da dor de outra mãe.

Eu desejo a vocês todas, que quando seus filhos saírem, a vida lhes seja outra e que tudo o que se passou fique em um passado distante pois o tempo, tudo cura e que haja tempo para serem mãe e filho novamente e que no dia das mães após a libertação, haja um almoço farto, seja em casa, seja em restaurante, seja onde for, para celebrar o amor, para que a normalidade seja um direito seu também, para que o choro de lugar ao riso e para que este pranto nunca mais volte.

Eu desejo que ao voltar da sua visita hoje, seu coração esteja brando, certo de que esta fazendo o seu melhor. E quando eles voltarem, tudo se faça novo, tudo seja apenas amor. E que o amor não mais se dissipe em meio as sombras da separação.

É isso.

Ouvindo: Racionais MC'S

Nenhum comentário: