domingo, 17 de janeiro de 2016

Meu porto é você.


Sou um barquinho. A vela,  pequeno, sem cobertura, na imensidão de um mar de coisas, situações e intempéries que não sei lidar. Me sinto um miserável homem, não porque isso seja uma  figura de linguagem bonita e auto indulgente, mas porque muitas vezes é assim que me sinto.

Não tive uma criação das melhores, meu lar sempre foram as ruas, meus poucos amigos, hoje percebo que foram os párias com quem convivi em momentos diferentes de minha existência. A amizade é melhor vivenciada por pessoas com pouco a oferecer e pelas que aceitam de coração o que lhes é oferecido independente de valor ou quantidade.

Não ter amigos, ter uma criação deficiente, tudo isso foi e é muito complicado. Meu barco a vela não tem prumo certo, imbica rumo as ondas mais revoltas, se atrai pelos oceanos mais perigosos e de roldão, vou junto, afinal, este barco sou eu mesmo. Não pretendo aqui me desculpar por ser quem e como eu sou, nada disso, mas preciso dizer que você é meu porto.

A alguns anos te conheci e desde então, a felicidade me sorriu. A felicidade é mais presente hoje do que a tristeza. Como diz a canção, depois de tantos desapontamentos, a esperança nasceu. Depois de sofrer com ondas que me afogam, o mar se tornou calmo, o Sol apareceu e embora as vezes ondas perigosas ainda açoitem a embarcação frágil que sou, você me deu um GPS e sei que meu porto é você. E melhor, sei como chegar até você.

Se eu tento escapar de mim mesmo, eu olho para trás  e vejo as luzes do seu porto, que vem diretamente de você e corro de volta. Eu vou em sua direção, atraco e me protejo.  Em seus braços, eu achei o real sentido do viver e embora já entrado em anos, me sinto um menino. Um menino que tem um barquinho pra viajar por onde quiser, mas que sabe agora que pode voltar para você, o meu porto seguro.

Noticias desagradáveis me abalam muito menos agora, eu sei que com você ao meu lado, eu posso lutar e vencer, não apenas lutar e me cansar. Eu cansei de lutar por lutar sabe? Eu sei que eu posso vencer, eu sei que eu posso ao seu lado, fundeado no seu porto, enfrentar o que for preciso e da forma que for preciso enfrentar. Eu sei que todas as minhas náuticas que naveguei sozinho, no escuro, prestes a sossobrar, ficaram para trás. A tempestade pode até vir, e ela vem, sempre vem, mas ancorado a você, a sua calma, ao seu sorriso, a sua forma serena e racional de ver a vida, eu não vou me curvar a nada e nem a ninguém, basta você estar comigo, basta você me fazer feliz, basta eu viver com você e por você.

Eu comprei uma agenda. Pra tentar me organizar, pra tentar ser melhor. Bobeira para a grande maioria das pessoas, uma tarefa hercúlea para mim. Ser organizado, não explodir com tudo e todos, sorrir mais, gritar menos, viver com inteligência e mais que isso com sabedoria, tudo isso só será possível se eu estiver ao seu lado. Ao seu lado, Graziela, meu porto seguro, eu sei que o Sol vai brilhar por pior que tenha sido a tormenta.

Obrigado por ter surgido em minha vida, obrigado por ser quem você é, obrigado por apesar de ser quem eu sou, ainda sim me amar. Eu te amo!

É isso.

Ouvindo: Os Arrais

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Garth Brooks o cara é chato mas é infinitamente legal


Não adianta, Country para mim é J. Cash e tem que estar intimamente ligado ao Gospel como o próprio Cash estava e também Dolly Parton, Kenny Rogers, entre outros. Garth Brooks tem um ou os dois pés no pop. Ok, Cash gravou com Bono, Fiona Apple entre outros mas era Country e não falemos de J. Cash a verdade musical tem que ser reverenciada, nada além disso.

Falo sobre Garth Brooks simplesmente porque ao escrever o post anterior minhas pesquisas me levaram a descobrir algo a seu respeito que me impactou sobre maneira. Garth Brooks, independente de gostar-se ou não de suas músicas é uma pessoa do bem. E como poucas.

Garth Brooks foi convidado a fazer um show aqui, ano passado em Barretos, naquela festa do peão e tals, onde o triunfo do Touro é minha alegria, com renda totalmente revertida para o Hospital do Câncer da cidade. Garth que é um cara muito, mas muito engajado como pude ver depois em vários vídeos que corroboram a tese, não apenas veio fazer o show de graça como pagou, sim, PAGOU, de seu bolso todas as despesas com o transporte de seus músicos, hotel, alimentação e tudo o mais que fosse gasto, ou seja o organizador do evento não gastou um centavo sequer para ter uma das maiores lendas do Country Music do mundo no Brasil fazendo um show ainda que para uma turba, uma malta de imerecedores metidos a besta que com seus chapelões ridículos que dançaram até morrer em um show que não ficou devendo nada  em qualidade aos shows que Garth faz nos EUA.

Brooks é simplesmente o segundo maior vendedor de discos da história nos Estados Unidos. Até agora, vendeu nada menos que 134 milhões de discos, perdendo apenas para os Beatles. Mas o grande detalhe é que ele ficou 15 anos fora dos palcos apenas por querer cuidar dos 3 filhos. 15 anos!!!! E  quando voltou, seu show que seria único, teve que virar 4 com audiência total de 80.000 pessoas em 3 dias.

Para além dos números que sempre me encantam, confesso, para mim o que torna tudo mais incrível na história de Brooks é seu despreendimento, é ser alguém que entende que um artista não é apenas o cara que faz as melhores músicas, mas é também o cara que de forma brilhante mostra a todos os eu papel na sociedade.

Brooks é muito mais que um chato musical para mim  a partir de hoje. É alguém que se fizer um show novamente no Brasil, ainda que seja em Barretos com aquela horda de bobolinos que para lá aflui a cada ano para ver Touros serem subjugados por Asnos, pois é uma pessoa muito, mas muito acima da média. Estou ouvindo uma de suas coletâneas e me parece impossível não gostar das canções que ele entoa não por que elas ficaram bonitas, mas porque a pessoa de Garth Brooks é linda e merecedora de todos os elogios possíveis.

É isso.

Ouvindo: Garth Brooks

Eu assisti "In The Cities" o DVD de Cristiano Araújo


Não sou imbecil, e não vou malhar o DVD do cara de forma generalizada, seria estulto demais da minha parte, então vamos começar pelos pontos positivos.

A produção, é impecável. Sério mesmo, sem traço algum de ironia, vamos dar crédito ao que merece crédito. A produção é um primor.  Claro que não chega perto de uma produção como a de Garth Brooks por exemplo, mas no Brasil, quem ombreia com os gringos em termos de produção? E uso Garth Brooks por motivos óbvios, afinal a sertanejada já o trouxe para Barretos ao menos um par de vezes então ta ali na praia do Cristiano Araujo embora seja difícil definir quem é mais chato. Então, para nossos padrões, a produção de "In The Cities" é nota 11.

Os músicos são do primeiro time. Sim isso é elogiável.  Poderiam tocar com qualquer astro da MPB, ou com cantores que prestam, enfim. estão lá pelo aluguel é claro, mas fazem sua parte com primor. Ninguém atravessa, ninguém erra uma nota sequer, são de ponta, o que não é tão comum no shows desses cantores de sertanejo analfabeto. Os músicos de "In The Cities" são eles também  nota 11.

Esses músicos executam arranjos que estão muito acima da média para o padrão analfabeto do sertanejo universitário. Muito acima. Por mais que as ideias se repitam entre as músicas e os fraseados se pareçam demais, isso acontece em praticamente todo os estilos musicais hoje em dia, então não chega a ser um defeito. Em "In The Cities", os arranjos são 8,50.

O público abre a parte negativa do DVD. Formado basicamente por moçoila cabeças ocas que não conseguem fazer nada além de gritar incessantemente durante todo o show (!!!) inviabilizando qualquer possibilidade de entendimento do que se passa no palco, uma vez que este é grande e deixa mesmo a chamada fila do "gargarejo" razoavelmente longe do cantor. Tentar entender o que quer que seja que se passa durante o show é inútil e bobeira das bravas. O público de "In The Cities" é baixo da crítica, nota 2,00

As Letras.  Há! as letras... Se os arranjos são muito bons as letras do sertanejo universitário certamente são escritas por pessoas com sérias deficiências mentais que não conseguem sair dos seguintes assuntos: "sou corno", "fiz ela de corna", "sou superior a ela que me chutou", "ela me chutou e estou na fossa" "estou na fossa mas me reerguerei" "mulher na balada é tudo puta". sair destes assuntos é receita do fracasso e Cristiano Araújo era um sucesso. Logo... ... Esses assuntos permeiam o DVD.  As letras das músicas de "In The Cities" são nota 1,00

Vocais. São raros os back vocals. Os produtores não sabem escreve-los e preferem não passar vergonha. Uma prudência surpreendente, afinal, eles são em quase tudo desabridos, mas os back vocals quando existem, são obviamente uma piada de extremo mal gosto. Os Back Vocals em "In The Cities" são nota1,00.

Cristiano Araújo. A razão de ser do DVD é logicamente o seu artista, o cantor Cristiano Araújo. Na boa,  a voz do rapaz, sejamos sincero, não é das piores. Antes ele a anta do vocalista do Vanguart que parece uma mulher em trabalho de parto natural não um cantor. Cristiano tinha como grande defeito, claramente orientado pelo seu produtor musical, ser "over". Seja a música que fosse, ele precisava mostrar que "sabia" cantar. Era o Belo do sertanejo universitário, o que o tornava tão chato como o Belo do pagode. Se fosse mais contido, se soltasse a bela voz que tinha nos momentos certos, ao invés de o tempo todo tentar ser mais do que era, poderia ser o primeiro cantor descente de seu ramo de música.

Não sei como evoluiria o trabalho der Cristiano Araújo e de verdade lamento sua morte, posto que era um ser humano e não precisava morrer tão jovem.Creio que continuaria a gravar com músicos brilhantes e cantando como se fosse o último show de sua vida, mas não enchia o saco de nignupém ao menos.

"In The Cities' é um dvd nota 5. Nota curiosa. 'In The Cities", foi gravado em Cuiabá, uma espécie de cú do Brasil, um lugar de gente muito pouco hospitaleira onde comprei um DVD da Patrícia Marx em um shopping ou algo parecido com um shopping e passei dois dias refugiado nele,com o meu Disc Man sem desconectar do ouvido até sair daquele lugar tenebroso.

É isso.

Ouvindo: Pela última vez por vontade própria, Cristiano Araújo.

Você TEM que ouvir Dispô e Magalhães


Pra quem gosta de música bem feita, pra quem gosta de música de verdade, pra quem pensa fazendo uso de mais de 2 neurônios, pra que tem sensibilidade, enfim, pra quem pensa, é imprescindível ouvir  "Imparalelo" o álbum de estréia de Dispô e Magalhães.

Começa com a capa. Um primor. Já começa mostrando que se ouvirá algo original, absolutamente diferente da mesmice crente que permeia a música Cristã brasileira de hoje em dia. O título,  já citado no parágrafo acima, é também de uma inteligência  e delicadeza única.

Assim como são delicados os arranjos, tanto os instrumentais como os vocais. Não entenda por favor, delicado como algo pra se ouvir baixinho, ou mesmo sem sustância. Digo delicado porque creio que tudo que é feito com a alma, com amor, respeitando a inteligência e o bom gosto de quem vai escutar, como é o caso aqui é delicado.

Não é no entanto uma audição fácil. Os arranjos embora delicados são extremamente bem elaborados, as letras, não rimam amor com dor, fogem das estrofes obvias, dos  gracejos vocais sem sentido, nada disso se encontra no álbum dos caras. Quase não chamaria de álbum de música Cristã, mas chamo sim, porque feita é por Cristãos. Embora a temática seja  basicamente romântica, encontro em "Imparalelo" traços do trabalho de Amy Grant, não sentido de ter similaridade musical, nada disso, mas no fato de que nos falta, no Brasil, Cristãos que façam música para Cristãos ouvir sem a obrigação de ser um ato de adoração, apenas uma música agradável, com conteúdo e que não agride aos ouvidos e aos outros sentidos quando escutada.

Mais do que uma dica, é realmente imperativo ouvir Dispô e Magalhães. Recomendo com toda a veemência. Som de gente grande.

É isso.

Ouvindo: Dispô e Magalhães.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

E o camaleão, (David Bowie) se foi...


O mundo anda muito, muito chato. E ficou bem mais, no último Domingo, quando David Bowie, o camaleão, se foi. Raramente me sinto triste quando um artista morre, mas é porque existem poucos artistas no mundo atualmente. David Bowie era um, na mais completa acepção da palavra. Não fazia concessões, fazia arte. Não estava interessado em  agradar, estava interessado em mostrar o que tinha dentro de si, trazer a tona em forma de música e uma música tão elegante, que mesmo sem ser o objetivo principal, sempre agradava. David fará falta.

Em um mundo onde pessoas destrambelhadas como o tal Barreto, da dupla sertaneja com o tal Bruno, canta como um pato de desenho animado e faz sucesso no Brasil todo, raros artistas podem servir de lenitivo contra o mal que nos é inflingido diariamente por pessoas sem a menor capacidade ou mesmo pendor para a arte seja ela qual for e detentoras de um senso estético horrível, quando não absolutamente ausente mas que ainda sim (e talvez exatamente por estes motivos) conseguem fazer sucesso e impor sua horrível "arte" a pessoas de  gosto refinado apenas por estas serem minoria em um planeta cada vez mais idiotizado que demanda espetáculos chulos e da pior espécie em quantidades cada vez maior.

David já seria genial apenas por ter dado ao mundo "Space Oddity" mas fez muito mais que isso. Além de cantor e compositor de mão cheia David também se arriscava (com sucesso) como artista plástico e até como ator de cinema. David tinha também era uma pessoa consciente de seu lugar e importância no mundo e não deixava de se posicionar, sempre com elegância sobre temas de interesse geral, mas suas opiniões jamais eram  vulgares, antes eram opiniões que no mínimo mereciam reflexão por parte dos pensantes deste pálido ponto azul.

Bowie vai deixar saudades nos que admiram a música feita com qualidade e amor. Claro, ele vivia de música e evidentemente tinha um lado comercial em sua canções e isso é desejável, afinal, uma obra hermética não interessa a ninguém além de seu criador, mas Bowie tinha refinamento mesmo em seu lado comercial e o equilibro entre arte e necessidade de venda, sempre permeou de forma positiva sua carreira.

Vanguardista sem ser incompreensível e restrito a poucos, seu estilo sempre foi um retrato fiel da época e que vivia, se reinventando e renovando de forma sempre  constante. David Bowie não deixa discípulos, pois sua arte não é fácil de ser imitada pois esta intrinsecamente ligada a quem ele era como pessoa, então qualquer um que se proponha a ser seu "discípulo" o fará de forma manca, pois personalidade não se copia.

Enfim, morreu a pessoa, nasceu o mito.

É isso.

Ouvindo: David Bowie

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

"Saca La Muerte De Tu Vida" para mim o melhor álbum de 2015


Não gosto de vereditos definitivos mas Esteban, ex baixista da Fresno, (uma das únicas bandas que prestam no cenário atual da música brasileira, fez com que eu me rendesse e tivesse que cravar o seu espetacular "Saca La Muerte De Tu Vida" como melhor álbum de 2015 entre todos os gêneros dos que eu ouvi, é claro.

As músicas contidas neste álbum compostas pelo próprio Esteban, são claramente confessionais e por este motivo são ainda mais fortes, pungentes, falam ao ouvinte sensível (se teu lance é sertanejo universiotário é claro que não vai entender do que estou falando) de forma contundente, algumas são verdadeiros socos abaixo da linha da cintura de tanta melancolia que contém.

Esteban não é um artista que está na grande mídia. Não deve pagar jabá para rádios pois raramente ouço algo seu tocando em qualquer emissora e mesmo assim tem um público cativo que o acompanha e lota seus shows. é um artista da mesma estirpe de Jay Vaquer, embora sua capacidade de emocionar seja maior do que  a de Vaquer que faz um som mais "racional".

Seu álbum é para ser ouvido de uma enfiada só, sem pular músicas. Ele flui, caixa de lenços do lado se faz necessário, pois se seu vocal não é dos melhores, a emoção que dele emana, compensa em muito a falta de virtuose para exprimi-la. Seu público é formado quase que em sua totalidade por adolescentes, mas reputo isso a um certo preconceito para mim injustificável, uma vez que suas canções falam de temas "adultos" em uma abordagem longe de ser vulgar que pode e deve ser absorvida por qualquer faixa etária que se disponha escutar um álbum realmente bem produzido como o seu.

Claro que como qualquer disco, "Saca La Muerte De Tu Vida" tem virtudes e também vícios. No caso, aqui me incomoda o excessivo uso de efeitos, principalmente vocais que além de não mascarar a fragilidade vocal de Esteban, acabam chamando ainda mais a atenção para ela. Claro que este pequeno inconveniente não eclipsa todos as outras qualidades contidas no álbum que o torna absolutamente único no árido cenário musical brasileiro que diga-se de passagem a tempos não tem um cantor que faça jus a este título.

Foi uma escolha difícil para mim uma vez que Emicida também lançou seu álbum, mas para mim, em seu disco Emicida fez concessões demais na ânsia de se tornar "pop". Pode até ter ganho aceitação, mas perdeu em Relevância. Menção também deve ser feita a Crioulo, que só não ganhou o título de melhor álbum porque seu genial "Convoque Seu Buda" foi lançado em Novembro de 2014, mas ainda sim é absolutamente necessário indicar a audição deste maravilhoso trabalho.

Voltando ao trabalho de Esteban, "As Terças Podem Se Inverter" é de longe a melhor música do álbum secundada por "Janeiro". As Terças... é uma daquelas músicas que te fazem sorrir um riso daqueles que significam que a arte ainda não se findou e que ainda existe esperança de que um dia a boa música volte a florescer de forma abundante.

É isso.

Ouvindo: Esteban

domingo, 3 de janeiro de 2016

Eu, Susan Boyle


Primeiro post do ano, vou falar sobre uma das personalidades mais interessantes que eu já vi em minha vida. Susan Boyle. De quando em quando assisto ao vídeo de sua primeira audição no programa que a catapultou para fama para me lembrar quem eu sou, como o mundo é e como tratamos as pessoas.

Susan foi ridicularizada do momento em que seus pés tocaram o palco até o momento em que foi "sabatinada" pelo trio de jurados. Simon Cowell, o cara que mais admiro no show bizz atual pelo conhecimento musical e pela forma de conduzir seus negócios além da capacidade de não rir dos candidatos ( ele prefere destruí-los com  sua fina ironia), começou com suas tiradas a tentar colocar Susan em uma situação enervante. O outro jurado que nunca lembro o nome foi na mesma trilha e Amanda, a doce Amanda manteve a compaixão, sem no entanto deixar o cinismo de lado.

O público ria e se deleitava com a "caipira" Susan Boyle, uma mulher gorda, feia, que aparentava muito mais que os 47 anos declarados e que segundo ela mesma nunca havia namorado e sequer, beijado a boca de um homem. Susan estava ali apenas para satisfazer os instintos mais baixos de uma audiência que seja na Inglaterra, seja no Brasil, sempre está havida a ridicularizar o outro.

Simon perguntou o que ela queria ser e ela sem medo cravou cantora profissional. Uma rápida passagem da câmera pela platéia revelou risos, deboches e tudo mais o que pode haver quando o objetivo é ridicularizar alguém. Susan, inabalável reafirmou seu desejo de cantar, de ser alguém na vida. Sabia que sua chance estava ali. E a agarrou. Um outro jurado, querendo fazer troça, pediu a ela um modelo de cantora bem sucedida que ela gostaria de seguir. Ela disse Elaine Page. Bom, a vida da voltas não? se você acha que não, clica no vídeo aqui em baixo...



Voltando aquele dia, quando ela cantou de forma absolutamente pensada, calculada de forma fria porém brilhante "I Dreamed a Dream" de "Os Miseráveis" a platéia veio a baixo. Colocada no bolso por uma camponesa que escolheu a música para destruir a empáfia de pessoas que jamais conseguirão fazer nada sequer parecido com o que ela fez aquela noite. A música, que fala de sonhos despedaçados, de tentativas frustradas de superação, foi nada menos que um soco na boca do estomago de todos presentes ali. Susan mostrou enfim, a eles e ao mesmo tempo anunciou ao mundo, quem de fato era e o resto, virou história que ainda vem sendo contada.

Duas vezes #1 no Top 200 da Billboard, discos impecáveis o tão sonhado dueto com Elaine Paige (a quem ela mesmo sendo dezenas de vezes mais capaz trata com uma postura de fã que é tocante, jamais soltando toda a sua voz para que Elaine brilhe). E o que mais me toca, é que Susan não foi pega de surpresa com o próprio talento. Sabia exatamente quem era e o que faria com aquela audiência tosca que a recebeu naquela noite.

Susan foi discriminada por ser feia, gorda e parecer mais velha. Susan mostrou que nada disso importa quando primeiramente Deus nos capacita com um dom como o que ela tem. Mostrou também que sim, a espera pode durar 47 anos como no caso dela ou até mais, mas será recompensada caso haja esforço, caso haja vontade de mudar, de dar uma guinada na vida. Susan só tinha a ela mesma e a Deus e isso foi mais que suficiente.

Vejo muita gente diariamente ser ridicularizada por ser pobre, ou feia, ou pobre e feia, e cada vez que vejo discriminação, meu sangue ferve. Susan Boyle no entanto para além de seu sucesso construiu um legado que nos mostra que lutar contra adversidades principalmente contra as adversidades que nos são impostas e não intrínsecas a nossa personalidade vale a pena. Cada lágrima que ela derrubou até chegar onde chegou hoje foi recompensada. Cada risinho torto que lhe foi dirigido, cada muxoxo , cada deboche que lhe foi imposto, cada certeza que outros tinham de seu já evidente fracasso, tudo isso teve que em algum momento virar apenas aplausos de admiração, ainda que vindos de mãos que travavam ante a raiva por ter que reconhecer que Susan é um talento nato.

Aqui, a primeira audição de Susan legendada, para que quem se digne a ver, possa ter total compreensão do quanto ela foi ridicularizada e o quanto isso se virou contra os seus opositores.



É isso.

P.S Nunca em quase 1.200 posts me senti na obrigação de explicar o que escrevi, porque, para quem enfim, aqui é o meu espaço. Mas lendo o título do post agora, sei que ele só faz sentido para mim. então, como não explicarei o porque ele faz sentido para mim, desconsidere se quiser o título e sorva o post que ficou do cacete, eu sei!

Ouvindo: Susan Boyle