sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Uma Chamada de Vídeo Com Minha Mãe (No Aguardo De Um Telefonema)



Fazia muito, muito tempo que não falava com minha mãe vendo a sua face. Fizemos, pois, uma chamada de vídeo, esse lance de tecnologia não é comigo, algo que herdei de minha progenitora e para que ela conseguisse fazer esta chamada, teve que ter ajuda de uma de minhas tias a  tia Jacira. Obrigado, tia.

Minha mãe mora em Naviraí, Mato Grosso do Sul e até onde eu me lembre local de minhas primeiras lembranças familiares. Não nasci lá, mas passei uma temporada na casa de meus avós. Uma cidade quente que eu particularmente não gosto muito, mas minha família se estabeleceu por ali, pela região, ao menos uma parte dela.

Sobre minha mãe entre outras novidades ela descobriu após alguns exames que esta com Cirrose Hepática, uma doença que ela desenvolveu graças a uma vida toda dedicada ao álcool em suas mais variadas apresentações. Não julgo minha mãe, uma vez que não julgo a ninguém e sendo assim seria horrível julgar minha própria progenitora, mas não consigo deixar de sentir pena de sua situação e me entristeço e muito, por este motivo.

Na verdade, sinto pena também de mim, porque sei que os dias de minha mãe estão chegando ao fim e logo chegará o dia em que receberei um telefonema em que isso me será confirmado. Eu não tenho vontade de ir visita-la por mais que eu saiba que devo fazer isso. Não sei se sou egoísta demais mas eu tenho mesmo como eu disse é pena mesmo é de mim nesta história toda. Jamais desvalorizarei os múltiplos esforços que minha mãe empreendeu para minha criação pois sendo Enfermeira por profissão limpou muita privada de casa de playboy por ai para por comida na mesa. Jamais desprezaria isso, pois dava plantão nos hospitais sempre noturnos para ganhar mais e depois durante o dia ia ser doméstica. Me orgulho de seu esforço e digo que o que aprendi de mais forte com a observação diária de minha mãe foi a obstinação pelo trabalho, seja ele qual for, sua paixão por fazer da melhor forma possível ainda que estivesse limpando a casa de alguém.

Saber que minha mãe logo vai morrer me faz muito triste, é claro, mas tenho uma filha para criar, uma família para sustentar e meus clientes não querem saber de minhas desventuras, querem saber do melhor preço possível para adquirir seus imóveis. Nada mais interessa a eles. Eu me sinto só porque embora não julgue ninguém recebo julgamento diários dos mais diversos e isso me acaba. Não, não é um lamento, nem tenho tempo para isso, mas me pego pensando em porque as coisas são assim e se um dia mudarei isso.

Minha criação me fez uma  pessoa extremamente tímida embora não pareça. Tenho dificuldade em ir a casa de pessoas por exemplo, a casa de qualquer pessoa. Sempre acho que no fundo não sou bem vindo. Lembro de minha mãe me levando as casas que ela ia limpar e de uma em específico em que a dona dava ordens expressas para que eu não saísse do ambiente da cozinha e da copa e se fosse usar o banheiro minha mãe tinha que avisar para que as pessoas saíssem do caminho e não me vissem. Talvez por este motivo, não sei, tenho eu extrema dificuldade de ir ao banheiro na casa de quem quer que seja, as vezes minha bexiga quase explode, mas seguro ao máximo.

Aprendi com minha mãe a não ter vergonha de nada se estiver fazendo as coisas de forma honesta. Ela sempre me dizia, não pegue nada de ninguém, mas se precisar, peça. Descobri com o tempo que pedir te faz ser visto de forma menor pelas pessoas, ao menos pela maioria delas. Dá motivos para que elas te ofendam, humilhem e te coloquem no "devido" lugar. Desde que descobri isso corro para ser uma pessoa independente. Nem sempre dá, mas tento. Não tem tempo ruim pra mim. Não tinha tempo ruim para minha mãe.

Hoje entendo que a bebida sempre foi sua válvula de escape e por mais que não aprove a conduta não posso condena-la. Minha mãe foi uma mulher muito bonita, inteligente, eu admirava a sua rapidez de raciocínio, sua espirituosidade e sua disposição em me agradar em pequenas coisas. Quando eu era criança a antiga CMTC a cia de ônibus da cidade tinha umas linhas especiais chamadas de executivo. Por algum motivo que só criança entende eu amava andar naqueles ônibus, me sentia importante mas eles eram muito mais caros que os ônibus normais. Ainda sim, minha mãe sempre dava um jeito de andarmos neles para me agradar e sempre comprava um Diamante Negro para eu comer no bus. Pode parecer bobo, mas sei do esforço que era para ela fazer isso.

Durante quatro anos da minha vida morei entre Moema e a Vila Nova Conceição. Anos de fartura, carros bons, roupas melhores ainda e uma sensação de vazio permanente por achar que eu não pertencia aqueles locais. Ia a restaurantes em que a comida não me descia legal porque tinha vergonha de estar ali. Ainda hoje quando passo pela região me pergunto o porque de ter ficado  tanto tempo. Lembro que levei minha mãe um dia para conhecer meu apê e ela sentiu-se também desconfortável porque simples como era achava o bairro opressivo demais para ela. Como pode esse lance de traços genéticos né? A mesma sensação que ela me relatou eu sentia. A mesma!

É difícil saber que sua mãe vai morrer. Claro, todos morremos, mas quando digo que  sinto pena dela é porque eu sei que ela como eu jamais ia querer este sentimento mas simplesmente não consigo deixar de senti-lo. Admiro todo o seu esforço mas a visão que tive de minha mãe, magra, com alguns dentes faltando, falando com dificuldade e com aquele estado de semi embriaguez característico me abalou profundamente. No caminho entre minha casa e o plantão de vendas só consigo pensar ultimamente na vida e em suas injustiças. Minha mãe trabalhou anos, talvez os melhores de sua vida em um hospital na Zona Leste de SP. Ela amava aquele lugar  e sempre que pediam dobrava plantões, fazia o que fosse preciso. Os donos esconderam  que o local estava para falir e minha mãe após mais de 15 anos lá saiu sem rescisão, fundo de garantia, nada! Uma lástima! Acho que até eu que repudio o álcool teria bebido até cair. O que ela fez?  foi procurar outro hospital para trabalhar. Arranjou dois e largou as faxinas.

Mais uma vez a vida fez uma intersecção entre a história dela e a minha. A empresa que mais me empenhei, onde trabalhei com afinco e afeto me tratou como lixo, como se eu fosse ninguém. Para minha alegria estou em uma melhor, muito melhor, mas a mágoa é difícil de dissipar. Sei que minha mãe carrega muitas mágoas também e conforme eu  ia falando com ela e vendo sua expressão eu pude perceber que a vida não lhe sorriu.

O mais importante de tudo foi perceber que amo minha mãe profundamente e sou grato a ela por tudo o que fez por mim. Não importa os erros que ela possa ter cometido, se na minha percepção ela amou mais a minha irmã Fernanda que a minha e minha irmã Amélia, nada disso. Minha mãe guerreou por mim, por nós e se fraquejou em sua vida pessoal, não é de minha conta, ainda que tenha me afetado em certa medida, eu só posso ama-la e honrar o seu sacrifício e suor derramado.

Por mais triste que esta conversa tenha me deixado, me lembrou muito de quem eu sou e quem minha mãe é e o que representa para mim. Meus medos, de como ela me abraçava, minha mãe não contava histórias pra eu dormir, mas me dava livros. Muitos livros e graças a ela aos 5 anos eu já sabia ler e escrever. Ela não podai ter feito nada melhor por mim do que isto. Me alfabetizar e me mostrar o mundo das letras onde tudo é possível e a imaginação voa.

Saber que em breve receberei um telefonema anunciando que minha mãe se foi me causa uma dor imensa porém a vida vai seguir e talvez até eu me vá antes, porque não? De qualquer forma, devo prosseguir, com minhas lutas aprendendo com derrotas e vitórias que virão. A vida, é assim,

É isso.

Ouvindo: Pentatonix


domingo, 18 de fevereiro de 2018

Goste de Mim, Não Goste De Mim Apenas Não Seja Hipócrita



Não me diga que eu tenho um bom coração, eu sei disso, o coração é meu e sei os parâmetros que diferem uma pessoa boa de uma não tão boa ou uma pessoa má. E eu sou bom, do bem. Então, não diga que goste de mim porque minha conduta é a de qualquer ser humano minimamente consciente. Chega a ser risível as pessoas acharem que elogiar o que é óbvio as torna mais legais.

Não goste de mim nos momentos em que fiz vendas muito boas e estou com o bolso cheio. Isso nunca me definiu e nunca me definirá. Tenho asco a dinheiro e atribuo a ele o valor que ele tem: Só serve para ajudar pessoas e tornar a vida de todos melhor. Dinheiro acumulado me da preguiça, dinheiro ostentado, ânsia. Foda-se você e sua grana no banco, ela não me convence de nada e não puxarei o seu saco porque você, me empresta pra eu limpar a bunda se eu não tiver papel higiênico?

Não me faça pensar que sou bem vindo em sua casa, em sua vida, pelo que tenho e não pelo que sou. Primeiro porque não tenho nada, uns poucos cd´s (to velho e ultrapassado) alguns livros e minhas velhas roupas. Mas mais importante e honesto seria não me receber em sua casa, em sua vida mesmo se não ter nada conta pontos negativos a meu respeito.  Eu não quero patrimônio. Eu quero abraços e beijos e amizades sinceras e que você se lembre de mim em um dia de Sol porque eu te sorri e em um dia de chuva porque choramos juntos em alguma aflição. De resto, um dia eu vou morrer mesmo, e se eu tiver alguma coisa, deixo pra minha filha, que pensa como eu e talvez venda pra dar uma festa de arromba pra comemorar meu descanso. Eu apoio integralmente.

Não goste de mim porque pessoas que você tem real apreço gosta. Continue gostando da pessoa, apenas isso. Entenda que ela é ela e eu sou eu. Que talvez ela tenha visto em mim, algo que você não capturou, mas isso não a faz melhor que você e nem mais esperta, só atesta que vocês em alguns pontos veem o mundo de forma  diferente e não há mérito ou demérito algum nisso. Alias, procuramos mérito e demérito em tudo e isso não é exatamente uma boa coisa.

No entanto, goste de mim se meu TDHA que me faz tão muito louco aos olhos de tantas pessoas não te incomoda. Goste de mim se minha intensidade não te faz querer sair correndo, se meu jeito desbocado de falar o que acho não te incomoda ao ponto de deixar de gostar. Goste de mim se é capaz de entender minhas bad trips se consegue ficar ao meu lado durante elas.  Goste de mim se eu errar mais que acertar para você for tolerável, se minhas palavras duras puderam ser esquecidas como eu as esqueço. Goste de mim se entender que eu dizer que não goste de algo que você gosta se limita a isso: não gostar de algo que você gosta, não de você. Goste de mim se minha pluralidade não te incomodar. GAoste de mim, afinal de contas, porque tenho qualidades que embora diminutas são envoltas em uma lealdade canina a quem gosto e principalmente porque gosto de quem gosto de graça, não por nenhum outro motivo além da empatia desperta.

Não gostar de mim afinal e um direito de qualquer pessoa e não contesto isso de forma alguma. Cada um gosta de quem e do que quiser. Sou protestante e não odeio Schubert por ter escrito "Ave Maria", ao contrário, crenças a parte choro copiosamente quando a escuto, a não ser que seja o cegueta malandro cantando,(Andrea Bocceli. o 171 da canção), mas voltando, não gostar de mim é direito e deve ser exercido. Mas não peço muito  quando digo para não ser hipócrita comigo. Não haja como se gostasse na minha frente se depois em minhas costas, vai me apunhalar. Não diga que sou legal, se depois, com outras pessoas vai dizer que sou chato, que incomodo, que não tenho modos, que não sou uma pessoa legal de se conviver. Diga para mim, terá meu respeito, não minha raiva, pode ter certeza.

Mas se diz isso para outras pessoas e para mim fala o oposto, me magoa, me a tira em um abismo escuro e estreito onde eu me ponho a pensar porque dizer o que se pensa é tão difícil e porque ser político é tão fácil para alguns. Saiba que quando eu descubro que falaste mal de mim tendo me elogiado antes, é como um tiro que não me mata, mas me fere profundamente, mas se já falas que não gostas de mim, eu fico em paz, porque  existem pessoas que gostam e é isso que importa. Não deixo de respeitar quem não me quer bem, mas deixo de respeitar o hipócrita, o que finge, o que fala bem de mim pra ficar bem com outro(a), porque o que eu disse é tão brilhante ou contundente que não tem como rebater. Não rebate, fica em silêncio, simples.

Quer goste de mim, quer não goste de mim, saiba que o pior a fazer é ser hipócrita. E por mais que isso possa soar idiota, você não gostar de mim, não fará automaticamente eu não gostar de você porque minha opinião a seu respeito não é pautada pela sua em relação a mim.

É isso.

Ouvindo: Maria Callas

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Ontem Encontrei Rafaela



Ontem, voltando para casa, encontrei Rafaela. Não foi combinado, foi o acaso que nos colocou na mesma estação de trem no mesmo horário. Estávamos a dias sem nos ver mas seus olhos brilharam ao cruzar com os meus. Sua atitude respeitosa ao vir me cumprimentar, sua timidez habitual, (sim, ela herdou a minha timidez também entre tantos outros traços),  sua voz baixa, eu estava com saudades de tudo isso. Muita saudade.

Me apresentou o namorado e parece que gosta dele. Rapaz de poucas palavras para comigo o que é natural, afinal o que teria ele para falar comigo? Chamei Rafaela de lado e conversamos um pouco. Ela continua a mesma menina linda, agora com uma mecha rosa no cabelo que me desagrada muito. Mas hoje percebo que é o cabelo dela e não posso mais gerencia-lo. Fez também 4 tatuagens, todas pequenas e delicadas e surpreendentemente bem feitas. Não, não aprovo, mas isso não importa para ela. Ela fez e esta toda prosa por ter feito. Ok, filha, se fez e te faz feliz, tudo certo.

Ela não e mais a minha menininha, mas vai sempre ser a minha menininha, como isso é louco não? Eu não posso segura-la agora, ela vai viver suas experiências, para o bem e para o mal e me resta estar ao lado dela, como sempre estarei. Minha filha, a única coisa boa que saiu de mim, o único feito que me orgulho, uma pessoa muito melhor que eu mesmo, mais inteligente inclusive esta tomando decisões. Vivendo a sua vida e vai errar e acertar, vai ser feliz.

Seu telefone tinha quebrado e ela gostava tanto dele... Incrível como sem me consultar fez algo que eu faria, vendeu o violino,  encostado no canto do quarto dela, gritando para  não ser abandonado pelo óbvio talento que ela possui para toca-lo, mas ainda sim ignorado até então e arrumou o violão. Eu faria o mesmo porque o violino não interessa mais para ela que não deve ser escrava de seus talentos afinal de contas. Se não gsta mais de tocar, que não toque. Esta feliz com o telefone. Isso basta

Me pediu desculpas por nossa última briga coo se precisasse pedir desculpas para ser desculpada. Minha garotinha esta buscando seu caminho e percebo isso. Sei que vou me orgulhar do ser que ela vai se tornar, sei que em meio aos erros que ela comete existe uma menina doce, que aceta muito também e tem um bom coração, é uma pessoa do bem. Ser pai de Rafaela é algo que me faz feliz. Ver a minha filha começar a caminhar, ser melhor do que eu mesmo jamais serei me enche de alegria o coração.

Daqui a exatos cinco meses ela faz 18 anos. 18 anos! que alegria, mas ela poderia ter parado nos 15, quando ainda usava o cabelo comprido a meu pedido e era a minha Rafaela. Hoje, ela é a Rafaela, mas sempre estarei aso seu lado, apoiando e se precisar estarei na frente abrindo caminho e se precisar estarei atrás, dando retaguarda.

Te amo, filha e te amo tanto e tanto te amo que não saberia mensurar a quantidade desse amor. Por você, mato e morro.

É isso

Ouvindo: P.C Baruk

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

De Tudo, Um Tanto



Porque não da para ter de tudo o inteiro das coisas, eu quero então de tudo, um tanto. Um tanto do amor. Na verdade, do amor eu quero um tantão, quase tudo,  eu quero viver o amor intensa e loucamente todos os dias porque o amor é isso: A liga da vida, sem amor a vida não é vida, é tentativa. Dele, eu quero um tanto maior que qualquer outro tanto de qualquer outra coisa. Só o amor pode redimir quem e o que eu sou. Só o amor vale a pena.

Eu não quero um tanto faz ou tanto fez. Eu quero um tanto quanto. Um tanto que não seja  quantitativo apenas, mas sobretudo qualitativo. Eu quero um tanto da sabedoria que há no mundo, para poder espalha-la entre as pessoas, não para usa-la apenas para mim. Eu, que nada sei, quero saber o tanto quanto me for possível saber sobre os mistérios do mundo. Sobre o mundo dos mistérios, eu também quero saber e quero chegar ao fim da minha vida e como Sócrates (o filósofo, não o craque) dizendo que tudo o que sei, é que nada sei, porque a sabedoria é um tanto quanto hetéria demais para se guardar.

Um tanto de dor eu quero também. Para saber como ela funciona e como eu funciono quando a sinto. A dor me mantém integro, me mostra que sou mortal, que sou normal, que vou sofrer, que vou morrer e que um dia desses eu vou chorar. E vou chorar porque vai doer, seja lá o que for, vai doer e esse tanto de dor vai me fazer no futuro mais forte não para que doa menos mais adiante, mas para que eu aguente a dor maior se ela vier. Eu quero um tanto de dor pra olhar para ela quando ela se for e poder dizer que me recompus, que recomecei, que me mantive vivo. Ao menos até eu morrer.

Da alegria eu quero um tanto que contraponha os tantos de tristeza que já tive. A tristeza que me persegue como uma música de Cícero, bela e dolorida. A tristeza que insiste em ser, ainda que eu não queira que ela seja, que ela me tome. Mas ela me toma então eu preciso desse tanto de alegria que me mostre que sim, a vida tem caminhos floridos e caminha-los muitas vezes é escolha assim como trafegar pelas pedras também o é. Da alegria, quimera em minha vida, (tanto o monstro quanto a combinação sem sentido de sentimentos) eu quero apenas que me contraponha e me mantenha de pé, nada além desse tanto.

Da vida, que projetada para ser eterna foi, temos apenas um tanto. Alguns mais, outros menos. Mas o tanto de vida que temos deveria ao menos no meu caso ser apenas um tanto mais sublime do que é. Esse tanto de amargura que se confunde com um tanto de esperança deveria ser diluído em doses homeopática, não vir em doses cavalares. Na vida, me falta um tanto de tudo, por este motivo, eu quero de tudo, um tanto.

É isso

Ouvindo: Cicero

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Meu Celular Quebrou e o Que isso Me ensinou



Sou corretor de imóveis. Posso ficar sem muitas coisas, mas sem celular, não. Uso meu celular para três coisas: Fazer ligações, ouvir música (muita música) e aplicativos de conversa, Messenger, Whats (nunca me verão falando ou escrevendo Zap, derrota total para mim isso). Mas ai, exatamente na véspera de Natal, meu telefone quebrou. Quebrou? Como assim? Assim. Simplesmente quebrou.

Levei na assistência técnica da Aplle aqui em Alphaville, não, não levei, em Iplace, Iarrumo, IeumanjodeIphone, nada disso, Levei na autorizada da empresa. Como fui atendido? HAHAHAHAHAHAHAHA!!!!!! A atendente me garantiu que o problema é na antena interna de recepção e que não tinha sido causado por mau uso, por uma avaria de algum tombo que o telefone tenha levado, nada disso. Ela simplesmente me disse que acontece, quebra mesmo e não tem como arrumar. Ou melhor, tem como arrumar sim: Pagar 1.500,00 dinheiros brasileiros e pegar um telefone novo. Claro que ri da cara dela, dei meia volta e fui embora.

Não contente, porque sou um trouxa daqueles que quer ser feito de trouxa duas, três vezes, decidi levar o celular a loja da Aplle no Morumbi Shopping. Como definir a loja? Festa estranha com gente esquisita. O vendedor/atendente me disse com pequenas variações a mesma coisa da atendente. Fato é que meu celular tem dois anos e não tem mais garantia. Consigo entender que não me deem outro aparelho se eu voluntariamente quebrar o aparelho, mas quando eles mesmo admitem que a culpa não foi minha, fico pasmado. Aplle agora, só se for pra fazer uma performance pública de destruição de aparelhos da marca, fora isso, nem de graça. E quando falo nem de graça, é nem de graça mesmo. Se me derem um, vendo e compro outra marca.

Mas o que me ensinou a quebra do meu aparelho, que por sinal ainda esta quebrado funcionando apenas como receptor de Whats quando estou em um ambiente Wi Fi (o que é uma grande ironia, pois meu plano de telefonia tem 10.000 minutos e 10g de internet.) é que a vida não é feita e nem pode ser levada como se fosse feita de certezas absolutas. E em relação ao meu telefone eu tinha algumas certezas que para mim eram mais que absolutas e caíram por terra.

1. Se eu não estivesse com meu telefone do lado, seria exatamente o momento que algum cliente me ligaria e eu perderia uma venda. Mentira. Hoje ninguém consegue me ligar e eu não ligo para ninguém, mas o whats das 8:00 as 18:00 tem resolvido bem meus contatos profissionais. Não existiram até o momento, cliente me ligando desesperados as 22: em busca de um imóvel. Perdi algum contato neste sentido? Um ou outro com certeza, mas a vida continua fluindo e não morri por não falar com as pessoas. Na verdade me sinto mais leve falando menos ao telefone.

2. Whats, não existe vida fora dele. Existe sim! Não falo a noite com mais ninguém e continuo vivo e são. O que existe na verdade é um ganho de qualidade absurdo no meu tempo. A noite, conversas nem sempre são as mais produtivas, as respostas sempre são baseadas em uma mente que já esta cansada de raciocinar o dia todo e no meu caso ao menos não tem a mesma objetividade. Quem  quer falar com você, ou melhor, quem precisa falar com você, fala em outro horário, com toda certeza.

Assim que eu conseguir comprar um outro aparelho pretendo continuar a usar o telefone e o Whats com moderação. Não preciso estar colado o tempo todo ao aparelho e conversas mais objetivas e curtas são sem dúvida muito mais produtivas que longos tratados sobre o nada que muitas vezes eu escrevi. Não, o telefone celular não é uma extensão do meu corpo e nem deve ser. A Aplle, como qualquer outra empresa tem práticas deploráveis que visam apenas o lucro.  Quanto a música, há que falta ela me faz no celular! Quanta falta ela me faz!!! Preciso vender logo pra comprar um celular.

É isso.

Ouvindo: Rita Lee

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Conversa Com Meu Pai. (Está Mais Para Um Monólogo)



Pai, como você está? Tudo bem? Minha mulher estava comentando comigo sore uma prima dela que escreveu um depoimento para o pai dela que morreu. Ela contava sobre ter se formado, aprendido a dirigir, coisas do tipo. Eu fiquei com isso na cabeça por dias, sabe? Mas não falei nada para ela e nem para ninguém porque dividir minhas emoções é algo que não sei fazer muito bem. Mas resolvi te escrever e espero que não se importe caso um dia ache este  blog e me reconheça como seu filho.

Bom, eu tenho 45 anos e estou vivo até aqui. Vou te confessar que não foi fácil Você nunca deu as caras e minha mãe era alcoólatra, ou seja, tive meio que me virar no mundo. Bom, eu fico pensando que se eu fosse mulher em um internato religioso e tivesse ficado grávida de alguém que fugiu eu também ficaria desgostoso da vida. Não sei se ao ponto de me tornar um bebum, mas vamos lá, sua atitude não foi das mais legais né? Enfim, eu me virei e venho me virando e não tenho tempo nem para pegar Febre Amarela nesses tempos de epidemia na minha cidade, quanto mais de ficar me lamentando por seu ligeiro sumiço.

Eu me tornei corretor de imóveis depois de fazer muitas outras coisas na vida que de uma forma ou de outra sempre estiveram ligadas a venda. Sou um vendedor nato. Você se orgulharia disso se me conhecesse? Espero que sim. Minha mãe te conheceu enquanto cursavam o Segundo Grau. Confesso a você que não estudei tanto assim. Na verdade, nem completei a quarta série primária. Eu queria aprender, não ser doutrinado e minha mãe, sempre com uns gorós a mais na cabeça não se importou com minha decisão. Fui viver minha vida. Fiz bem? Na verdade acho que  você esta pouco se fodendo com isso, caso contrário teria me procurado né?

Tive uma filha. Ela é linda, chama-se Rafaela e tem 17 anos. Você teria orgulho dela, Pai. Uma menina encantadora. Tão encantadora quanto difícil sabe? Ela é minha xerox emocional saca? Será que puxei algo a você? Do que conheço minha mãe, sou a xeros emocional ela, mas devo ter traços seus não acha? Esse negócio de paternidade é algo engraçado porque a gente se reconhece nos filhos sabe? Coisas que você nem imagina, nem falou com seus filhos e eles gostam tanto quanto você. A Rafaela por exemplo ama comprar roupas em brechó e eu simplesmente o fascinação por brechós desde sempre. Hoje mesmo estou usando uma camisa comprada em um enquanto escrevo. é bem louco isso porque eu nunca disse a ela, "olha, eu gosto de brechó, vai em um que você vai gostar também" Ela simplesmente  gosta, assim como gosta de ler, de pensar com a própria cabeça, enfim, minha clonezinha linda.

Pai, eu sou um cara feio. Digo de aparência mesmo, mas todos com quem falei e te conheceram fazem questão de dizer que você era um cara lindo. Será que nesse quesito eu te envergonharia? Ou como eu você não ligaria para isso? Somos pai e filho, mas não temos que pensar igual em tudo né? Cara, eu vou te confessar uma coisa, quando a Rafa nasceu eu queria ter contado para você na mesma hora. Foi o momento de maior orgulho em mina vida, quando eu fui mais feliz e pleno e não pude dividir com você. Uma pena. Mas vida que segue.

Pai, eu amo Opera! Amo! Será que você gosta também? Eu li, pai, mais de 3.000 livros, que eu me lembre e tenha catalogado. Isso é motivo de se orgulhar ou você me diria simplesmente " grande bosta!" Torço para o Santos. Você gosta de futebol? Eu gostei mais, confesso, mas virei um viciado em Futebol Americano. Será que você Curte. Eu curto séries americanas também. Minhas preferidas de todos os tempos por ordem de amor a elas são Friends, The West Wing e Criminal Minds, sendo que esta última tem uns episódios tão grotescos quanto emocionantes  e muitas vezes seguro o choro porque ela arrebenta com minhas emoções.

Pai, me tornei Adventista do Sétimo Dia. Você ainda é? Será que foi mesmo algum dia ou só estudava no internato por imposição de seus pais? Tanto faz para mim, porque hoje não sou mais Adventista, pai. Alias, entre minhas muitas confusões eu me sinto tanto um alguns dias e em outros eu sou quase ateu. Coisa louca né?

Pai, pra finalizar, como eu te disse, eu tenho 45 anos. Mas sempre que penso em você, volto a ser criança. Uma criança que precisa da aprovação do pai sabe? Pra tudo mesmo. Se um dia você por acaso ler este texto, seja a que tempo for, e achar que eu mereço conhece-lo, não se furte a oportunidade. Porque sabe de uma coisa? Eu trocaria muito do pouco que tenho pela oportunidade de ter uma conversinha com você de cinco minutos. Só para entender o porque de você me abandonar. Isso me gerou cicatrizes que você nem imagina. Eu queria saber se por acaso não foi um mal entendido, você pode ter sido sequestrado pelo Mossad, abduzido por Et´s e quem sabe, você tenha alguma espécie se não de amor, de um simples gostar um sentimento pequeno mesmo de consideração por mim. Isso já me bastaria sabe? Eu amo minha filha mais do que eu amo a minha vida mas não te peço isso. Peço apenas que goste um pouquinho de mim e já ta bom pra caramba.

Pai, eu vivo essa dúvida todos os dias de minha vida. Será que  você tem alguma afeição por mim? Morrer sem saber  seria muito triste, mas quero que saiba que mesmo sem te conhecer eu te amo, porque é isso que filhos devem fazer, amar seus pais. Há! na verdade, pelo gosto de minha mãe, eu me chamaria Dario, mas minha madrinha não deixou e escolheu Davi, que significa, "o amado" Poderia ser por você?

É isso

Ouvindo: Maria Callas

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

A Menina No Ônibus Lendo Capitães Da Areia



Steve Green é um dos maiores embustes da música Cristã Contemporânea. Faz sempre os mesmo discos com a mesma estrutura, as musicas são todas iguais, enfim, uma chatice acachapante. No entanto, toda a mesmice de Green não o impediu de lançar uma pequena obra prima chamada "The Mission". Um único álbum que presta e pronto, nada mais, nada além.

Jorge Amado foi um  escritor Brasileiro que só sabia falar sobre a Bahia. Não seria algo ruim se soubesse fazer isso de diferentes formas, se cada livro seu fosse um deleite e não uma chatice sem fim. No entanto em um país onde as pessoas são pouco afeitas a leitura, Amado virou gênio. (Há se as pessoas conhecessem o outro Jorge, o Luís Borges, o Argentino, dai saberiam o que é ótima literatura, literatura para deleite de alma e coração. Mas verdade seja dita, Jorge Amado assim como Steve Green escreveu uma pequena obra prima. A dele, chama-se Capitães Da Areia.

Não que seja o livro definitivo da vida de qualquer pessoa, mas tem lá as suas qualidades, uma narrativa palatável e personagens memoráveis.Um bom livro no  frigir dos ovos.

Hoje, vindo para o trabalho no ônibus flagrei uma menina, uma adolescente  ou pouco mais que isso lendo Capitães da Areia. Fiquei arrepiado e feliz. Para mim, foi como ver uma flor em meio a pedras e areia, resistindo bravamente em ser bela mesmo sem chuva. Olhei para os lados, todas as pessoas com seus celulares algumas com fones, outras sem, mas todas com seus celulares no whats  (o dia que eu chamar de zap, meu próximo passo será suicidar-me) ou no facebook, vendo memes tolos e sem sentido ou conversando conversas em sua maioria frívolas e sem necessidade. Ver a menina ali, compenetrada, lendo Capitães da Areia me fez ver que nem tudo esta perdido em um mundo que esta perdido.

Exagero meu? De forma alguma! A única forma possível para se livrar da ignorância é a leitura. A leitura redime seja a que tempo for todo e qualquer traço de estupidez, nos livra de pensamentos pequenos porque expande exatamente a forma de pensar e se relacionar com o mundo e sua sutilezas. A leitura  te mostra que pessoas pensam diferente de você e isso não é mal, te mostra pontos de vista até então desconhecidos, te conta histórias admiráveis e emocionantes, leva a países que talvez você nunca vá colocar os seus pés ou mesmo te leva até o cais do porto das praias baianas para conhecer Pedro Bala e sua trupe. A leitura liberta, enriquece e enriquece com algo que o dinheiro jamais te dará, o conhecimento.

Eu fiquei feliz ao ver a menina no ônibus lendo Capitães da Areia e naquele momento minhas pretensões de crítico literário se esvaíram e pude louvar a Jorge Amado por ter escrito tal livro e ele estar hoje nas mãos de uma completa desconhecida que ao findar a sua leitura e eu a flagrei exatamente lendo a passagem em que Dora, se torna esposa de Bala, o ápice emocional do livro, não será a mesma pessoa de antes pois terá acrescido a sua base de conhecimento as aventuras de crianças e jovens baianos que emocionam gerações de leitores.

Claro que espero que esta moça continue a ler e leia cada vez mais literatura com sustância e conteúdo transformador mas espero sobretudo que cada vez mais pessoas consigam descobrir a beleza de ler um livro, a fantástica experiência de ter um autor falando com você através de suas palavras e te levando a reflexões impensadas até então. Ler, transforma. Podem apostar.

É isso

Ouvindo: Steve Green