sexta-feira, 15 de junho de 2018

A Argentina Agora é "Pro Choice"



Aborto, abortar, tirar uma vida, assassinato? Será assim mesmo? Isso é assim? Para alguns, sim, para outros, não, para o PDSB, "veja bem, talvez, por que não? Acho que sim". Começo o post com um certo ar de deboche porque o assunto é pesado, embora seja bem claro para mim. Sou contra o aborto, mas totalmente  favorável a sua legalização. Aplaudo a Argentina e seus deputados corajosos e seu presidente que em caso de o projeto passar no Senado prometeu não veta-lo.

Hipócrita eu? Nem pensar! Hipócrita é quem defende a proibição do aborto quando ele é feito nas mais respeitáveis clínicas Brasil a fora que recebem as ricas jovens que podem pagar por ele enquanto as jovens pobres e desassistidas morem em pocilgas nas mãos de aborteiros de quinta que nem médicos são e tomam o pouco dinheiro que elas tem e quase sempre suas vidas. Onde estão as pastorais, os evangélicos, os hipócritas de plantão que gritam contra o aborto nesta hora? Os que batem no peito e dizem ser "Pro Life" e assistem confortavelmente jovens morrerem sem auxílio algum na mão de verdadeiros assassinos apenas para manterem intactos suas respeitáveis reputações.

Não, aborto não é contraceptivo e tem que ser muito imbecilzinho pra achar que quem defende a escolha das mulheres o vê dessa forma. Não defendo a teoria de que fetos sejam descartáveis que a vida em si seja descartável ao ponto de concebe-la e em não querendo leva-la a frente  aborte-se sem dó e piedade, longe disso. Tacanho, mesquinho e desprovido de sensibilidade quem pensa assim posto que não é disso que se trata.

Mas trata-se sim, de salvar vidas de meninas desesperadas, de mulheres angustiadas que seja pelo motivo que for e não cabe aqui julgar, se veem tão desesperadas que recorrem a chá de mamona, agulhas de crochê ou tricô, sei lá, remédios vendidos pela internet e proibidos pela Anvisa por perigosos que são e ou morrem ou levam para o resto da vida o trauma de uma quase morte além da morte de seu feto.

Fácil para homens e mulheres bem nascidos e com gordas contas bancárias e padrões morais supostamente rígidos e normalmente pouco afeitos a ver além de seus narizes bradarem sobre o aborto e quem os pratica como assassinos e assassinas irresponsáveis e sem coração. Convido pessoas assim a darem uma volta nas favelas das grandes cidades e conhecer a realidade de meninas de 12, 13 anos forçadas a prostituição muitas vezes pela própria família. Dirão muitos que elas pode  ter seus filhos e darem para a adoção ou coisa que o valha. Solução simplista que não leva em conta uma série de fatores.

De qualquer forma se pudesse dar um conselho para qualquer mulher que pensa em abortar seria: Não aborte! Mas além disso, o que eu ou qualquer pessoa de bom senso pode fazer? Legislar sobre a vida alheia? Claro que não. Leis tem que contemplar crentes, ateus, macumbeiros, muçulmanos e todos os grupos que existem em uma sociedade, caso contrário uma lei, qualquer que seja ela causará exclusão e preconceito. A melhor forma de se mostrar contra o aborto é não o pratica-lo e a melhor forma de se mostrar cristão é apoiando quem o praticou, não julgando a pessoa e usando de nossas rotas e podres justiças para julga-las  e condena-las.

Fácil julgar e proferir julgamento, difícil ajudar verdadeiramente. A questão do aborto jamais terá respostas fáceis e exatamente por este motivo se você não tem o que dizer, fiquei quieto. Só um desalmado acha que é fácil abortar e só uma desalmada serial transforma o ato de abortar em algo simples. Que Deus, a minha crença e fortaleza perdoe a todas as que decidiram seguir este caminho sem volta e perdoe também os que acham que chutar cachorro morto (péssimo trocadilho) é fácil e oportuno.

 Não é e nunca será.

É isso

Ouvindo: Heritage Singers

domingo, 10 de junho de 2018

RIP Maria Esther Bueno, A Grande Bailarina do Tênis.




Maria Esther  Bueno, muito mais que uma simples tenista foi uma mulher a frente de seu tempo. Em um mundo onde o dinheiro manda a tecnologia fez do mundo uma imensa aldeia e o que se faz aqui, pode ser transmitido em tempo real para o Alaska, é quase impossível mensurar o tamanho dos feitos de Maria Esther porque foram realizados em um mundo completamente oposto ao nosso.

Apenas Jornais e Rádios noticiavam os feitos de Maria e para um público restrito, pois o Tênis ainda hoje é um esporte de elite no Brasil infelizmente. Se hoje, ainda é, imaginem nas décadas de 50/60/70 principalmente nas duas primeiras, quando ela brilhou? Maria nunca teve apoio da maquina estatal para dar a real dimensão de seus feitos, nunca teve propaganda para si e o resultado disso é ver o mundo reverenciando Maria e o Brasil com um ar blasé, desinteressado mesmo sobre esta perda tão grande. é como se estivessem todos perguntando: Quem foi Maria Esther Bueno no Rolê?

Bom, Maria foi aquela que ganhou 19 títulos de Gand Slam. Sim eu escrevi 19. Muito mais que a maioria dos tenistas, a imensa, esmagadora maioria deles, sejam do passado, do presente ou os que virão jamais ganharão. Gustavo Kuerten, o Guga, para efeito de comparação ganhou três. Sim, é uma enormidade mas foram apenas 3. Maria foi a única tenista a ganhar os 4 GS no mesmo ano em duplas, foi número 1 do mundo por 4 anos e como se tudo isso fosse pouco, foi a única mulher tenista a ganhar títulos em 3 décadas diferentes. Não por acaso,  foi chamada de "A Bailarina do Tênis".

No ranking dos 100 maiores tenistas de todos os tempos, (incluindo homens e mulheres) da Federação Internacional de Tênis, Maria Esther é simplesmente a número 38. Isso  em um ranking com homens e mulheres como disse acima. é um feito que todo brasileiro deveria saber. Somos um país que não se livra do complexo de vira lata que nos persegue e Maria foi para a Europa com duas raquetes na bolsa e fez o mundo saber que era brasileira. Sem vergonha de ser exaltou o nome de nosso país elevando-o ao nível mais alto do esporte. Merecedora de todas as loas possíveis sua morte foi tanto para a imprensa como para o povo em geral pouco mais que uma nota de rodapé. Tristes Trópicos!




Não houve um presidenciável a vir a público lamentar a morte da grande bailarina, não vi o presidente imbecil de nosso país lamentar publicamente nossa perda. Maria Esther morreu, mas fora do círculo do tênis, é como se nunca tivesse existido na memória afetiva do brasileiro. Sou fanático por Futebol americano e claro, gosto do nosso futebol, mas o esporte onde melhor me desenvolvo, apesar do tamanho da barriga, é o Tênis. Tenho um Backhand  de respeito e me divirto quando entro numa quadra e vejo o olhar do adversário achando que vai me arrebentar e começa a tomar várias e várias passadas até que desiste de ir tanto a rede e fica trocando no fundo da quadra. Se eu pudesse escolher entre trocar passes com Neymar, lançar para a corrida do melhor Running Back da NFL ou simplesmente trocar umas bolas com Maria Esther, certamente ficaria com a última opção.

RIP, Bailarina, as quadras do mundo a reverenciam, o Brasil te desconhece. Eu te louvo.

É isso.

Ouvindo:Elton J.

sábado, 2 de junho de 2018

Balada Do Louco. E Viva As Diferenças.


Balada do Louco, a excepcional música composta por Arnaldo Batista e Rita Lee no ano de 1972, o ano que eu nasci diga-se de passagem (eu acho que o crédito a Rita é coisa de gente apaixonado, no caso ele por ela mas ok), é antes de mais nada um tapa na cara na sociedade brasileira que vivia então sob o governo de Emílio Garrastazu Médici, o mais patético militar a governar o país de todos os patetas militares que governaram o Brasil. Médici instrumentalizou o futebol, impôs censura férrea a tudo o que ele e sua esposa tão pateta quanto ele não gostavam e achava que mandava de fato em Terras Brasilis.

Arnaldo Batista e seu irmão Sérgio juntamente com Rita Lee  tinham então um grupo chamado "Os Mutantes" o mais fodástico grupo jamais existente no planeta Terra a fazer música de qualidade. Os censores de Médici, todos tão ignorantes quanto ele, militares abobalhados e parvos (palavras com o mesmo significado em sequência empobrecem o texto, eu sei) deixaram passar essa pérola digna da genialidade de Arnaldo contida no álbum "Os Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets". Bauretes = Maconha, mais uma prova da parvice atávica que assolava os militares trouxas do Brasil daquela época, ou seja, bastava chamar José de Agamenon por exemplo e tudo podia e os bobolinos ainda achavam ter o controle.

Ouvida atentamente, Balada do Louco fala sobre não sobre os tontos militares e sim sobre aceitarmos diferenças, raciocínios, opiniões, costumes, trejeitos, enfim, tudo o que é diferente. é um alento aos que são diferentes, porque os consola e virou hino de quem pensa diferente. Amo essa música de paixão desde a minha infância porque ela me define. Não me enquadro, não aceito padrões e me sinto confortável em me imaginar um Alain Delon ainda que seja gordo e feioso pra cacete. Não tenho a empáfia de pensar que Deus sou eu, mas ante as religiões que dizem professar a sua palavra ultimamente, me sinto feliz em não fazer parte de nenhuma. Vou a algumas igrejas e me sinto como a figura a baixo ante as bobagens que escuto.


Balada do Louco é sem dúvida uma música mais atual que nunca. Vivemos em um mundo chato onde as pessoas aceitam padrões impostos sabe-se la por quem com qual intenção que fazem com que beleza, cultura, sucesso, tudo seja padronizado e o que esteja fora, não sirva. A cultura do quanto pior melhor esta instalada em todas as áreas de nossa sociedade e a tendência é apenas piorar. Em um cenário como esse, ter acesso a música e literatura de qualidade é quase um impositivo de vida. Não aguento mais ouvir tanta bobagem como tenho ouvido ultimamente, tanta gente sem conhecimento posando de especialista, tanta gente clamando pelas coisas erradas pelos motivos errados, tanta gente vivendo por viver.



Mais louco é quem me diz, e não é feliz!

É isso.

Ouvindo: Mutantes

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Caminhoneiros, Políticos, Ditadura, Greves Sem Sentido e o Povo Como sempre Sendo Manobrado



Os caminhoneiros que jogaram o país em buraco escuro e quase sem fundo durante uma semana levando o caos e o medo a população são em sua esmagadora maioria, autônomos, vale lembrar. Ou seja, compraram seus caminhões, um veículo nada barato como se sabe e de manutenção igualmente cara, porque quiseram, basicamente. Porque quando  o fizeram, acharam que ganhariam um bom dinheiro e esta greve como qualquer outra, trata antes de mais nada de dinheiro, no caso de mais dinheiro para os grevistas em questão. Chega a ser comovente a ingenuidade de uma parcela da população que acha que realmente essa classe de trabalhadores quis "mudar" o país. Sério? É pra rir?

Vamos lá, vamos ser maduros. Médicos são médicos  porque querem ser médicos. Enfermeiros, professores, advogados, qualquer profissão que exija uma graduação é exercida por quem escolheu, salvo pontualíssimos casos, exerce-las. Com profissionais liberais, autônomos, não é diferente. Eu quis ser Corretor de imóveis, ainda que muita gente tenha me aconselhado ao contrário. Caminhoneiros, não fogem dessa lógica. Precisam investir em um curso específico de  habilitação, depois tem que fazer mais alguns cursos se for lidar com cargas explosivas, radioativas, etc. Quem, neste cenário, exerce esta profissão a pulso? Então, são pessoas que sabem que seus insumos básicos para dar continuidade a sua lida diária estão a mercê de políticas econômicas que podem ou não ser equivocadas, depende do mandatário de plantão. Sabem também que riscos  como acidentes nas estradas, roubos de cargas, são inerentes a sua profissão e são reais. Também sabem eles que seu frete nunca será o ideal, dizer ao contrário é ser de uma ingenuidade que beira o cinismo e a imbecilidade.

Médicos ganham pouco ante a sua imensa responsabilidade. Para ter uma vida digna e boa fazem muito mais plantões que indica o bom senso. Professores então, nem se fala. Idem policiais que se arriscam em "bicos" que jamais deveriam fazer. Ok, Professores, quando fazem greve, recebem além da desaprovação da sociedade, soco, porrada e bomba. Literalmente. Policiais, por força de lei, nem sonham em fazer greve, idem médicos. esses últimos ainda ensaiam timidamente um movimento ou outro. Bancários, que nem precisam especificamente de uma graduação para exercer a função se forem caixas ou auxiliares quando fazem greves são odiados. Metroviários, motoristas de ônibus, idem.

E por que? Porque são essenciais os seus serviços a toda a população e porque volta e meia no caso de bancários e metroviários são eles nada mais que massa de manobra da esquerda raivosa. Beleza. E os Caminhoneiros? Não são essenciais por acaso? Se alguém tinha alguma dúvida, não tem mais. Não foi a atitude deles de cunho extremamente político? Ou as faixas clamando por intervenção militar e a queda do Governo de plantão  são atos amistosos, que visam o bem da população? Claro que foi político como político foi todo o movimento em si e o debate sobre ele. E desde de quando se muda um país o jogando no meio de um caos? Destruir para reconstruir? Cairia bem com Engenheiros Cívis, não com motoristas que diga-se de passagem tinham uma pauta que visava unica e exclusivamente a sua classe, nada que mudasse o panorama de caos político que o país atravessa.

E ai, outra questão se faz necessária. No momento em que o país atravessava um viés de crescimento, tímido ainda, porém consistente, a quem interessa essa ruptura? No momento em que os reais trabalhadores deste país se descolaram da política atabalhoada e imbecil do governos federal e setores primordiais da nossa economia como o imobiliário por exemplo estão em franca recuperação, a quem interessa uma ruptura? O povo como sempre, massa de manobra comprou a ideia de que os Caminhoneiros autônomos queriam de fato mudar o país, quando na verdade queriam mais dinheiro em suas carteiras, nada além. A grita de uma parcela da população pedindo para que não houvesse uma corrida aos postos de gasolina além de pueril é risível, uma vez que quem realmente produz e realmente precisa trabalhar não vai se deixar instrumentalizar por um lado ou por outro dessa questão bobolina,  vai pura e simplesmente continuar o seu trabalho ainda que com mais dificuldades.
 
Em uma greve sem sentido onde o povo pura e simplesmente virou massa de manobra, os caminhoneiros ganharam uma desoneração de impostos desastrosa para o país e muito boa para eles e os políticos, tal qual baratas tontas correram para lá e para cá, apenas uma classe foi a grande vencedora e por aclamação: Os Militares. Eles não pediram para serem envolvidos nesse debate, mas foram. Eles estão na vitrine. Gente que não tem ideia dos horrores e atrocidades cometidos por esta classe clama pelo seu retorno. Eu dou risada.   Povo sendo massa de manobra, sempre. Recusando-se a pensar. Que Lástima!

No fundo, o grande assunto nacional, a grande ideia que deveria dar liga e unir nosso povo é a educação. Um povo educado não se deixaria manobrar, não aplaudiria quem não merece aplauso, não aceitaria como um bando de parvos tamanha estultícia. Um povo com educação de qualidade pensaria o país e aventureiros não teriam vez. Mas isso em se tratando de Brasil, é utopia. Tristes Trópicos.

É isso.

Ouvindo: The Shape Of  Water Soundtrack

terça-feira, 22 de maio de 2018

Nosedive




O episódio de abertura da terceira temporada de Black Mirror, uma das mais instigantes séries de TV produzida nos  últimos tempos, "Nosedive", aqui traduzido por "Queda Livre" (uma das poucas traduções de títulos seja de série, seja de episódio que fazem algum sentido, sou obrigado a concordar), foi para mim um soco violentíssimo no meu estomago. Não  consigo digerir, não sai de minha cabeça e me faz chorar compulsivamente por ver que o mundo já esta exatamente como configurado no episódio, apenas não percebemos.

A sociedade proposta nesta série,mais especificamente neste episódio é simplesmente opressora. Tudo, absolutamente tudo, de escritórios a residências, passando por carros, roupas, ambientes públicos, enfim, tudo é  representado em enlouquecedores tons pastéis. Não há uma folga, um refúgio, uma quebra de padrão. Tons pastéis são a única opção possível. O que deveria ser algo para quebrar a opressão e acalmar enerva de forma brutal a qualquer um que esteja assistindo de forma crítica o show.

Pior que os tons pastéis, cujo a paleta de cores fica até interessante em casamentos ou em quartos de bebês  é o cerne da questão, uma sociedade onde todos são classificados por todos o  tempo todo segundo regras absolutamente impossíveis de serem seguidas por pessoas normais. Uma sociedade onde é necessário sorrir o tempo todo, não falar palavrão não se comportar de forma "inadequada", não falar alto e onde o consumo, seja de bens como casas, carros ou mesmo alimentos esta diretamente atrelado a sua classificação em um aplicativo que não tem nome mas claramente remete ao Instagram, lugar onde todos são felizes e suas fotos e vídeos revelam o lado inexistente das pessoas, o feito para impressionar, não o que é real, aquele em que pessoas peidam e tiram catota do nariz.

Por algum motivo, nessa sociedade todos foram doutrinados a conseguir nota máxima neste aplicativo e postam fotos e vídeos o dia todo buscando aprovação de outras pessoas. Negativas baixam imediatamente o seu score o que não te permite comer em determinados lugares, ter determinados empregos e mesmo morar em determinados condomínios. É tão enlouquecedor este mundo e tão análogo ao que vivemos hoje que m e assustei e me assusto só de pensar no episódio.

Nele, Lacie, uma jovem com uma necessidade absurda de aceitação vive para parecer quem não é conseguir assim uma escalada social que jamais conseguirá. Nãso da pra contar o episódio, mas da para indicar que se assista ao mesmo no Netflix e se não gosta da série, basta assistir esse episódio, alias, um dos grandes trunfos de Black Mirror é contar histórias que podem ser todas assistidas separadamente sem prejuízo de continuidade embora um olhar mais atendo faça com o que o expectador ache semelhanças de linguagem e comportamento que sugira que todos eles se dão em um futuro próximo e talvez pudessem até se entrelaçar.

O que me incomoda e entristece no episódio Nosedive é exatamente a verossimilhança com o mundo que vivemos. Raros são os posts nas redes (anti) sociais que não são feitos para buscar aprovação, para mostrar que pessoas pertencem a determinados espectros sejam eles políticos, sociais ou quaisquer outros que seja. Quando tudo que o mundo precisa é de pluralidade, caminhamos para um mundo onde a compactação do pensamento e redução de senso crítico e de variação de de opiniões que ela provoca é o que impera. Ser diferente, pensar diferente do que reza o senso comum é corrosivo a imagem de quem assim deseja ser. Aplicativos como Instagram  são feitos para que as pessoas mostrem apenas que são vencedoras, bonitas, frequentam lugares descolados e sobretudo produzam likes em série.

Ser real nas redes (anti) social é quase um crime. Postar fotos sem filtros então é atestado de loucura. Se curtimos as fotos de alguém e este alguém não retorna nossas curtidas, achamos que isso é ofensa e ofensa em alto grau. Nosedive, neste sentido mostra claramente como a sociedade em que vivemos esta dependente dependente da aprovação coletiva e como a individualidade esta cada dia mais sendo deixada de lado.

Mesmo quando se pensa em ter itens exclusivos de consumo como carrões, roupas caras, casas em condomínios badalados, na grande maioria dos casos se pensa nisso para que uma comunidade de pessoas exclusivas e elitistas possa trocar idéias sobre como se tornar ainda mais exclusiva e por consequência elitista. Os tons pastéis dee Nosedive contam a história de uma classe média americana ou Européia que não esta nem ai para os que sofrem no terceiro mundo ou em outros rincões. A esses desvalidos não é dado a chance de viver nesse mundo mágico de tons que acalmam como uma imensa sessão de terapia das cores coletivas.

Nosedive precisa ser assistido. Com olhos de reflexão e profunda atenção ele precisa ser sorvido como é, uma crítica feroz a padronização e pasteurização de pensamentos e identidades. Talvez, e eu disse talvez, ainda de tempo de se mudar esse quadro horripilante que vivemos onde somos levados a pensar de forma absolutamente igual e a viver como se nossas fotos em aplicativos que destroem emoções  e nos fazem rasos falassem mais do quem realmente somos. Ou pior, é uma crítica a um mundo onde as pessoas preferem ser como elas idealizam, ainda que jamais realizem o que idealizaram. Triste mundo que vivemos. Um mundo que já acabou e não percebemos.

É isso.

Ouvindo: Lou Reed

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Estanislau Sílvio Carnovali. Irmão, Amigo, Cristão Exemplar. O Eterno O Receberá Quando De Sua Volta.



Algumas pessoas influenciaram  a minha vida muito mais do que podem imaginar. Erro meu de nunca ter dito a estas pessoas o quanto foram importantes em minha formação é claro, mas é assim que sou. Facilidade para a escrita dificuldade para verbalizar o que quer que seja. Fazer o que?

Irmão Silvio entra na minha vida mais ou menos no início de minha adolescência na, na IASD Penha, SP igreja onde passei minha juventude. Era o 1° Ancião local, e explicando um pouco sua função, era como se fosse um super zelador do local, com influência em todos os departamentos da comunidade e obviamente, seu líder. Em minha visão, mais importante que o Pastor que fica por tempo determinado e depois parte para outra igreja enquanto o 1° Ancião por lá permanece, (como ancião ou não).

Aos 13 anos eu queria tocar o terror onde quer que fosse. Ia para a igreja vestido como um Judas por mais que minha mãe pedisse que eu me vestisse de forma adequada e comprasse com muito sacrifício o que ela chamava de "roupas de Sábado". Eu as desprezava. Ia do jeito que eu queria apenas para atazanar irmão Sílvio. Descobri que o irmão Sílvio abominava a forma que eu me vestia para ir a igreja e me esmerava para ir o mais zuado possível  aos cultos.

Meu comportamento também não era dos melhores, muito pelo contrário. Fazia de tudo para chamar a atenção, bagunçava o coreto (estou realmente velho pra usar este lastimável termo), era por vezes, muitas vezes desrespeitoso, não tinha de forma alguma uma postura que lembrasse que eu era Cristão, um Cristão Adventista do Sétimo Dia. Tinha prazer em agir dessa forma e sendo absolutamente sincero, achava que o mundo estava errado e eu, certo.

Irmão Sílvio era um homem sério, rígido. Confesso que quando ele chegava perto, eu temia. Ele me dava altas broncas e quando ele falava rápido, começava a gaguejar. Ele também não era unanimidade na igreja, muita gente queria sua substituição e ele foi um 1° Ancião dos mais longevos que já vi. No entanto, Irmão Sílvio não se abatia com as críticas e buscava dar o seu melhor para a igreja que literalmente ajudou a construir.

Até que um dia, quando eu tinha meus 15 anos, ele me chamou para conversar e ele nunca vai saber, mudou grande parte da minha vida. Ele me disse, muitas vezes gaguejando e mais vermelho que jamais o tinha visto que jamais iria brigar comigo novamente. Antes que eu perguntasse porque ele me disse " Você tem potencial para ser o que quiser, aqui, fora daqui, onde for. Você pode ser um líder, mas provavelmente jamais o será porque não quer ser um líder. Ok, eu respeito isso, mas use seus dons, deixe as pessoas saberem quem você é de verdade. Observo  você a anos e você não é esse menino irracional que quer que as pessoas pensem que você é. Você tem muito a oferecer, ofereça" E disse algo que me desmontou e até aquele dia nunca tinha ouvido creiam ou não. "Filho, amo você!" Virou e foi embora.

Fiquei ali, na sala Pastoral da igreja sozinho muito, muito tempo. Sai dali e não tinha vontade de zuar com mais ninguém, de ser inoportuno, nada. Comecei a subir para o culto Divino e assisti-lo com atenção. Um culto na IASD  é divido no estudo da lição semanal, onde somos divididos em classes e o culto divino, onde o Pastor ou algum outro irmão ou Pastor convidado apresenta a palavra. Sempre amei a Escola Sabatina por ser participava e porque era minha chance de impressionar a todos com minhas intervenções tão interessantes quanto vazias mas que sempre chamavam a atenção. No culto, ficava zanzando pelo pátio da igreja já que não iria me pronunciar.

Daquele dia em diante, comecei a assistir os cultos e prestar atenção neles. Comecei a ir para igreja vestido de forma adequada. Quando fui alinhado pela primeira vez, Irmão Silvio saiu de onde estava e foi me dar um abraço. Fiquei com vergonha, mas orgulhoso. Eu agora era amigo do 1° Ancião. As palavras do Irmão Silvio não me impediram infelizmente de cometer diversas burradas em minha vida. Muitás, impossível enumerar as vezes que cometi erros que foram verdadeiros descalabros e minha vida seguiu. No entanto, enquanto frequentei aquela igreja, ao chegar lá a primeira pessoa que procura para trocar um olhar cúmplice era o Irmão Sílvio. Depois de um tempo eu era para ele o Santista e ele para mim o Palmeirense, alias suspeito que o Palmeiras era sua paixão inflamada  e ainda sim era por ele contida com toda elegância.

Depois de adulto, já casado pela primeira vez, (Não por acaso Ross Geller é meu personagem favorito de Friends entendedores entenderão), mudava meu caminho e horários apenas para encontra-lo quase toda manhã na pracinha perto do metrô porque cada vez menos eu ia a Iasd Penha e precisava ver Irmão Sílvio, o Palmeirense, o Italiano bravo que disse que me amava e ali na pracinha sempre trocávamos várias ideias sobre tudo, e ele me apresentava para os velhinhos amigos dele.

Na segunda, estava no trem, voltando para casa e soube de sua morte. Lágrimas rolaram como rolam agora ao escrever este texto. A vida não deveria ser assim. Por mais que tivéssemos perdido total contato, Irmão Sílvio foi uma referência tão forte em minha vida que saber de sua morte me deixou devastado. Silvio Carnovali, o homem que disse que me amava, o Palmeirense, vermelho como um pimentão quando ficava bravo, de uma ternura insuspeita, me deixa saudades. Sei que ele se levantará quando o Eterno o chamar docemente na ocasião de sua volta, e sei que eu também, não estarei nesse grupo para poder revê-lo, mas Irmão Sílvio, também amei você por tudo o que representou em minha vida.

Que Jesus o tome em seus braços, querido irmão Estanislau Sílvio Carnovali

domingo, 13 de maio de 2018

Pra Quando Eles Voltarem (Mães São Mães Até Quando Os Filhos Vacilam)



Mães são mães até quando os filhos vacilam. Creio, na verdade, que  nesse momento elas se tornam ainda mais extremadas. Minha mãe, que nunca ligou muito para mim, quando eu fazia alguma cagada muito forte me defendia como uma Leoa pronta pondo para correr quem quer que fosse estando eu certo ou não. Mas hoje, dia das mães, vou falar sobre mães que por circunstâncias da vida eu vi de perto: Mães de presidiários.

Os pais dos presos via de regra os abandonam, as irmãs, irmãos ou tias e tios nem podem visitar, via de regra. As mulheres, ao menos as mais obstinadas, os seguem de prisão em prisão, mas tem motivos diferentes. Seja os filhos que tem com eles, seja porque elas mesmo viraram "mulas" dos maridos algumas poucas porque os amam, elas estão lá, nas filas imensas que circundam os muros dos CDP'S ou Presídios, mas na hora é possível discernir as que são mães e as que são mulheres. As mães são silenciosas, senhoras que aguentam horas de pé na fila, que olham seus "meninos" nos olhos lá dentro e choram, ou se fingem de   fortes para que eles não as vejam chorar. As mães de presos, que em momento algum, salvo em casos pontualíssimos um dia se imaginaram naqueles muros, são mulheres a quem a vida machucou e ainda sim elas continuam a viver e de visita em visita, de humilhação em humilhação, seguem uma rotina que não seria a delas não fossem os filhos que tem.




É fácil julgar essas mulheres e dizer que não educaram seus filhos de forma correta. É fácil dizer que faltou uma boa surra, castigos rígidos, é fácil falar muita coisa, difícil é entender a rotina dessas mulheres que via de regra vem de lugares absolutamente periféricos e que tiveram que desde muito cedo trabalhar de forma ininterrupta para garantir o sustento de seus rebentos e o seu próprio. E nesse ciclo de trabalho interminável, viram seus filhos se perderem ons descaminhos que toda periferia oferece e infelizmente seduz a tantos. Essa mulheres não se importam com julgamentos, não se deixam abater com palavras descabidas e amam seus filhos porque eles são seus filhos e é isso o que as mães fazem, amam a seus filhos, mesmo que a sociedade os odeie e ainda que tenham cometido erros horríveis e elas em seu íntimo saibam bem o que o filho fez. O amor é e sempre será maior.

Para essas mães, que várias vezes vi com as pernas inchadas, com varizes visíveis e horríveis, com o rosto cansado, com o espirito aparentemente derrotado porém com uma dignidade insuspeita, para essas mães eu desejo que se seus filhos voltarem, sejam outras pessoas. Que reconheçam o seu esforço em visita-lo, o dinheiro gasto com o "Jumbo" (que hoje uma matéria do UOL chamou de forma risível de "KIT" KIT? irmão? ta tirando?) Até hoje reconheço essas senhoras nos trens, ônibus, principalmente as Sextas Feiras, com suas bolsas padronizadas cheias de comida, cigarros, calças bege, camisetas brancas e sempre em estado de alerta pois os agentes penitenciários podem simplesmente jogar fora toda a comida feita com tanto carinho e falta de tempo por achar que está de alguma forma com drogas infiltradas. Nessas horas elas olham para baixo e seguram o choro, diferente das mulheres dos presos que vão para o confronto verbal. É Como se pensassem como toda mãe e talvez algumas digam para os seus filhos: Se você não tivesse aprontado, nada disso teria acontecido!

Mas para essas mulheres que merecem elogios e aplausos ao invés dos olhares tortos e muxoxos enviesados, eu desejo que neste dia, o dia delas, elas encontrem a paz que lhes foi, com perdão do trocadilho, roubada. Que o conforto no coração de cada uma delas se instale ainda que por apenas um dia e que seus filhos, muitos reincidentes, se compadeçam de suas mães e por elas tomem juízo. Eu desejo que a sociedade se não quiser acolher, também não humilhe, seja indiferente se for o caso, mas não aponte o dedo  e não dirija palavras que degradam, ofendem, entristecem. Para essas mães, eu desejo que o nosso Pai Eterno tenha um olhar de carinho, uma porção dobrada de amor e que em algum momento as suas marcas possam ser curadas e as cicatrizes, lembretes de tudo o que passaram, lembre também aos seus filhos que tudo foi feito por amor.

Aos que acham que bandido bom é bandido morto, eu lembro que ele também tem uma mãe e ela pode estar ao seu lado quando você proferir tal sentença. Nenhuma mãe sonha ver o filho no mundo do crime e nenhuma mãe tem o condão de devolver a vida que seu filho tirou. Mas ela sofre. Ela gemem de dor em seu quarto a noite porque ela sabe que ourta mãe perdeu o seu filho e mães sabem o tamanho da dor de outra mãe.

Eu desejo a vocês todas, que quando seus filhos saírem, a vida lhes seja outra e que tudo o que se passou fique em um passado distante pois o tempo, tudo cura e que haja tempo para serem mãe e filho novamente e que no dia das mães após a libertação, haja um almoço farto, seja em casa, seja em restaurante, seja onde for, para celebrar o amor, para que a normalidade seja um direito seu também, para que o choro de lugar ao riso e para que este pranto nunca mais volte.

Eu desejo que ao voltar da sua visita hoje, seu coração esteja brando, certo de que esta fazendo o seu melhor. E quando eles voltarem, tudo se faça novo, tudo seja apenas amor. E que o amor não mais se dissipe em meio as sombras da separação.

É isso.

Ouvindo: Racionais MC'S