quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Cara, eu vou morrer!


Aos que me conhecem não soltem ainda os fogos de artifício. Calma lá! Eu vou morrer sim, mas por enquanto isso é só uma constatação, não uma noticia consumada. Desculpem frustra-los com uma noticia tão impactante e creio ( e espero eu) ainda um pouco distante, mas o fato é que eu vou morrer e tenho tomado uma consciência cada vez maior disso.

Não queria morrer, este é o fato. Queria ser um Highlander e viver sei lá, 238 anos. Mas quer saber? Que graça teria ver todas as pessoas que amo morrendo e eu ficando? Qul o sentido de ver minha filha, meus netos futuros e os filhos dos meus netos e até os filhos deles morrendo? E eu lá, vivão da Silva? Não faria muito sentido para mim. Eu quero sim viver o máximo possível mas sempre dentro de uma normalidade. Mas o que tem me assustado é esta percepção cada vez mais palpável de que a morte está ali, a espreita, pensando  em maneiras de me pegar e que em algum momento ela vai pegar.

Hoje se tenho uma dorzinha qualquer no peito me desespero. Sou gordo, amo picainha e outras coisas gordurosas e sei que posso ter um enfarte a qualquer momento. Sim, a qualquer momento e isso é que é o assustador. Estou aqui escrevendo e de repente posso não terminar sequer este post, ( o que seria bom pra quem ainda se enfia na excruciante tarefa de ler as bombas que escrevo). Tenho Diabetes. Posso a qualquer momento também ter uma subida tão implacável das taxas de açucar no meu sangue que pode nao dar tempo de tomar remédio algum e BANG! morri.

A perspectiva de morrer me deixa mais alerta mas principalmente está me transformando aos poucos. Sei que é lugar comum isso, sei que é clichê da pior espécie mas é isso mesmo. Me sinto cada vez mais no dever de mudar posturas, atos, de medir palavras, de pensar para falar, de ser uma pessoa diferente do que venho sendo.

E ai começam minhas angustias pois me sinto aos poucos me auto domesticando. Não quero virar um  Teddy Bear. Mas aos poucos sinto que é o que vai acontecer.Não pelo medo da morte apenas mas pelas consequências que este medo traz. Não quero morrer mal com ninguém, não quero morrer sendo tão incompreendido, não quero morrer sendo alguém de quem não se gosta de estar perto. Por outro lado, não quero muita gente perto de mim, não quero suavizar o meu discurso pra ser compreendido por todos, Gosto de ter uma certa impulsividade. 

Sim, contradição é meu sobrenome e ao me ver no limiar da vida, já que os meus primeiros 41 anos passaram voando, e sei que o restante também passará da mesma forma o que me faz pensar se não vale a pena uma mudança de atitude.

Acho que cresci finalmente, sei lá.  Acho que talvez ver minha filha crescer e ter que tomar decisões por ela mesmo, mu,itas das quais ela não está pronta embora se ache plenamente capaz,  seja para mim como olhar um espelho que me reflete com cabelos longos e roupas curtas e me deixou com uma visão clara sobre minha finitude. Eu vou morrer. Pode ser amanhã, pode ser daqui a 40 anos, mas eu vou morrer.

E quando eu morrer, a vida vai continuar para as outras pessoas. Os plantões de vendas continuarão a funcionar, as pessoas ao saírem do meu enterro irão continuar seus afazeres e isso é o que se espera mesmo, pois a roda da vida não para de rodar para os que ainda estão dentro dela.

Sei que esta reflexão ficou bem xoxinha, mas falar sobre a nossa morte não é um assunto que force suamente a ser criativa, afinal eu quero mais é estar vivo. Quando eu morrer tudo o que escrevi, tudo o que eu disse, tudo o que eu vivi se dissipará nas brumas do esquecimento. Nao é o pior dos mundos ser esquecido. O pior dos mundos é não ter feito nada. Pois se algo feito, ainda que não reconheçam, foi feito e mérito não se pede, mérito não se compra, mérito é algo que simplesmente está ali, implicito ao que foi executado. Tenho ainda quem sabe uns bons 40 anos para fazer algo digno de mérito e é isso que quero fazer, esta é minha meta, este é o sentido que norteará a minha vida de hoje em diante.

Mas eu vou morrer. E pode ser amanhã.

É isso.

Ouvindo: Soul Parsifal

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