sábado, 15 de novembro de 2014

O amor não é feito de sobras


Não se ama sozinho. Amor é a dois. é sentimento que flui em mão dupla, em que se sente a batida do coração do outro no mesmo compasso do seu. O amor não é feio de sobras. Não se constrói uma relação se não for entrega plena, emoção plena, amor total e fulgurante, daqueles que derrubam qualquer obstáculo, que nos fazem viver a vida em uma outra dimensão.

Para isso não se pode amar com as sobras do que temos. As sobras são para os outros. O melhor de nós deve ir para quem amamos, sempre, sem reservas e sem medidas. Emoção, que não cabe no peito, acordar todo dia feliz, ir dormir feliz e se triste for o dia, ainda sim o amor pelo outro deverá proporcionar alegria. É assim que o amor tem que ser. Senão, está sendo vivido de forma errada, inadequada.

Se não é possível entregar 100% do que se sente a quem se ama, é melhor que não perdure. A vida quedará triste, amofinada, jogada em um canto como um cão que espera por sobras, que se satisfaz com o que ficou no prato, no canto dele e que iria para o lixo. Se amamos alguém é isso que a pessoa merece? O que iria para o lixo por estarmos fartos? Ou merece a pessoa fartar-se ela com o nosso melhor para que nos retribua na justa medida de forma alegre e desabrida? A resposta parece obvia, mas nem sempre esta a nossa vista pois a vida pode ser completamente turvada com sentimentos que nada tem a ver com o amor, com pessoas que nada agregam a relação. Ao contrário, atrapalham.

Se é amor é blindado. Tem que ser e enquanto ele existe, sempre é tempo de se construir tal blindagem. Sempre é tempo de erguer um muro intransponível entre o casal e o mundo lá fora. Um portão que será aberto apenas quando ambos concordarem, e que para isso necessita de uma chave que é composta de duas partes, a chave chamada cumplicidade. Se a cumplicidade esta no seio do casal, nada nem ninguém, os detém ou mesmo divide. Nada que se diga, nada que faça, nada que se sugira será forte o suficiente para entre eles estar e plantar a discórdia ou o desamor.

O amor é feito de gesto inteiros, de palavras inteiras, de abraços inteiros, carinhos inteiros, nunca nada pode ser pela metade, nunca nada pode ser o que sobra.  Na frente sempre quem se ama, na frente apenas quem nos faz feliz e se sobrar para as outras pessoas, sejam elas quem sejam. O amor foi feito para ser vivido a dois e nada além disso. É feliz quem consegue viver assim, sem a necessidade de agentes externos para completar o que não precisa ser complementado. A vida nos cobrará, caso o amor seja vivido de outra forma. A tristeza, a angústia a desilusão, tudo isso se tornará companhia constante para quem não consegue viver o amor na plenitude e dimensão que ele pede e a vida que é uma só, será assim desperdiçada.

Tenho aprendido ao longo de minha vida que sem amor ninguém se vive. Que ao contrário do que o magistral Crioulo canta, existe sim amor em SP, em MG, RJ ou qualquer outra cidade do mundo desde que duas pessoas decidam viver de forma harmoniosa e com o seu sentimento sendo exclusivo um do outro. Não é fácil, seria patético dizer que o é. Mas é possível. Seria cruel dizer que não o é.

O amor para acontecer, florescer e vivificar precisa de cuidado,. Diário. Precisa de afetos, de dizeres, de gestos tão sutis quanto únicos. Precisa de respeito, contrição e renúncia. O amor, para existir, precisa ser inteiro, não feito de sobras. Ele não admite e não tolera  que seja de outra forma que a forma da entrega total. Quem não entende isso, não pode amar. Tenho aprendido isso a cada dia. E talvez este aprendizado salve a minha vida.

É isso.

Ouvindo: Alessandra Samadello

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