quarta-feira, 22 de junho de 2016

Maria Amélia Miranda Rocha (RIP)


Maria Amélia Miranda Rocha é o nome de minha irmã que morreu. Sim, além de minha irmã Fernanda, tinha a Maria Amélia também. Uma menina bonita, cheia de sonhos, que sempre se envolveu com as pessoas erradas infelizmente. Minha irmã era tão ou mais inteligente do que eu sou. Ela era brilhante. Foi uma criança cheia de vida,  Era doentinha, tadinha, tinha pulmões arrebentados como os de um fumante aos 7 anos. Um teve que ser removido inclusive, mais ainda sim ela lutava pela vida  e fazia o que era possível para se manter neste mundo de bosta.

Mas como eu disse sempre se envolvendo com pessoas erradas, com gente que não prestava que a fazia sofrer, a fazia ser muito pior do que ela era, que sugavam suas energias e alegria até que ela se tornasse algo próximo de um ser absolutamente desconstruído. Ela era bonita! Há! Como ela era bonita! Tinha olhos expressivos, castanhos, um cabelo cacheado que lhe caia sobre os ombros de forma  exuberante até. Não eramos melhores amigos mas a nossa maneira, nos amávamos.

Me ajudou várias vezes, eu lhe ajudei outras tantas, fazíamos como irmão deveriam fazer. Mas agora, ela morreu. Tinha três filhos, mas o mais velho morreu também. É triste, mas minha irmã morreu de AIDS e seu filho, que tem o meu nome, de overdose.  Não a julguem, asseguro que ela era uma boa pessoa. Se enveredou por uma vida de erros é porque mesmo as pessoas boas tem suas fraquezas e cometem erros que aos olhos de quem não os cometem podem parecer absurdos. Mas e dai? O mundo continuará a girar da mesma forma. A morte de minha irmã é só um número de uma fria estatística que versa sobre pessoas que usam drogas e o seu triste fim.

A AIDS foi uma consequência quase que natural  de seu comportamento errático e a morte de seu primogênito nada mais é do que o reflexo de filhos que sem estrutura repetem os erros de seus pais. Mas minha irmã sempre foi para mim muito mais que uma pessoa que se perdeu para as drogas. Era minha irmã, meu sangue, a quem tinha apreço, amor. Sua morte finaliza anos de sofrimento, mas isso não me consola. Ver quem se ama morrer assim é algo muito triste e por mais que eu possa parecer um ogro sem sentimentos, não sou bem assim. Agora não tenho mais irmãs. Fernanda, a esperta, se foi logo deste mundo vil. Amélia, a que gostava da vida mas não soube vive-la, se foi agora. E eu, o pior dos três rebentos de minha mãe, permaneço aqui, sendo uma pessoa detestável e sem graça.

Meu mundo interior já habitualmente tão cinza, esta negro, as trevas são espessas, a vontade de continuar é zero. Eu sou uma sobra de mim mesmo a muito tempo e agora perdi meu elo familiar, perdi minha irmã. Queria realmente ter estado ao lado dela em seus momentos finais. Queria ter cuidado de seu corpo frágil e febril ao fim da vida. Queria lhe dado um abraço que mostrasse o amor que lhe tinha. Queria muita coisa e agora nada disso vai acontecer. Seus olhos se fecharam, cessou a respiração e isso fala muito de um mundo absolutamente sem sentido onde pessoas como eu continuam a caminhar. Minha irmã era uma mulher muito jovem para morrer. 38 anos e uma vida para viver.

Minha irmã morreu e eu continuo vivo. A vida não traz  justiça. A vida é a própria injustiça. Minha irmã merecia mais do mundo do que ela teve, o mundo deveria ter a conhecido melhor. Minha irmã se foi e eu fiquei. Que bosta!

É isso.

Ouvindo: Yo - Yo Ma



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