domingo, 11 de dezembro de 2016

a.i (artificial inteligence) o filme que jamais sairá de minha cabeça


já vi milhares de filmes. impossível dizer o meu favorito. "citizen kane" considerado por muitos o melhor filme de todos os tempos para mim é de uma chatice acachapante. cinema é arte e arte bate em cada um de forma diferente e isso é bom. se todos gostassem das mesmas coisas que chatice seria o mundo e quantas linguagens e formas diferentes de contar uma história seriam enterradas para sempre em detrimento do gosto comum.

"a.i" é sem dúvida alguma o que se pode qualificar de cinemão. feito para antes de mais nada explodir nas bilheterias (não foi o caso), com atores de primeiro time, orçamento farto, efeitos especiais muito bem executados, enfim, um filme para agradar a todos.  falhou miseravelmente!

e falhou, porque "a.i" tem algo raro entre os filmes meramente comerciais. tem alma. alma em forma de roteiro. "a.i" conta um história cheia de nuances, ângulos obtusos que precisam ser explorados com calma e quando tudo o que contém sua história é por fim destrinchado, o que fica é um travo meio amargo que evidencia como a vida as vezes é feita de nãos disfarçados de sim e vice e versa. em suma, a vida na maioria das vezes não passa de uma monótona e monocórdia sinfonia de dizer e uma coisa e fazer outra.

se como diz  guimarães rosa  " a vida é um constante rasgar-se e remendar-se" ou seja, estamos em constante mutação seja através da alegria ou do sofrimento, é certo também que a vida é uma constante rotação de rumo e por vezes essas guinadas são violentas, forçadas pelas circunstâncias e deixam marcas profundas, muitas vezes irreparáveis. essas marcas nos acompanham por toda a jornada e por vezes, nos definem.

em "a.i" um  menino robô (adoro essa definição) se afeiçoa a sua "mãe" humana, mais do que o seu verdadeiro filho foi capaz. acontece que ele só entra na vida desta mãe como moeda de troca pelo seu verdadeiro filho que esta em coma sem perspectiva alguma de recuperação.aos poucos, o medo e o estranhamento natural que esta situação obviamente causa são substituídos por um amor incondicional que nasce entre ambos, ao passo que o marido desta mulher que tanto incentivou a presença deste menino robô em sua casa, no seio de sua convivência, se torna desconfortável com a "intrusão" deste ser de certa forma bizarra em sua família, situação que se torna insustentável com a volta do filho natural a vida social desta família.

fica claro que ninguém ali leu "o pequeno príncipe" e o conceito de de cada um é responsável pelo que cativa não passa de uma mera e inútil abstração na vida deste casal. pois o menino robô contrariando as expectativas passa a amar sua mãe de forma incondicional e nem mesmo o abandono que sofre por parte desta o faz deixar de ama-la. neste momento o filme se torna sombrio e ganha em densidade e profundidade, mas tal qual a fossa das marianas, ponto mais profundo conhecido dos oceanos, a escuridão é total e a pressão pode fazer a caixa craniana de qualquer pessoa mais sensível explodir.

o ponto x de todo o roteiro ao menos para mim é exatamente este: qual o direito que temos de cativar alguém, seja um ser humano, seja um menino robô e depois abandona-lo porque isso se tornou mais conveniente? a vida, ou os sentimentos que temos e despertamos seja em outra pessoa seja em nós mesmos pode sere governada pela frieza e muita vezes frivolidade de nossas motivações? podemos abandonar em uma floresta escura e fria alguém que nos tem como objeto de devoção? descartar pessoas ou as emoções destas pessoas porque para nós elas nada dizem é um direito que nos é facultado? fechar os olhos para o que abandonamos muda o destino destes?

são questões que eu mesmo reconheço muitas vezes como piegas, mas a vida não é feita apenas de intelectualismos baratos e pensar nos sentimentos alheios as vezes é vital. se não temos a sensibilidade de sentirmo-nos tocados pela dor alheia merecemos nós mesmo a sensibilidade de outrem?  se você não assistiu "a.i", assista! essas e outras questões certamente dançaram em sua cabeça. ao menos, é claro, que você seja um adulto robô sem emoções.

é isso.

ouvindo: a.i soundtrack


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