segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

sobre helicópteros, casamentos e choro


não sei se a noiva que morreu era afeita a alta tecnologia, ou se queria causar impacto já que não é o usual chegar de helicóptero a um casamento. mas fato é que acabou não dando certo. o helicóptero caiu e ela, juntamente com os demais ocupantes, morreu.

a vida, fica cada vez mais claro para mim, é só um piscar. morremos e tudo se vai, tudo termina. seja de helicóptero, seja de avião, navio, ou mesmo andando a pé ou até mesmo dormindo, morremos e tudo o que resta são outras pessoa a nos recordar. tudo acaba, cessa de forma irreversível e quem fomos e o que vivemos fica gravado apenas na memória de quem nos queria bem e essas memórias são o que resta como tentativa de perpetuação do indivíduo que partiu.

mas morrer no dia do seu casamento é algo especialmente cruel. para quem fica, a dor de uma lembrança que será especialmente cruel ao pulsar a memória de um fato que jamais deveria ter acontecido. a perplexidade ante o acontecido é tão atroz que faz com que a incredulidade prevaleça ante o acontecimento provado em si, porque simplesmente não nos é natural que a morte chegue em um dia de celebração da vida como um casamento. alias, a morte nunca nos é natural, ainda que saibamos que é a única certeza que temos.


se é verdade que helicópteros talvez não sejam o veiculo mais comum ou mesmo apropriado para deslocamentos em dias de casamento, não é menos verdade que eles podem acrescentar charme e sofisticação a tal cerimônia e se alguém pode pagar pela sua utilização, e utiliza-los fará com que o dia da pessoa seja ainda mais feliz, não há porque não faze-lo.  o sonho de quem quer que seja jamais deve ser limitado por convenções ou regras pois a felicidade de vive-lo pode ser única.

o choro dos que ficam é intenso e a dor permanente. morrer, quando se ia jurar viver uma vida toda ao lado de alguém é algo inexplicável, e mesmo em um mundo onde inexplicáveis acontecem a toda hora, nada ajuda a confortar uma perda como essa ou mesmo a explica-la. helicópteros, casamentos e choro até poderiam conviver em harmonia se o choro fosse de felicidade após o sim.

vivemos em um mundo conturbado onde o horror e a barbárie coletiva nos anestesiam, mas jamais serão lenitivos para o nosso horror particular. a dor e o sofrimento contidos neste mundo são nada perto do que uma tragédia dessa pode ocasionar na vida das pessoas envolvidas diretamente com ela.

sofremos todos os dias ao vislumbrar o mal que existe no mundo, mas casamentos devem sempre ser ilhas de paz no espaço-tempo que nos cerca. quando eles são afetados por acontecimentos como os de ontem, uma fenda se abre e rasga o equilíbrio de um momento que deveria ser mágico e se torna apenas, trágico.

que Deus, em sua magnifica grandeza conforte a alma e coração dos que ficam.

é isso.

ouvindo: the Carpenters

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