quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

a vida precisa de coerência (do porque eu não me sinto e não me denomino mais um cristão)


a definição mais simples e mais cristalina para mim sobre ser cristão é aquela que diz que cristão é qualquer um que siga o modelo de vida ensinado por Cristo aqui na terra. simples assim. viver como ele viveu, portar-se como ele se portou replicar os seus ensinamentos, enfim, ser um espelho de quem foi Jesus Cristo neste planeta enquanto ele aqui viveu.

bom, não consigo ser assim. gostaria, mas não consigo. gostaria mesmo, de todo meu coração. queria ser um modelo de cristão. tentei por muito tempo, muito tempo mesmo mas cresci na igreja e quando se cresce na igreja, seus fracassos dizem mais sobre você do que seus acertos. o cristianismo é um estilo de vida perfeito, ou seria, não fossem os cristãos os primeiros a foderem com ele. é foderem!

siga uma igreja, qualquer uma. diga aos seus irmãos de fé que pretende seguir suas diretrizes. eles te acolherão. agora vá e cometa um erro, dois, três, 100 erros. sabe aquele lance de perdoar 70x7? pura retórica. os verdadeiros cristãos que até gostariam de colocar em prática esse e outros preceitos, serão simplesmente esmagados por uma doutrina que parece tudo menos cristianismo que só pensa em punir, retirar do rol dos membros, disciplinar, mostrar que se você errou, tem que ser punido. ai vem a conversa da punição com amor... com amor? é sério isso produção? pergunte a qualquer cristão de qualquer denominação se ele se sentiu amado ao ser punido por seus erros? abraça...

não vou tornar este texto uma peça de acusação contra os que fazem partes de igrejas organizadas. cada um faz o que bem quer, segue a doutrina que melhor lhe aprouver e em última análise os iguais se atraem. eu não deixei de ser cristão por conta dos que frequentam igrejas. para mim, as palavras de acusação proferidas a meu respeito nada dizem uma vez que eu sei bem quem eu sou e sou o primeiro a me acusar.

deixo de ser cristão exatamente porque não consigo seguir os conselhos de Cristo. faço tudo ao contrário. sinto é claro ser uma pessoa do bem, mas para ser do bem, basta não ser do mal e isso é muito pouco ao meu ver, sou um medíocre no fim das contas, porque ser do bem é o mínimo que eu poderia esperar de mim mesmo e não passo disso. uma pessoa que não comete grandes erros, que aprendeu com os que cometeu mas não sai da zona de conforto do "ser legal". um arremedo de mediocridade mal ajambrado.

como posso ser cristão se ainda hoje tenho questionamentos sobre Deus? como posso ser cristão se conhecendo bem o que cristo pede e sobretudo o seu exemplo eu faço tudo em contrário? sou uma vergonha para os poucos verdadeiros e devotados cristãos que caminham sobre a terra. dizer que sou cristão é zombar de uma teologia séria, do esforço  que muitos fazem para  ser e sim, ser cristão demanda  um esforço muito grande com tudo o que se tem hoje antagonizando com o cristianismo. então, para que denominar-se cristão? para ser melhor que os que supostamente servem a satã? se tudo o que o cristianismo prega for verdadeiro, você já serve a satã se não servir a Deus. não existe neutralidade nesta "batalha espiritual" para ficar em um termo que os pentecostais adoram (eles meio que acreditam que a vida é um enorme jogo de war) e se você não esta nas fileiras dos que servem a Deus, você serve ao outro.

e veja, até esta é uma forma contaminada de ver a vida. contaminada por anos de crença no cristianismo. afinal, você pode sim não servir a ninguém além de suas próprias convicções. você viver como se Deus não fosse mais que uma abstração e ser feliz, mas o contato com a religião cristã, ainda mais quando se dá desde criança como eu, introjeta dentro da pessoa uma crença tão profunda de que ou se é de Deus ou do demônio que não existem outras alternativas possíveis. isso é triste, porque eu deveria aceitar as diferenças que existem nas diversas correntes de pensamentos que existem para serem estudadas e apreciadas.

uma ligação que nunca deixarei de ter com o cristianismo é o meu amor pela música cristã. eu amo música e amo a música cristã e suas diversas vertentes. isso nunca mudará em mim. mas não posso mais ficar postando músicas no por do sol de sexta para sábado como se eu fosse um adventista por 10, 20 minutos (o tempo que dura o processo de escolha e postagem das canções) e no sábado pela manhã vir para o meu plantão vender meus imóveis que tanto gosto. é uma perfídia que cometo sexta após sexta comigo e com as pessoas com quem compartilho as canções. para que fazer isso? tenho que ser sincero, tenho que ser transparente e abdicar da hipocrisia do ato.

ja vivi mais da metade de minha vida e  muitas de minhas  lembranças estarão sempre atreladas a momentos que passei nos limites de uma igreja adventista, isso jamais vai mudar, mas não consigo mais dizer que sou cristão vivendo fora desses limites e questionando-os o tempo todo. minhas lembranças deste período serão como lágrimas na chuva que se misturam umas as outras até se diluírem de forma irreversível e escorrerem por mim até que se por fim elas se vão.

é isso.

ouvindo: a trilha sonora de blade runner


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