terça-feira, 17 de maio de 2016

Cauby Peixoto se foi


Cauby Peixoto, o cantor das roupas exageradas, do cabelo exuberante (seria peruca?) dos graves impecáveis, um Barítono dos melhores que o Brasil já teve, (não, ele não era um Tenor como insistia de forma equivocada Fausto Silva), dono de um histrionismo único, que levava o público a confundir sua personalidade com sua persona,o homem dos blazers  brilhosos e em corres berrantes, enfim, um ícone do que existia de melhor na música brasileira, se foi.

Em um momento em que o que de pior existe se estabelece como padrão de qualidade e os poucos bastiões restantes aos poucos tombam pelo caminho, concluo que o processo de idiotização da música nacional é irreversível e caminha a todo vapor. O público não quer qualidade, quer idiotas de calças justas e chapéu de boiadeiro entoando versos sobre a cornitude do ser humano.  Quer nomes artísticos que beirem a infâmia como "Wesley Safadão" quer patifarias sonoras como o Funk e outras merdas.

Clássicos da canção como Cauby, viraram repentinamente "musica velha, musica de velho" A  sofisticação do canto de Cauby e uns outros poucos cantores como Nelson Gonçalves foi sendo aos poucos trocada pela falta de sutileza ao interpretar de babacas como Lucas Luco, Luan Santana e outros trastes a quem basta gritar e desafinar para serem elevados a condição de "ídolos". Gente que não serve para lustrar a fivela do cinto de Cauby é hoje visto como gênio da música. Cada povo tem o ídolo que merece.

Cauby se foi e não deixou discípulos, infelizmente. Seu legado não será levado a frente, sua forma refinada de encarar uma apresentação, respeitando o público, a ele entregando o melhor que poderia entregar. Tendo a secunda-lo uma banda nada menos que primorosa, um repertório  coerente e outras coisas simples que fazem uma apresentação merecer ser vista. Hoje, cantores(?) se valem de canhões de luzes que cegam a audiência, muito gelo seco e nada de talento. As músicas, quanto piorem forem, melhor serão compreendidas e aceitas, pois uma audiência de inteligência rebaixada está ávida por ouvir sons incompreensíveis que farão com que letras da pior categoria sejam mascaradas pela massa sonora sem sentido.

Cauby se foi e junto com ele um dos últimos shows decentes que se podia assistir hoje no Brasil. Que tristeza!!!

É isso.

Ouvindo: Benito de Paula

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Vitor Belfort, sua derrota e o Brasil, um país de toscos


Não sou o maior fã de MMA que existe. Não perco meu sono para ver homens ou mulheres se estapeando, primitivo é a palavra mais elegante que tenho para exprimir o que penso do MMA. Primitivo, tosco e por ai vai... Mas enfim, cada um sabe do que gosta e se tem gente que fica mesmerizada em frente a TV assistindo dois adultos se socarem, por mim tudo bem.

Vitor Belfort é um dos grandes do MMA. Mais que isso é um atleta de ponta. Se tomou substâncias proibidas ou não não entro no mérito, até porque isso é regra entre os atletas de ponta, os que não tomam são ET´s. Existe muita hipocrisia concentrada no assunto doping e este não é o foco do post, apenas não da para falar de Vitor, sem falar de doping, mas a grande questão é sua última derrota e como os "fãs" do "esporte" lidaram com isso.

Todo o histórico vitorioso de Vitor foi jogado na latrina e isso vem muito do fato de o brasileiro ser tosco em sua essência. Tal qual o futebol, o volley, ou qualquer outro esporte, o MMA é um esporte onde se ganha ou se perde. Derrotas são tão naturais quanto vitórias e mensurar se um atleta é de excelência ou apenas mais um na multidão é um exercício relativamente simples, basta escrutinar o número de vitórias e confronta-los com as derrotas. Quanto mais vítórias, evidentemente maior é o seu status e neste quesito, Vitor tem muito o que apresentar. Um cartel vitorioso, com vitórias inclusive sobre ícones do MMA.

Por outro lado, Vitor teve derrotas também acachapantes como no caso da derrota para Anderson Silva, que perdeu também de forma humilhante para outro oponente que nem me lembro o nome. Tal qual na NBA, para ficar em um exmeplo, o MMA vive de dinastias e Vitor teve sim a sua. Acontece que Rei Posto, Rei Morto. E Belfort, foi posto de lado e agora clamam pelo fim da sua carreira os mesmos que menos de um mês atras criam em uma sobrevida para ela em caso de vitória contra Jacaré.

É sempre para mim triste ver um campeão perder e mais triaste ainda ver que seus fãs não sabem lidar com isso,  buscando logo em seguida outro alguém, para cultuar. Embora como eu já tenha dito o MMA para mim não passe de um esporte primitivo calcado em regras frágeis e pouca elegância, ou melhor, em elegância nenhuma, Vitor Belfort merece mais do que a proclamação do fim de sua carreira. Merece honrarias, merece os elogios que sempre teve, pois a vida  e não só o esporte é construída de vitórias e derrotas e perder, ainda que da forma brutal como foi  sua última derrota não é motivo de vergonha. O oponente estava em uma noite melhor, melhor preparado e fez valer estes detalhes para sair vitorioso. E dai? Acontece.

A tosquice do povo brasileiro e sua sanha em ter esportistas que nunca perdem por mais impossível que isso seja é uma daquelas características de um povo que não cresceu ainda, juvenil no trato com questões que tenham um mínimo de profundidade. Que pena que ainda sejamos desta forma.

É isso.

Ouvindo: Rita Lee

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Gleice a mina da quebrada no Masterchef


Gleice, a menina de olhos tristes de postura tímida tão tímida  que parece que o medo do mundo é maior do que a vontade de vence-lo (mas só parece) é o motivo que me faz assistir a temporada 3 de Masterchef .

Sua postura tão naturalmente medrosa, com um sorriso que insiste em não sair e quando sai logo volta para dentro de sua boca parece gritar que ela ainda não entende o que faz ali,  ou porque ainda esta ali. Talvez ela achasse que nem entraria, mas entrou e mereceu entrar e merece ficar o quanto conseguir e por que não? Ganhar.

Entendo perfeitamente o que sente Gleice até porque ainda hoje entro em lugares em que me pergunto porque me admitiram ao recinto. Quando se vem de uma infância de lutas, pobreza e principalmente falta de oportunidades, é mais que natural que a admissão a alguns lugares que desejamos estar nos torne a estupefação plena.

Lidar com o fato de estar em uma competição onde seus oponentes são todos um pouco auto confiantes, ou ao menos aparentam ter esta autoconfiança, são mais altivos, mais, mais e mais, uma série de coisas, é assustador.

Cada vez que vejo Gleice dizer que não conhece tal ingrediente, que não conhece tal comida, tal livro de culinária, exalto sua força de vontade,  sua coragem, determinação, garra, enfim, todas as qualidades que a colocaram ali mesmo com tudo contra, com todo o estranhamento que sua presença possa trazer a uma classe média de merda que assiste o programa nem sabe bem porque, apenas para ver quem será o eliminado da semana. Um motivo que pode ser chamado no mínimo de torpe.

Gleice fala  baixo, quase sussurrando, quase pedindo desculpas por dirigir a palavra a quem quer que seja. Tem respeito pelos jurados, tem  uma não altivez que emociona, e sabe melhor que ninguém que pode a qualquer momento ser a próxima eliminada. Não importa, para mim, já é uma vitoriosa. Entrou por um funil que deixou milhares de pessoas para o lado de fora, fez uma receita simples para entrar e a executou bem. Cozinha com amor, com emoção e tem uma história tão sofrida como  quase todos pretos de tão pobres tem.

Não a vejo usar isso a seu favor. Cada lágrima que derramou foi para mim sincera. Cada passo que deu com medo, cada vez que tentou esconder sua presença, tudo foi natural, sincero. Gleice nem tem estrutura intelectual ao que parece, para ser uma estrategista que vá além do óbvio.É uma pessoa que é apenas aquilo que consegue ser, nada a mais e talvez por este motivo se torne tão cativante.

Não creio que Gleice vá ganhar, mas espero que sua participação lhe traga dividendos, lhe faça dar uma condição melhor a sua família com ela disse almejar. Gleice merece e a quebrada que ela representa torce em peso por ela. Tenho certeza disso. Ela merece a torcida. Ela representa sua área. E representa com uma dignidade impar.

É isso.

Ouvindo: Maria Callas

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Sou da quebrada, mas não sou maloqueiro


Tenho um imenso orgulho de vir do fundão da ZL. De verdade! Bom, nem preciso me justificar é evidente, mas não falo isso com qualquer ponta de hipocrisia ou sentimento parecido. Ter nascido e me criado na ZL, no Cangaiba, frequentando os campinhos de futebol da Vila do Sampa, da ponte pra lá, margeando o Tiete, me fez ser quem eu sou. Ou ao menos, tem uma influência imensa em quem eu sou.

Trabalho em Alphaville, morei uma par de anos em Moema e claro gostava muito, mas minha história, minhas raízes, quem em sou, a minha plenitude, o lugar onde caminho a vontade, cumprimentando meus amigos, meus trutas, é na ZL. 10 minutos de caminhada e abraço umas 20 pessoas e converso com umas 50. É quem eu sou e quem eu me orgulho de ser.

Mas não sou maloqueiro. Não me permito. Nasci na ZL mas não fui criado de forma a ser um marginal, bandido ou maloqueiro. Sim, muitos amigos escolheram o caminho errado e não os julgo, cada um sabe de si, mas não me permiti, não quis, quero me olhar no espelho e me orgulhar de quem sou.

Se por um lado como cantou lindamente Criolo,  "não existe amor em sp", seja na periferia, seja nos Jardins, existe sim a dignidade, o respeito, a integridade. Da mesma forma que não é preciso morrer para ver Deus, não é preciso de forma alguma passar por uma situação extrema para entende-la como tal, fazer algo errado para descobrir o erro. Nada disso. Somos sabedores do que é correto ou não e o que não é correto sempre salta aos olhos. Ser da quebrada não pode e não deve ser motivo para ser maloqueiro, não aceito isso.

Ser boca suja, desrespeitoso, ser uma pessoa que se comporta de forma inadequada e usar como desculpa para tudo isso o fato de ser da periferia é inaceitável.  Somos senhores de nossas escolhas das palavras que falamos, das musicas que ouvimos, da forma com que nos comportamos, da roupa que vestimos, enfim, nos tornamos o que queremos ser, não o que o lugar onde moramos supostamente nos obriga. Isso não passa de ladainha.

Eu me orgulho de onde vim sou feliz por ter me criado no Cangaíba City, minha quebrada. Sei por experiência própria que por vir de lá, tudo é mais difícil e exatamente por isso, cada conquista, por menor que seja, deve ser valorizada ao extremo. O Cangaíba é meu lugar, minha quebrada, mas quem eu sou é fruto de minhas escolhas e eu escolhi que jamais seria um aloqueiro. Simples assim,

É isso

Ouvindo: Tulipa Ruiz

domingo, 1 de maio de 2016

Carta para Rafaela


Eu sei que as dores de crescer te perseguem. Eu sei que não é fácil, eu sei que o peso do mundo repousa nos seus ombros e eu sei que tudo tem uma intensidade imensa, maior que o mundo porque quando se é jovem, quando se é pré jovem na  verdade (se é que da pra usar esse termo) tudo é urgente, tudo é para ontem e tudo para nos frear. Como eu sei? Eu tive sua idade, filha.

E parece que ninguém te entende e pior, nem quer te entender. E parece que o Universo está de complô contra você, com uma armadilha em cada esquina e com uma restrição por m2. Acordar e lutar contra o mundo não é fácil, viver uma vida aprisionada em si mesma é estafante, cansativo. é como em  "As Intermitências da Morte" pra mim a obra prima de Saramago, onde a morte deixa de existir em uma cidade e o caos se instala porque  as pessoas descobrem que precisam viver as suas coisas mas uma hora elas acabam e é preciso morrer, a finitude é necessária mas só descobre-se isso após anos e anos de uma vida que se quer viver da forma que melhor lhe aprouver.

E quando parece que o mundo esta contra nós, viver se torna tortura lamento. Eu sei disso, filha amada, mas sei também que o que hoje é um Furacão, amanhã é Brisa. Existem situações as quais você tem que passar, que te farão crescer, amadurecer, se tornar uma mulher de valor, mas nesse entrecho entre ser uma mulher de valor e o que você vive hoje, uma menina que busca se conhecer e se apresentar ao mundo, muitas coisas vão acontecer e talvez a grande maioria delas não te agrade.

Eu admiro essa sua inquietação, eu admiro essa sua necessidade de se perceber como ser autônomo, que não se deixa guiar pela vontade da maioria, que não é parte de uma manada, que assume seus gostos e opções que tem certo o que quer mesmo que seja para mudar de opinião semana que vem. E mude, mude mesmo filha, quantas vezes quiser até encontrar a sua opinião derradeira sobre determinado assunto. Assuma riscos, riscos calculados, é claro. Não se deixe guiar por tendências, antes, crie o seu caminho. Que ele seja rosa, mas se for espinho, que você chore seus arranhões no meu ombro, que minhas palavras possam curar as suas mágoas que meu abraço te coloque no centro novamente.

Se você se perder, eu te encontro, se você chorar, eu choro junto se você sorrir eu por dentro explodirei de felicidade. Não deixe que a triste te oprima de tal forma que o mundo pareça não fazer mais sentido, ele sempre vai fazer porque o sentido para o seu mundo é você quem dar.

Fé em Deus filha, que Ele é justo,  sua vida vai ser grandiosa porque você nasceu destinada a grandes feitos, tenho certeza disso. A você, só o melhor é o que desejo, todo dia, toda hora a cada minuto e para sempre. Amo você incondicionalmente e isso significa que nada, nada mesmo que você faça, pode mudar isso. O amor que te tenho é mais forte que qualquer elemento pode ser.

Com amor.

É isso.

Ouvindo: Pato Fu

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Entre tropeços e Sorrisos (Outro Sonho com Fernanda)


É inevitável para mim sonhar com minha irmã que morreu. De tempos em tempos eu sonho e são os únicos sonhos que consigo me lembrar de forma perfeita. Isso me intriga. Não que eu seja místico, não me entendam mal, mas  são sempre tão nítidos estes sonhos, tão reais e ficam por tantos dias em minha mente, que minhas emoções ficam afloradas por dias.

A conexão que tínhamos a conexão que nutríamos um pelo outro vão me acompanhar pelo resto de minha vida, não tem como ser diferente. Já contei aqui que tive Meningite e sobrevivi. Sobrevivi para levar para casa a cepa da doença que mataria a pessoa que mais amei na vida e não consigo lidar bem com isso. Nunca vou conseguir me livrar deste pensamento e das lembranças tão vívidas em mim de minha irmã brincando pela casa comigo, correndo e tropeçando a cada vez que eu chegava da escola para me receber no portão. Ficavamos horas brincando juntos, horas "conversando" sobre tudo e sobre todos e embora fosse muito mais um monólogo é claro, nunca mais achei alguém que me ouvisse com tanta atenção como Fernanda. Sei que sou chato e isso dificulta um pouco para ser ouvido por outras pessoas, mas havia uma pureza em nossa relação que não permitia este detalhe aflorar.

Depois que ela morreu não fui mais a escola. Nunca mais. Digo a todos que deixei de ir a escola porque não queria estudar mais, mas eu não queria mais era chegar em casa e não ter aquele serzinho lindo correndo até mim entre tropeços e sorrisos. Tenho 43 anos e tento sobreviver. Ultimamente tem sido bem difícil. Me sinto pressionado em todas as áreas de minha vida e toda noite durmo querendo sonhar com minha irmã. Quando sonho no entanto acordo triste. O ser humano é mesmo estranho. Ou eu sou estranho demais, sei lá. Entre  tropeços e sorrisos ela sempre me recebia e meu mundo ficava colorido. Me sinto um cão desde que ela se foi pois só consigo ver o mundo em preto e branco. Tudo me lembra minha irmã, toda criança loirinha e com olhos claros me lembram minha irmã, todas as manhãs em que o Sol nasce com um brilho intenso me lembram seus cabelos e toda bela canção parece ter sido composta especialmente para ela.

Entre tropeços e sorrisos eu tinha uma amiga, uma confidente e creiam, um menino de 10 anos tem muito o que confidenciar. Minha amiga se foi e nunca mais tive alguém que pudesse verdadeiramente chamar de amigo. Até achei que tinha, mas estava enganado. é engraçado como a vida prossegue mesmo que os tropeços e sorrisos tenham cessado. Manter-me vivo é algo que faço por instinto, não tenho vocação para morrer tão cedo. A vida as vezes me sorri, outras vezes me faz tropeçar, mas nunca mais verei aquela loirinha correndo em minha direção entre tropeços e sorrisos. Nunca mais.

Minhas dores é evidente pertencem só a mim, mas se não escrever enlouqueço.

É isso.

Ouvindo: Maria Calas

quarta-feira, 27 de abril de 2016

A Vitória Dos Derrotados.


Quando derrotados vencem, eu me emociono. Quando a vida da oportunidades ainda que limitadas e eles agarram, eu me regozijo com eles. Não é fácil ser um vencedor nos dias de hoje. A sociedade em que vivemos embora composta basicamente por imbecis coloca barras cada vez mais altas e rígidas para proclamar alguém vencedor. A grande maioria vive na mediocridade pura e simples, mas alguns são taxados inapelavelmente de derrotados. E derrotados,  não servem para nada além de serem chacota dos supostos vencedores e mesmo dos medíocres que veem neles a chance de serem alguém melhor do que realmente são.

O mundo não se importa com os que perdem. Normalmente os perdedores são os feios, gordos, deficientes, enfim, os que não se encaixam nos padrões que a mídia vende para uma sociedade absolutamente decadente e necessitada de valores morais mínimos. A beleza compra uma boa impressão apenas por se impor como tal, o dinheiro compra a tudo por ser dinheiro e ter o valor que a ele lhe é atribuído por cada um, o poder te faz vencedor porque te permite manipular aos outros e as situações da forma que melhor convém. Aos derrotados, não sobram nem as bananas, quanto mais um nesga se quer de reconhecimento.

Por este motivo, quando vejo um derrotado ganhar, ainda que parcialmente, ainda que por uma fração de tempo, ainda que uma vitória simples e suada, me enterneço. Sei por experiência própria como é difícil colocar a cabeça para fora do buraco em que te relegaram por te acharem inadequado. Quando além da cabeça os ombros conseguem vir a tona a vitória é ainda mais bonita e quando se consegue sair do buraco e caminhar sentindo o Sol batendo no rosto ai é algo tão digno de nota, que a emoção aflora de forma inapelável. A música tem este condão, o esporte também, mas é a música (ao menos para mim) que faz emoções surgirem de forma tão única que só nos resta extasiados aplaudir de pé a vitória de alguém que a sociedade considera  ninguém.

É triste ser ninguém. É mais triste ainda ser ninguém porque os que convivem com você decidiram assim. A mágoa, a dor, a tristeza que situações assim podem trazer podem marcar uma vida toda com cicatrizes que nunca se vão apenas porque não se é suficientemente bom para o mundo em volta. O som ao redor dos derrotados pode ser ensurdecedor porque é feito de risadas, muxoxos, meias palavras ditas a meia altura, ironias, enfim. pequenas torturas diárias que os derrotados carregam consigo. Quando um derrotado vence, ainda que seja apenas porque 4 pessoas lhes concederam quatro avaliações favoráveis. Eu choro. De felicidade. E amoça do vídeo abaixo, eu queria ter abraçado e muito, para que ela não precisasse ter se abraçado na mais completa solidão, ainda que cercada de pessoas.



É isso.

Ouvindo: Emma Jones e sua brilhante interpretação de "Ave Maria"