sexta-feira, 23 de setembro de 2016

De Quando Eu Era Cristão


Sim, houve uma época em minha vida em que eu era um Cristão. Vamos esclarecer: Cristão em minha definição é alguém que busca seguir a Cristo e o faz mesmo falhando, errando, caindo, levantando, tropeçando de novo, levantando-se mais uma vez. Cristão para mim também é aquele que busca imitar o modo com que Jesus agiu na Terra quando esteve nela. Não consegue na maioria das vezes, o índice de erro é absurdo, mas ainda sim, tenta imita-lo e tenta e tenta e não consegue e tenta mais um pouco e neste processo  que Guimarães Rosa chama de "rasgar-se e remendar-se de forma constante" ele vai tentando  levar sua vida o mais próximo possível do seu exemplo maior.

Quando eu era Cristão, eu era assim. Tentava seguir o Mestre, tentava imita-lo. Nunca foi fácil, ao contrário. Sempre foi excruciante para mim agir como um seguidor de Cristo. Para algumas pessoas parece tão natural, para mim é ao contrário, é anti-natural segui-lo. Gosto das coisas do mundo. O mundo me atrai, minha profissão que amo, a música, os pequenos prazeres, enfim, um sem número de coisas me atraem para longe do Salvador e hoje, sendo absolutamente sincero, a dúvida não sobre sua existência, mas sobre a necessidade de tê-lo em minha vida é meu maior obstáculo.

Mas houve sim um tempo em que reconhecia minha completa necessidade Dele. Um tempo em que mesmo errando, sabia que Ele era o padrão a ser seguido, o objetivo maior era Ele. Jesus e seus ensinamentos faziam todo sentido em minha vida e de verdade, minha vida fazia também muito mais sentido.

Hoje me questiono  o tempo todo sobre o sentido de minha vida. Para onde ela vai, porque ela vai, como ela vai. Não questiono o amor que sinto pelas pessoas que amo, mas questiono se ele não teria mais qualidade se eu buscasse minha referência primeira. Sou rebelde, sou absolutamente rebelde. Em relação a tudo o que aprendi,  a tudo o que cria, existe apenas um buraco enorme dentro das minhas convicções mais primárias e hoje a única convicção que tenho é que não tenho convicção.

A música de Estevão Queiroga, "Bom e Mau" reflete exatamente meu estado de espirito. Quando ele diz, " Eu não sei mais quem sou, Acho que eu era bom,  mas em quem eu me tornei, nem me reconheci, por certo, um outro vive em mim"  Confusões da meia idade? Talvez. Mas quando eu sabia quem era e em quem eu cria, não tinha tamanha confusão, E a meia idade não me influencia.Me sinto um menino, me sinto um rapaz de 20 anos, apenas que tenho 43 anos. Mas um rapaz de 20 anos que tem 43 anos que não sabe em quem ou em o que crê.

A questão da fé é muito mais complicada do que parece ser, ao menos para mim. Está acima de minha compreensão, admito. A fé de cura, isso é fato, mas a falta dela, pode te machucar e te machuca mais na medida em que você sabe no que e em que deve crer, apenas não consegue forças para tanto. Não sou emocional, gritarias, músicas lindas não me tocam. Minha fé tem que ser restaurada dentro de um processo absolutamente racional. Não que Deus seja para mim uma mera equação e seu filho um apêndice da mesma, mas não é definitivamente algo de fácil elaboração para mim. Mas terei que elaborar. Isso é fato.

Quando eu pura e simplesmente era um Cristão, eu errava demais, mas era mais feliz. Certamente era mais feliz.

É isso.

Ouvindo: Estevão Queiroga

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