quarta-feira, 2 de maio de 2018

Uma Lição Que Aprendi Ao Ler "O Poderoso Chefão" (E Que A Maioria Dos Empresários Ainda Não Entendeu)




Aos 12 anos li pela primeira vez "O Poderoso Chefão" (The Godfather), a obra prima de Mario Puzo. Nela, Puzo conta história de uma família de mafiosos Sicilianos radicados nos EUA e como essa história se interliga com a de outras famílias igualmente vindas da Sicilia e igualmente mafiosas e também como essas famílias todas se integram na sociedade Americana, tendo como armas a extorsão, o assassinato, a corrupção do sistema policial e judiciário entre outros tantos malfeitos.

O livro é escrito de forma apaixonada e muito mais que simplesmente narrar fatos e induzir o leitor a fazer associações entre personagens fictícios e pessoas  reais (Frank Sinatra, Ava Gardner entre outros), Puzo tece uma trama de amor, ódio, intrigas, traições e reviravoltas capaz de acelerar o coração e fazer o leitor não renunciar da leitura até que ela termine. Um homem frio e calculista, assassino rematado como Don Vito Corleone é retratado como alguém que além dessas características é também um homem de família, bom cidadão e respeitador das leis vigentes (desde que elas não colidam com seus interesses e detalhe, praticamente todas as leis colidem com seus interesses).


A saga cinematográfica, que resultou dos escritos de Puzo  para mim esta entre os melhores filmes já produzidos e  certamente coloca Marlon Brando (como Don Vito) e Al Pacino (como Michael Corleone) no panteão eterno dos grandes atores, contem além de uma saborosa história como um todo, trechos em que Don Vito revela verdadeira sapiência empresarial e sobre um desses trechos que vou falar.

Don Vito e seu filho Michael, precisam contratar um  capanga, mas não um capanga qualquer, eles estão de olho em Albert Neri, um dos melhores policiais da cidade e que esta pronto para mudar de lado. Além de pronto, tem a vontade de mudar pois sua vida como homem da lei não foi das melhores. Uma reunião entre Al Neri e Michael é então marcada e dura a totalidade de uma manhã. Michael lhe fala sobre os aspectos de seu novo "trabalho" e Al Neri  satisfeito por estar ali acha que deve aceitar seu novo job.  Em determinado momento, Michael olha para o relógio e Al Neri interpreta isso como uma despedida. No entanto, para sua total surpresa e convidado a almoçar com a família.

Neste almoço além de Michael esta Don Corleone em pessoa, que passa o almoço inteiro falando não sobre negócios, mas sobre o fato de ambos, ele próprio e Neri serem originários de aldeias na Sicília separadas por poucos km de distância. Neri, então, sente-se acolhido e percebe que dali em diante daria a vida por seus novos patrões. Bom, Neri, não dá exatamente a vida, mas tira a vida de muita gente que se mete no caminhos do Corleone como o livro mostra na sequência.

O que isso ensina afinal? Em momento algum desta "entrevista de emprego" é falado em $$ ou demais benefícios. é explicado a Neri a importância da lealdade a família e de como a família se importará realmente com ele em troca dessa lealdade. Muito mais do que status de um cargo gerencial ou de diretoria, fala-se sobre a construção da amizade e sintonia entre empregadores e empregado e isso tudo, de forma implícita, sem se falar uma vez sequer em valores, faz Al Neri vislumbrar uma excelente oportunidade de ganhos para si.

Poucos empresários hoje, em pleno 2018, entendem a importância de lições como essas.  A valorização do funcionário, a importância do elogio e a pedagogia que ele encerra. Quando um funcionário sente-se importante para o time e mais que para o time, para o seu gerente, diretor ou até mesmo o dono da empresa em que trabalha, ele devolve invariavelmente esse sentimento com um trabalho muito mais engajado onde o salário ainda que importante de forma alguma será o referencial primeiro para a permanência na empresa.

Existem sentimentos que ainda que não sejam tão valorizados hoje em dia, ainda encontram correspondência quando utilizados nas relações interpessoais isso é um fato que jamais será mudado em minha opinião. Ao entrar na imobiliária que estou hoje, o dono me colocou em seu carro e fez questão de me mostrar os plantões enquanto conversamos e ao final, me deu um panetone. Sim, já havia passado o mês de Natal e eu sinceramente nem gosto tanto assim de panetone e sei que obviamente ele não o havia comprado para mim, pois minha visita naquele dia foi meio que uma surpresa, mas o gesto que ele teve, de pegar algo que era seu e me dar, fez a minha tarde mais feliz que se tivesse achado $$ na rua, pois valorização e sobretudo sentir-se valorizado, não tem preço e gestos que podem parecer pequenos muitas vezes contém significados gigantes. Don Vito e toda a sua família é bom lembrar, eram assassinos frios e calculistas mas mesmo sendo quem eram e agindo como agiam recusavam-se a não valorizar os que com eles estavam dispostos a caminhar. Lealdade se constrói e se conquista dia a dia e não há sentimento mais importante e mais belo em minha opinião.

É isso

Ouvindo: Nervosa

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