terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Uma decisão que não consigo tomar

Não tenho alguma por estar chegando aos 40 anos, mas muitas pessoas me acham uma espécie de Peter Pan. Outras,(a grande maioria), me acham apenas um idiota rematado e não as culpo. Eu, se me visse de fora, me acharia bem cretino.

Preciso me decidir sobre algo que sempre relutei e na verdade nunca quis fazer, mas cada dia mais me vejo premido a finalmente ter que encarar os fatos de que não da pra viver sem isso, sob pena de enlouquecer de vez.

Quem lê esse blog (ao menos meu amigo imaginário Stanley Keyworth, um Escocês que mora na Bélgica onde é membro do parlamento daquele país além de ser formado por Oxford e ter doutorado na Sorbonne, tudo isso aos 15 anos, eu sei que lê) sabe que tenho uma "doença" pra facilitar mas na verdade uma uma disfunção geneticamente herdada no cortex pré frontal, me faz ter um comportamento absolutamente errático e inaceitável perante os cidadãos "normais".

O DDA me faz ter uma super concentração ou "hiperfoco" na linguagem médica naquilo que gosto, como por exemplo, música. Escuto sons que poucas pessoas escutam numa música, capto as idéias musicais do arranjador com uma facilidade gritante descubro os sons "escondidos" enfim, eu me concentro realmente. Acredite, isso é ruim.

Me impede por exemplo de simplesmente curtir uma música mediana mas bacana. Eu a ridicularizo mentalmente e pior, verbalmente o tempo todo. Eu não consigo simplesmente ouvir, eu tenho que gostar ou odiar e se eu odeio, ridicularizo e lá se foi o prazer em ouvir algo simples como uma música. Literatura, a mesma coisa. Sabe o que é ler um livro pensando em como o autor foi cretino em suas idéias? Ou pior, sabe o que é amar tanto um livro que você procede a mesma leitura centenas de vezes porque acha que não tem nada melhor pra ler na vida?

Ter DDA é estar encapsulado dentro de um mundo muito próprio. Existe pouca ou nenhuma supervisão interna, o que me faz dizer coisas que eu jamais deveria dizer em nome da política de boa vizinhança ou simples para viver em uma sociedade sem angariar ódios. Não consigo. Quando vejo, já falei coisas como "você tem noção de quão ridículo está sendo?" Ou, " Você é burro ou está em treinamento intensivo pra tal?" (essa uma das minhas favoritas) ninguém diz uma coisa dessas impunimente.

No meu trabalho, ridicularizo companheiros que não tem a mesma performance que eu tenho e muitas vezes tenho uma performance ridícula porque simplesmente acho que o trabalho não está a minha altura e decido ficar vagabundeando. As vezes, ou quase sempre, um cliente está me dizendo o que gostaria de fazer, como gostaria de pagar o seu apto e eu estou absorto com o sapato legal dele, pensando onde ele comprou, quanto pagou e quando ele diz " e ai, dá?" eu digo, "dá o que?" Isso pra ficar num exemplo.

Outras vezes engato conversas absolutamente soviéticas com os clientes, se o cara é médico, eu começo a falar sobre a cura do câncer ou os últimos avanços da medicina na luta contra o Mal de Parkinson. Bom, o cara ta ali pra comprar um imóvel, não pra falar sobre algo que eu não domino e mesmo assim insisto em vomitar conhecimento de enciclopédia.

Não consigo ficar bem em silêncio, fico angustiado. Agora mesmo, estou com os fones no último volume ouvindo DC Talk e se desligar paro de escrever. Não seria tão ruim se na mesma sala a Sintia não estivesse vendo TV, ou tentando, porque eu já esmurrei o notebook, já bati palmas (o tempo todo na verdade) já cantei alto, já dancei o tchan, enfim.

O DDA também aflora minhas emoções. Eu sou intenso, eu choro, dou risada, grito de alegria ou de raiva, esmurro paredes, me jogo contra elas se estou sozinho pra ver se a energia vai embora. Na hora de dormir,minha mente insiste em não desligar. e Mesmo quando adormeço eu tenho o sono agitado me debatendo, virando de um lado para outro e eventualmente tendo episódios de sonambulismo. Minhas tristezas são profundas, minhas alegrias contagiantes uma montanha russa (não confunda com bipolaridade, Deus me livre!)

Eu busco o conflito o tempo todo. Com outras pessoas, comigo mesmo, com as gatas de casa. Pessoas com DDA fazem isso para estimular o seu cortex pré frontal. Embora seja algo consciente em mim, ou seja eu sei porque faço, não sei quando faço entende? é algo que quando vou ver, já fiz, pronto, acabou. Talvez porque com DDA ou não ninguém fica pensando: "Hei, vamos estimular o cortex pré frontal agora?"

Tudo isso reunido faz de mim uma pessoa fascinante (as vezes) e assustadora (quase sempre) um legitimo "Freak" que tem uma filha crescendo e morre de medo de ela se envergonhar do pai que tem num futuro próximo. Eu memso me envergonho de mim muitas vezes.

Voc~e pode se perguntar: Bom, se você sabe de tudo isso, porque não se controlar? A resposta é simples e arrogante como convém a mim. Claro que eu sei de tudo isso, mas porque eu pesquiso sobre DDA, tento conviver com ele e sei muito mais sobre minha doença do que muito especialista. Acontece que saber disso, não me faz me controlar. Alguém controla o crescimento de células canceriginas só por entender a forma como elas se reproduzem? Sem a ajuda de quimeoterapia e outras drogas?

Da mesma forma saber como eu sou e funciono no máximo me faz pensar depois de alguma cagada algo do tipo " Não adianta dizer que isso é causado pelo DDA, ninguém quer saber disso, então fica quieto".

Todo esse caldo me faz ser visto como inconsequente muitas vezes, infantil outras tantas (dai o Peter Pan, o menino que não quer crescer),e como um idiota a maior parte do tempo. Nunca fui, como disse no inicio também, de me importar com o que dizem a meu respeito,já que um toque ligeiramente Narcisista na minha personalidade me faz gostar de mim mais do que o normalmente aceitável e mesmo mais do que o podemos considerar saudável.

Senso assim, não me restam muitas alternativas além de me submeter a terapia verbal e também medicamentosa, que certamente vai me reduzir a pó, mas um pó aceitável perante as pessoas.

Até que ponto é honesto comigo mesmo a decisão de me medicar sabendo dos efeitos colaterais das drogas que teria que tomar, não físicos mas de personalidade eu não sei, e não sei ainda se os ganhos no traquejo social compensariam uma vida interrompida,sim, eu considero uma interrupção de minha vida deixar de ser como eu sou, mas quando olho para a minha filha e a vejo chegando perigosamente numa idade em que ela pode se aperceber que seu pai é pouco mais que um menino em corpo de homem que diz o que vem na cabeça eu tenho medo de ter sua rejeição completa e absoluta.

Eu queria muito poder ter clareza mental para decidir o melhor caminho a seguir e sei que e for diretamente a um psiquiatra ele vai me mandar de olhos fechados tomar toda essa nova classe de medicamentos recém lançados para controle de DDA fazendo a alegria do representante dos laboratórios envolvidos.

Por outro lado postergar essa decisão me faz ficar ainda mais insuportável dia a dia, seja co os amigos, família, e até comigo mesmo, uma vez que as vezes eu queria sair correndo de mim.

Umas decisão se faz necessária e eu não sei ainda o que fazer, na verdade, nem perto estou de saber e enquanto fico nessa indecisão vou enlouquecendo as pessoas ao meu redor.

É isso.

Ouvindo: DC Talk

2 comentários:

Anônimo disse...

Se você conseguisse ter o mesmo êxito que o personagem de Uma Mente Brilhante, certamente seria melhor do que tomar algum medicamento... Sei lá, fica a dica... Bjs

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkk, q comédia isso tudo, mente idiotaaa