Eu sou o meu lobo. Isso é um fato. Eu me saboto, me destruo, jogo para bem longe qualquer chance de sucesso, de fazer as coisas bem feitas. Eu e só eu sou o responsável pela minha desdita. Culpar qualquer pessoa ou qualquer circunstância pelos meus fracassos é idiotice em estado puro. Eu perdi. E perdi para mim mesmo.
Eu olho pra mim e não vejo o que pode haver de bom. Mas não vejo porque não há. Simples assim. Não falo da bondade para com o próximo, falo do ser bom no sentido de ter habilidades e sobretudo transformar essas habilidades em algo que resulte em vantagens palpáveis para a vida.
Eu não sei cantar, eu não sei falar, eu não sei escrever. Não domino uma segunda língua e mal domino a minha língua pátria. Eu acho que sou corretor, mas sou um fracasso a bem da verdade. Acho que sei muitas coisas mas sei um pouquinho de cada uma elas e no computo geral minha média é abaixo de medíocre.
Sou feio. Também sou gordo. Minha dentição é falha e meus conceitos embora possam parecer descolados escondem um homenzinho muito sem noção. Eu não tenho amigos, mas a fila para as pessoas que não gostam de mim dobra o quarteirão. Eu sou um pateta rematado, mas não do tipo quer faz rir e nem do tipo que gera aquela pena que pode se transformar em um afeto disfarçado. Sou um pateta que causa apenas indiferença.
Eu me orgulho dos livros que eu li, das músicas que ouvi, dos quadros que sei apreciar e por gostar de ópera e balé. Na vida prática tudo isso é nada. Não faz a menor diferença gostar dessas coisas porque elas não me trazem benefício prático algum. Não sou Don Quixote, sou ainda pior, sou Sancho Pança. Sou a personificação da derrota e a derrota já se entranhou de tal forma em mim que perdi o gosto pela vitória, de forma que não a busco mais.
Tudo isso por minha própria culpa. Meus fracassos, são todos méritos meus. Ninguém tem nada a ver com eles. Não sou um bom pai, nunca fui um bom filho. Minha loucura não tem nada de charmosa, não sou Randle McMurphy, sou Norman Bates, ou pior, um Hannibal Lecter sem charme mas com a mesma sanha por sangue, que na falta de coragem de afligir a dor e a danação aos outros aflijo a mim mesmo sistematicamente, pois a vida tem que seguir e meus instintos satisfeitos.
Aos 40 anos cansei desta vida de desventuras mas tão pouco tenho paciência, vontade ou coragem para mudar o panorama. Eu preciso respirar, eu preciso ver o Sol, mas tudo isso é pra quem sai de casa, pra quem não tem medo de ser diferente. Para mim, quanto mais igual, melhor, quanto mais apático, mais excitante e quanto mais errado, mais certo parece.
Meu mundo é feito de caminhar passo a passo, dia a dia uma linha reta sem alteração que não vai me levar a lugar algum além de um fim tão patético quanto foi o início. Minha vida é sem sentido. Eu suo o meu lobo e mesmo essa afirmação que poderia ser "charmosa" e "cult" é no meu caso, apenas tola.
Eu cansei de perder, mas não quero ganhar. Não sei o que fazer mas também não quero descobrir. Eu sou um chato e isso me define bem.
É isso.
Ouvindo: Nada.
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