sábado, 15 de fevereiro de 2014

uma pizza na Speranza


Ela tinha um sobrenome Judeu que acrescentava ainda mais charme a sua já charmosa figura. A primeira vez que fui ve-la, ela estava malhando na Runner da Av. Angélica, em Higienópolis, reduto do seu povo em São Paulo e confesso, fiquei entre o apaixonado e o bestificado. Saca a Vandinha Adams? Igual! Só que linda, espirituosa e com um exemplar de  "Silence of The Lambs" em Inglês mesmo, o que lhe conferia além de tudo uma aura intelectual, (ao menos aos eus olhos de garoto de 19 anos) embaixo do braço.

Um corte rápido para o passado, dois dias antes tinhamos nos conhecido no metro, também por causa de um livro, ela indo para Unicamp, em Campinas (não de metro, obviamente), onde cursava Dança. É, Dança. e em seus tenros 17 anos parecia carregar toda  a carga de inteligência concentrada que alguém poderia ter. Ela usava sapatos de boneca, um vestido florido e suas pernas eram descuidadamente um pouco peludinhas, o que se para alguns denotava desleixo, para mim, mostrada pouco apego a frivolidades.

Conversamos e ali mesmo decidimos que eu iria com ela para Campinas e o único lugar em que não fomos foi a Unicamp. Passamos dois dias e uma noite absolutamente enclausurados em uma casa tão bela quanto surreal, conversando sobre tudo e todos e quando eu disse que politicamente eu era de centro, quase coloquei tudo a perder, mas nos acertamos. Falamos de filmes, falamos sobre filosofia, da minha admiração pelo avô dela, um dos maiores intelectuais brasileiros, falamos sobre a vida e também calamos. E nos silêncios nos conehcemos ainda mais, pois estavamos confortáveis com ele e pessoas em silêncio e confortáveis entre si é algo muito raro.  E entre conversas abraços, risos e outras coisas desxobrimos que era hora de voltar e voltamos, mas eu precisava ve-la novamente.

E a imprudência dos jovens e só isso explica, a tinha feito me dar o seu endereço, onde fui, entre o temeroso e ansioso e soube por intermédio de sua mãe ( meu aquilo nçao era uma família, era um parque de diversões para pessoas muito, muito inteligentes saborearem a vida), que ela estava na tal Runner. E nosso encontro foi belo novamente e houveram muitos outros todos dignos de nota, mas o que me lembrei fala de uma noite quente de verão em que decidimos por uma pizza.

Nos encontramos ali na região da Paulista e como só a juventude explica decidimos ir apé até a Speraza  que fica na 13  de Maio,  descendo pela Brigadeiro Luís Antonio  até nela chegar, mas na verdade a ida é o que menos importa e curiosamente a pizza, embora seja a melhor do Brasil com toda certeza também não é tão importante em si, comemos, tomamos um bom vinho,  mas a volta... Há!, a volta...

Aqueles quarterões de volta, até a Paulista e depois até a Angélica foram mágicos... A noite era agradável, estrelada, mas não quente. E curiosiamente não era fria. Era uma daquelas noites em que a vida nos brinda com um clima ameno e uma pessoa fantástica. Eu estava educado e comi apenas dois pedaçoes de pizza e ela também apenas dois ou teriam sido as entradas que devoramos também, mas o fato é que me lembro que cruzamos com um morador de rua e naquela noite, ela não andava, ao meu lado ela dançava. Acredite ou não, ela dançava, e chegou mesmo a dar uns rodopios pelas calçadas iluminadas da Paulista e assim entregou ao morador de rua a Pizza que haviamos decidido levar para casa. Tenho certeza que nunca, em momento algum da vida de qualquer morador de rua. alguém lhe entregou algo com tanta graça, tanta doçura e com um sorriso tão lindo nos lábios.

Nós nos davamos as mãos e ao mesmo tempo era necessário solta-las para que ela executasse seu movimento e a conversa era tão agradável, e versava sobre tantos e variados assuntos e nós riamos e celebravamos a nossa juventude e a possiblidade de andar por ai sem medo, sem pressa e sema amanhã.

Não sei por que me lembrei desta noite em especifíco, mas me lembrei e talvez, algum dia no futuro conte sobre o dia que fomos ver em algum daqueles cinemas "cults" da Rua Augusta "A Liberdade é Azul" com a fantástica Juliette Binoche,  e na volta convencemos o taxista  que nos conduzia até uma casa no Pacaembu a se embriagar e dizer que amava sua mulher.

Foram dois meses loucos, dois meses felizes. Recheados de histórias que jamais esquecerei.

É isso

Ouvindo: La Mamma  Morta

Nenhum comentário: