quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Cores & Valores, o Novo do Racionais MC's


Musicas curtas. No caso dos racionais, significa discurso concentrado, não condensado.  Apenas um reparo antes de falar bem, porque o trabalho é fantástico sem sombra de dúvida, mas poderia passar sem a auto indulgente "A Praça". Desnecessária, apenas isso. Mas a auto indulgência é algo de que ninguém escapa em algum momento na vida. Então, ta tudo certo.

As músicas são menores a sonoridade definitivamente é outra, mas duas coisas ficam claras e são as que importam:  Primeiro, se os caras decidissem fazer MPB por exemplo, fariam com qualidade indiscutível. São músicos antes de mais nada, são bom no que fazem. Segundo, a raiva, matéria prima de suas canções e do jeito de ser dos Racionais, continua lá, intacta. Uma raiva necessária para se fazer o que eles fazem. Uma raiva que não é canalizada a uma ou outra pessoa, mas a todo um sistema que oprime os pobres em geral, porque quem ainda acha que Racionais é música de preto, não entendeu nada do que ouviu. Os caras são música de pobre. Música da periferia, música de quem ainda com toda a pretensa melhora na qualidade de vida da população propalada pelos Petralhas, ainda vive no limite da pobreza e provavelmente viverá até o fim da vida. Excluídos Futebol Clube.

Uma das vantagens deste álbum surpreendente em grande medida, é que o tempo menor de duração das faixas não deixa espaço para o discurso que por vezes se tornava obtuso em  trabalhos anteriores, pois músicas com 11 minutos, como por exemplo "Eu to ouvindo alguém me chamar", vamos convir não tem tanto o que falar, ali pelo sétimo minuto ela já acabou mas se arrasta. E não dá pra ser "bonzinho" com os caras e falar que é só bacana e pronto. Como qualquer artista os Racionais tem virtudes e defeitos.

De longe a melhor faixa é "Quanto Vale o Show" Silvio Santos perguntando  o título da música e ao fundo o tema de "Rocky" formam uma cama sonora perfeita para o discurso verborrágico porém muito bem feito (música curta = objetividade) de Brown. Brown, alias que esta no seu auge vocal. Não que seja ele um virtuose, nada disso, a crueza e os vacilos vocais que ainda acontecem são parte determinante de sua "persona" musical. Determinante e necessária. O Rap não é lugar de cantores, Eminem é uma piada vocal por exemplo, mas para raivosos que usam o mic sem medo, que dão seu recado, que atraem a admiração por quem são, que não diferenciam o cantor da pessoa. Brown é assim. Que bom.

Após de 12 anos sem um álbum de inéditas os Racionais voltam em grande estilo, reafirmam o status de maiorais do Rap  Brasileiro e continuam os mesmo caras. Não precisam da Globo, nem de qualquer grande mídia. Tem a seu favor uma legião de adoradores, prontos a comprar seu trabalho a ir em seus shows e divulgar o grande grupo que de fato eles são.

Salve, Racionais, vida longa aos caras que fazem música de gente grande em um país onde gente sem talento faz apenas porcaria em cima de porcaria.

É isso.

Ouvindo: Cores & Valores, Racionais MC's

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