domingo, 28 de dezembro de 2014

Na Pista, pela vitória, pelo triunfo


É, eu to na pista. Pela vitória, pelo triunfo. Já venci e triunfei lindamente e já perdi e fracassei fragorosamente. A vida é assim afinal. Ganho, perco, fico no 0x0 e dai? O que importa é o foco e meu foco é a vitória, o trinfo. Se for diferente, complica. Pra quem vem de onde eu vim, pra quem viveu o que eu vivi (e vivo), não tem outra alternativa.

Não escolhi a corretagem, ela me escolheu. O que alguém que não terminou o ensino fundamental poderia fazer além de aprender as funções básicas de uma HP 12c, treinar um discurso de vendedor, colocar uma gravata que combine com a camisa e a calça, um sapato limpinho um sorriso ( feito no dentista) e ir pra cima de clientes normalmente muito mais "estudados" porém muito mais "defasados" intelectualmente  que eu? Eu só podia ser corretor. Mas não deixo de ser maloqueiro, com  orgulho!

Pela vitória, pelo triunfo, o moleque da ZL adora tomar o dinheiro dos playba  de Alphaville e volta e meia essa porra de diferenças de classes vem a tona, quando um cliente bestalhão acha que dirigir um carrão, ou assinar um checão faz dele melhor que eu ou qualquer outro, eu me obrigado a lembrar quem eu sou. Boto um Emicida como trilha sonora mental e vou pra cima. Afinal, eu também quero um Din, também quero glória e fama,  um carrão é bom e eu gosto, mas sem perder de vista quem eu sou. Vitória e triunfo apenas para me satisfazer, não para me crescer em cima dos manos. Jamais.

Pego o carro, vou a ZL, vou ao Pira, onde cresci, vou a Vila do Sapo, vejo meus manos, minha coletividade, na beira do Rio Tietê, vendo os aviões trazerem os riquinhos que pousam em Cumbica, mas e dai?  A gravata, as poucas boas maneiras aprendidas de forma forçada, por pura convivência social, - Há!, moleque!!! Quando a fúria vem, ela vem concentrada! Vender apê caro não me faz comprador de apê caro. Eu quero mais é tirar medalha dos canalha sem aura boa. Eu quero ver os neguim, meus parça vivendo bem. Criando os filhos, sendo pessoas de bem, mesmo que qualquer "verme" resolva ligar o giroscópio da viatura só porque a cor da pele a noite fica mais difícil de visualizar e é mais fácil dar uns "tecos' no neguinho que deveria estar em casa evitando confusão.

Não traio minhas convicções em busca de minhas ambições, que como todos eu também tenho. Só que se eu errar, fudeu! Porque sou exemplo, para filha, para moleques que andam com ela, porque sou e sempre serei da periferia e me orgulho disso, mas a vitória, o triunfo, pra quem é de onde eu sou, pra quem veio de onde eu vim, não é se encher de cordões de ouro, não é dirigir uma caranga tunada, que é isso moleque??? Nossa glória é ser do bem, é ser digno, é ser descente. Trampar, buscar fazer o seu caminho, ser lúcido, fugir da encrenca, essa é nossa vitória, nosso triunfo.

O jogo é sujo e a pista é enorme, a pista é muito grande. Onde você vai colar afinal? Vai diluir sua moral? Vai envergonhar sua coroa? Vai fazer seu pai, aquele truta trabalhador ter vergonha de por a cara na rua? Vai esquecer que a rua é nóis mano? Vixi!!! E ai vai fazer o que? se entupir de grana, colocar  "uns pano" invocado e pagar de bambambã? Sai fora tio, para de panguar. O rei não vai virar humilde percebe?

Não vendo imóveis porque tenho talento, vendo porque tenho que comer. Só por este motivo. E tenho dar de comer também. Então, o que me resta além de ser alguém que busca a vitória e o triunfo? O que me resta além de mostrar pra esses otário que se acham que ninguém tem que se achar, tem que ser. A real é que a gente tem que ser, não se achar.

Obrigado a Emicida por ter composto  "Triunfo" A trilha sonora que me acompanha em cada atendimento que faço nos plantões de venda, pra lembrar quem eu sou, de onde eu venho, e o que estou fazendo nesse mercado de clientes metidos a besta, corretores mais metidos a besta ainda e onde um moleque de 42 anos da ZL da Vila do Sapo, da margem do Rio Tiête, que morou em casa com goteira, que comeu na casa dos outros de favor, que morou na rua, tenta sobreviver com o talento quase nulo mas muita garra pra tirar os eu sustento, pra fazer jus ao cheques (agora débito em conta) de gente que acha que dirigir uma porra de carro de R$100.000,00 faz dele alguém melhor que eu. Coitados. Um telefone e o carrão vira história.

É isso.

Ouvindo: Emicida, o cara que salvou a música brasileira.


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