segunda-feira, 2 de março de 2015

De como é triste não ser feliz


Não ser feliz é algo que já me habituei embora pareça sempre que eu vou levando a vida em um estado de felicidade. Não é felicidade, é torpor. Porque quando você encara que não é de fato feliz, o que sobra além da tristeza é um imenso vazio, uma solidão daquelas  que doem na alma por mais rodeado de pessoas eu esteja.

Meu melhor amigo é meu fone de ouvido. Uma segurança em tempos de crise, ou seja, quase o tempo todo. Me permite ouvir canções e elas me permitem moldar a minha cara de paisagem para a humanidade. Se estou com meus fone, a vida é até suportável. Meus fones quebraram, só funcionam de um lado.  Ouvir música em mono torna a vida ainda mais triste e difícil de ser encarada. O Sol some, fica tudo nublado. Música mono é um soco no estomago que se toma a cada cinco minutos e ainda sim eu não me acostumo com a dor.

Eu até tento ser feliz mas eu penso que a felicidade é uma via de mão dupla e como eu não consigo fazer ninguém feliz, eu também acabo não sendo. Minha timidez, minha inabilidade de lidar com o mundo, minha fraqueza em geral me definem. E me definham. Não adianta, até posso parecer forte e violento, mas sou uma pessoa absolutamente acuada em um corner escuro que tem consciência de que aos 42 anos talvez a vida já tenha acabado no sentido de vive-la de forma plena. Me restam pedaços de felicidade que logo são substituídos pelo monocórdio passar de um tempo feito de tristeza e dor.

Eu não sirvo para ser feliz eu acho. Porque ser feliz demanda uma vontade que eu não tenho de ser legal com tudo e todos, de parecer melhor que sou, de se relacionar com os que a sua volta estão. Eu quero ficar sozinho, eu quero ser sozinho.  Eu falo com meus clientes por obrigação e é tão aflitivo porque na verdade depois de 10 minutos conversando com eles eu me sinto entediado, aborrecido, querendo expulsa-los de minha vida. Dai lembro que preciso de dinheiro e me incomoda tanto precisar de dinheiro!!! Nada me da mais raiva do que precisar de dinheiro. Correr atrás dele me incomoda, me ofende a integridade, o pouco dela que em mim restou. Eu  sou um sujeito infeliz, a verdade é essa.

Sem partir para o sentimentalismo barato que eu tanto condeno, não ser feliz é algo muito triste. Não ser feliz é passar boa parte do seu dia perguntando a si mesmo o porque deste estado das coisas. Por que não ser um pouco apenas feliz, porque meu "bolo" de felicidade não pode ser mais gordinho, mais cheio de recheio, mais gostoso enfim. Não ser feliz é mais ou menos como ser uma TV em preto e branco. Porque o problema esta menos em eu assistir e enxergar o mundo em preto e branco e muito mais em retransmitir a minha vida assim, desta forma sem graça e opaca. Quem chega perto de mim sabe que sou opaco e sem graça, esta é a verdade sobre mim.

A tristeza de não ser feliz não é exclusividade minha, eu bem sei, mas tem gente que passa pela vida e nem percebe que não foi feliz. Eu percebo, eu sofro, eu estou se não morrer de ataque cardíaco no meio da minha vida. O que vou fazer dela? Passar mais 30, 40 anos sendo infeliz??? Me contentar com pedaços de felicidade? Com momentos fortuitos? Vale a pena? O pior é que se alguém me perguntar o que considero um modelo de felicidade, desculpe, não sei dizer. Não vive neste "modo" por tempo suficiente para ter uma resposta.

Admiro as pessoas que insistem em gravitar perto de mim o suficiente para entrar no meu mundo. é feio, escuro, quase irrespirável. Praticamente um Netuno. Uma bola de gás tóxica. KEEP OUT!!!

É triste, muito triste não ser feliz. É como olhar para uma janela e ver a chuva caindo o tempo todo, mas não com a poesia que esta visão pode ter. É uma chuva persistente, que não passa, e que parece querer inundar tudo em volta. Uma hora, vai conseguir.

É isso.

Ouvindo: Jars of Clay

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