quinta-feira, 30 de abril de 2015

Após 10 anos.


Dez anos. São dez anos que não falava com minha mãe. Dez anos sem ter noticia, sem saber se estava bem, mal, se estava viva ao menos. Me pichem, falem mal, me chamem de insensível, tanto faz, mas fato é que não senti falta. Não chorei, não perdi o sono, não houve uma única emoção relacionada a isso. Nadica de nada. Só um silêncio surdo, interno, uma quase indiferença, temperada com uma perplexidade pelo rumo que a vida toma. Nada além disso.

Mas ai, esta semana, minha tia faz a ponte e coloca minha mãe no telefone. Ouvir a sua voz deturpada pelo álcool não é uma experiência agradavel e depois de anoslutando para ser amado  não apenas por ela mas pela humanidade como um todo eu consegui passar desta fase, gostar de mim mesmo e cagar para o que pensam ou o que sentem a meu respeito. Não posso a  esta altura da vida sequer pensar em montar para ter o amor de alguém que nunca se importou e agora aos 63 anos quer me amar. Sinceramente? Não precisa, e embora por uma questão puramente social eu deva sim visita-la e ajuda-la e conforta-la, o farei por dever, não por amar. É triste, mas é isso.

Eu carrego  minhas angústias, magoas, meus traumas e tento conviver com cada um deles. Existem momentos em que tudo vem a tona e eu choro, me arrebento, me explodo de raiva misturada com mágoa e fico me perguntando porque tive pais tão preocupados com eles mesmos e nada comigo. Esses momentos passam e volto a viver dentro de uma normalidade ainda que precária. Não existe normalidade tranquila dentro de mim, eu não sou o amor que caminha, sou tempestade e muito desta minha tormenta vem de não ser amado, não ser aceito, ser um errante, alguém que caminha sem razão nem porque.

Nestes dez anos a vida se movimentou e eu ora com insuspeita intrepidez, ora forçado pela inércia natural dos acontecimentos me movimentei com ela. Me esforçava para não lembrar do passado, mas as lembranças são atos muitas vezes invonluntários para os quais não existe previa defesa. Quando menos se espera elas te assolam e isso e  obviamente ser bom ou ruim.  neste caso, devastador.

Enfim, após 10 anos falei novamente com minha mãe. Amenidades, fui mega educado como cabe a um filho, lembramos do passado. Não um passado tão distante, mas um passado acessivel a nós, uma zona de conforto que não nos magoe ainda mais, um passado asséptico e esteril, um passado improvável que talvez só exista em nossas cabeças, um passado que talvez nunca tenha existido mas nos protege de nós mesmo. Uma conversa de dois loucos. Sim, dois loucos, pois em termos de locura, puxei totalmente a Dona Alexandrina.

É isso

Ouvindo: J, Cash

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