quinta-feira, 30 de julho de 2015

Sera que ela ainda me amaria?


Tenho uma dúvida cruel, que me assola e volta e meia me atormenta. Minha irmã, Fernanda que morreu e hoje estaria aproximadamente com 32 ou 33 anos, ainda me amaria se viva estivesse? Ou será que como tantos outros me acharia um ser intolerável? Pode parecer bobagem, mas é para mim é algo terrível de se pensar porque não tenho resposta possível para isso.

Eramos inseparáveis e ainda hoje posso ouvir o som de sua voz e ver os seus cabelos dourados como campos de trigos, revoltos, correndo para lá e para cá. As vezes, deitávamos um do lado do outro e ficamos aconchegados, sem trocar palavra e ela dormia. Não sei exatamente porque mas toda vez que escuto a "Ave Maria" com a interpretação de Maria Callas, lembro destes momentos. Se ouvir com Jessye Norman, nem ligo, mas com Callas, é como se me transportasse para aqueles momentos e eles se tornam tão vívidos, tão reais, que quase posso toca-la.

Me conforta saber que existiu uma pessoa no mundo que ainda que embebida em total inocência inerente a sua pouca idade me amou sem reservas e sem julgamentos, mas como disse acima me atormenta não saber se este amor teria durado. Ela certamente teria outros amigos, mais legais que eu, um namorado, marido, enfim, pessoas que preencheriam sua vida e minha irmã, acreditem, estava fadada a ser uma pessoa que além de chamar a atenção de todos faria com que todos a sua volta nutrissem apenas sentimentos positivos sobre ela.

Eu não sei se ela me amaria ainda mas seu que eu a amaria ainda mais, com ainda a amo, ou amo a sua memória e as lembranças que ela me traz. Minha irmã era todo encanto e dulçor e tinha prazer em minha companhia. Até hoje não consigo entender o porque deste prazer. Depois que ela se foi, não consegui identificar ninguém que genuinamente sentisse prazer em estar comigo com ela tinha. Me parece que sempre existe uma parte de obrigação nas interações comigo por parte das outras pessoas que comigo interagem. Claro que posso estar errado, mas é assim que vejo e sinto.

Eu queria ter uma certeza a este respeito. Acalmaria meu coração. Me faria saber se sou um caso absolutamente perdido ou se consegui fazer ao menos uma pessoa me amar. Eu não sei e nunca saberei esta resposta e em dias especialmente tristes como hoje, esta certeza me traria alento a alma, me deixaria menos infeliz, me daria um animo que no momento não tenho.

Amor é tudo o que tenho, apesar de parecer o contrário. É tanto, que não sei o que fazer com ele.  Estou ouvindo "Ave Maria" estou vendo aqueles cabelos loiros revoltos correndo pela casa ou pelo quintal. Estou ouvindo aquela voz que me chamava de 'Davizinho", estou quase sendo o tal Davizinho, mas dai me lembro que a vida me fez Miranda. E o Miranda hoje esta destroçado.

É isso

Ouvindo: Maria Callas

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