domingo, 16 de agosto de 2015

Reflexões que um Domingo de Sol traz (eu, uma versão de Jeff Goldblum em "The Fly")


Eu sou gordinho. Já fui magro, gordão, hoje sou gordinho. Não que a distinção mude alguma coisa em relação a quem eu sou, mas diz muito sobre como eu sou, no sentido físico. Que no final das contas, pouco importa (ao menos para mim).

Já fui um cara bem bonito quando jovem. Hoje sou beeem feio. Tenho total consciência disso. Não que isso importe também (ao menos para mim). Ser feio te deixa anonimo e não chamar a atenção pode ser, sob certos aspectos, algo extremamente positivo.

Sou, na maioria das vezes, um cara intratável. Difícil de se lidar, mal humorado, que diz bobagens e distribuo ofensas em escala industrial sem olhar a quem estou ofendendo e sem pensar se é necessário ou não ofender. Isso me faz ser odiado por boa parte das pessoas que me conhecem. Não que isso importe, (ao menos para mim).

Eu tripudio sobre a burrice alheia, alias, nãop perco uma chance de evidenciar o pouco conhecimento ou o rebaixo intelectual dos meus interlocutores sempre que possível. Faço isso pra me divertir, mas é, confesso, uma diversão bem solitária, uma vez que na maioria vezes as piadas são tão especificas, e as pessoas tão tapadas que simplesmente não conseguem entender do que estou falando. Não que isso importe, (ao menos para mim).

Eu não tenho modos. Eu peido o tempo todo, arroto, falo palavrão para caralho, falo em geral muito mais alto do que a boa educação manda, dou risada de coisas que as pessoas não entendem e me acham meio maluco por este motivo, eu toco o puteiro mesmo em termos de regras de convivência. Sou um gordo chato, mal educado e feio. Não que isso importe, (ao menos para mim).

Eu sou mais ou menos como o personagem de Jeff Goldblum em  "The Fly" (A Mosca), filme magistral de David Cronenberg, onde por uma série de fatores que não vem ao caso explicar, (vá assistir ao filme), o personagem central vivido por Jeff, vai se transformando em uma Mosca especialmente gosmenta e repugnante. Creio que passo a passo caminho para isso irremediavelmente estou a poucos me tornando uma mosca gosmenta e repugnante. Não que isso importe, (ao menos para mim).

A pouca cerimônia com que minha derrocada e a indiferença brutal que a ela dedico, são os principais fatores que me levam a escrever este texto em um Domingo que chega a ser quase obsceno de tão lindo. Por mais que eu tente, não consigo ser agradável aos olhos das pessoas, não consigo faze-las felizes com minha presença. Se tento ser agradável, acabo errando no tom e na quantidade e me torno chato. Se sou o que naturalmente sou, desagradável, estou em meu elemento, confortável, mas o desconforto a minha volta se torna evidente. Penso que seria interessante se as pessoas pudessem andar com um spray como o dos juízes de futebol, tendo o direito de delimitar com ele uma distância segura entre elas e eu. Todos ficariam felizes, e a intereção seria restrita ao minimamente necessário. Não que isso importe, (ao menos para mim).

Tenho o péssimo ato de me sabotar. Ontem ao conversar com meus clientes, disse-lhes casualmente que não tenho poder de gestão para ser um gerente de equipe de vendas. Isso é a mais pura verdade. Nas vezes em que fui convidado, declinei o convite, não sem uma dor enorme no coração, pois sempre quis ter uma equipe de vendas, sei muito bem que uma equipe de vendas nunca iria querer me ter como gerente. Eu fracassaria e se vislumbrasse a menor possibilidade de sucesso, daria um jeito de me sabotar, Eu me saboto o tempo todo, eu jogo contra  a menor possibilidade de sucesso que possa ter, porque acho que o sucesso seria a chave para o meu fracasso retumbante e final. Eu certamente não estaria pronto para o sucesso, ele me tornaria uma mosca ainda mais gosmenta e repugnante, não restando outra solução aos que comigo convivem  senão a minha total aniquilação. Não que isso importe, (ao menos para mim).

E é nesta total falta de importância que me dou e as coisas a mim relacionadas que sigo a minha vida. Tenho me sentido totalmente apático e por mais que queira genuinamente gostar mais das pessoas, interagir, ser uma outra pessoa, sempre acabo voltando ao ponto de partida de que não me interesso, antes de mais nada, por mim mesmo. Não me acho uma pessoa que tenha um mínimo de aptidões ou habilidades que possam interessar a quem quer que seja. No meu infinito particular, existe apenas uma carga muito grande de sofrimento pontuada com tentativas patéticas de transforma-lo em energia para superação. Não consigo. Não que isso importe. (ao menos para mim).

É isso.



Ouvindo: Maria Callas

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