domingo, 25 de outubro de 2015

No país dos "Los Hermanos", quem faz sucesso é Thiaguinho.


Los Hermanos é sem dúvida uma das maiores bandas que o Brasil já produziu. Eu acredito plenamente que presente não se mede pelo preço e sim pelo simbolismo, pelo gesto, então o CD "Ventura", dos caras, foi um dos presentes mais importantes que dei para minha Rafaela e fiquei muito feliz ao perceber que ela absorveu, gostou e se tornou fã da banda.

Outra crença minha é que música é importante demais para ser vazia. Seja em que estilo for, tenha o ritmo que tiver, um artista não pode entregar uma garrafa vazia ainda que plasticamente ela seja linda. É desonestidade. Pura e simples desonestidade. E o meu problema maior com esta geração de sertanejos universitários e pagodeiros é exatamente esse: Seus produtores fazem questão que a música seja vazia sem graça e principalmente não faça pensar, faça apenas a pessoa querer danças e se desconectar da vida real. Lamentável.

Los Hermanos, Pato Fu e outras poucas bandas sempre foram nesta contramão. Você pode até não gostar das músicas deles como eu por exemplo não gosto da "Banda do Mar" projeto de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães, mas respeito profundamente a sonoridade que produzem, as letras que compõe porque fica nítido que buscam uma integridade musical, que as músicas falam sobre seus valores, sobre seus caminhos, não é uma música feita para que todos gostem, mas para que eles antes de mais nada a apreciem.

Fica evidente quando se ouve os trabalhos do Los Hermanos que a figura do produtor não é preponderante, que ele não dita as regras e os caminhos que a banda vai seguir, ele apenas colabora com a harmonização das idéias que certamente devem ser muitas e da o formato final ao trabalho, o que no caso dos sertanejos e pagodeiros não acontece, pois eles tem que fazer absolutamente tudo já que seus pupilos não entendem de nada mesmo tocando um ou outro instrumento. Não que isso acarrete em um grande trabalho, já que todos os cds de sertanejo e pagode são exatamente iguais e é exatamente isso que se busca, que sejam iguais, sem grandes variações para que a massa sem senso crítico e que sempre quer mais do mesmo continue comprando as porcarias que ano após ano invadem o mercado.

Ontem, por exemplo, houve um show do tal Thiaguinho no Citybank Hall. Deve ter lotado, é claro. Mais shows deste bobolino se seguirão e continuarão lotados. Agora a audição de um álbum seu, revela sim arranjos até que bem elaborados, não sou trouxa de afirmar o contrário, mas é o caso da garrafa bela sem conteúdo algum. Sias letras são desprezíveis, escritas muito provavelmente por pessoas que nunca leram um livro na vida, ainda que seja de Paulo Coelho por exemplo, que dirá, um clássico. Quem não lê, não tem referência para escrever e quem não tem referência escreve mal e porcamente e se até eu que devoro Graham Greene no café da manhã só produzo textos patéticos, imagina esses compositores que se ouvissem o nome escrito acima diriam que isso é a minha mãe...

A falta de qualidade da música brasileira não é de forma alguma exclusividade nossa, mas aqui ela se acentua porque as gravadoras não querem lançar nada que tenha qualidade, querem jogar para ganhar, querem maximizar lucros e não percebem que fora do grande público mentalmente prejudicado existe sim uma parcela da população que pagaria para ter música de qualidade e deixam isso para os chamados "independentes" que se viram como podem para manter o padrão de qualidade de suas produções.

Infelizmente terei que aguentar calado o sucesso de Thiaguinho e seus parceiros inúteis porque é assim que as coisas são, ao menos tenho acesso a arte musical que acredito relevante a hora que eu quero e não dependo da grande mídia para descobrir novidades promissoras. É triste constatar que no país do "Los Hermanos",  quem faz sucesso é o Thiaguinho...

É isso.

Ouvindo: Los Hermanos

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