quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Sobre luzes e melancolia


Não é que eu seja uma pessoa cinza, nada disso. Embora em alguns momentos esta cor me caia bem como metáfora de uma vida vivida as margens da felicidade. E é bem isso sabe? Engraçado esta definição ter vindo agora, mas eu vivo as margens da felicidade. Ela é como um rio caudaloso, porém manso e gentil, que convida a  um mergulho profundo em seu leito, mas eu não me arrisco. E se eu me afogar de tanta felicidade? E se eu me acostumar com ela? Oque eu faço o dia que o rio secar?

Falar sobre melancolia é correr o risco de resvalar em vários clichês e dos piores clichês na verdade. é ser patético querendo ser apenas o que se é, pois a melancolia vista por quem a observa e não sentida por quem a vive é nada além de patética. Eu não invejo quem é feliz o tempo todo, apenas não entendo como alguém pode viver assim. Não entendo. Me demandaria um esforço que não esta em mim.

Não sou, é claro um um infeliz contumaz, nem de longe, apenas não sou o cara mais solar do mundo e sempre sinto uma ponta de falsidade ou de forçação de barra em quem faz questão de andar com um sorriso atarraxado nos lábios o tempo todo. Minhas alegrias são pontuais, como flashes de luz que espoucam aqui e acolá e logo se apagam. O mundo, não é um playground gratuito e as diversões que encontramos nele geralmente são pagas, além de muito caras.

E o pior é que pagamos caro por diversões baratas, esse é o lado irônico da  questão.  Uma limonada por exemplo, nunca pode ser apenas uma limonada, ou seja, limão, água e açúcar. Isso não é limonada nos dias de hoje. Para ser reconhecida como tal, ela tem que ser servida com raspas disso, redução daquilo, com açúcar especial de nome empolado e em porção minima que pega mal tomar um copão de limonada ou o que quer que seja.

A melancolia me mantém são. Não aceito sair sorrindo sem vontade. Não acendo luzes onde a escuridão é mais acolhedora. Sou feio, ninguém precisa ver meu rosto iluminado com um sorriso e piorar a situação da feiura com a exposição de uma arcada dentária prejudicada. Eu não vou pedir para que sorriam para mim também, a menos que queiram. Luzes são necessárias as vezes, mas podem ficar adormecidas se necessário for.

Eu gosto de sentar sozinho no Starbucks pedir um café e observar. Observar pessoas, observar atitudes observar a mim mesmo. Meus cafés são sempre cheio de cremes e gelados e com tudo que os faça não parecer com café da forma como eu mesmo o conheço. é minha forma de fugir. Se eu peço um café simples, um expresso, estou no modo realidade. Se o café é cheio de trique trique é claro que quero mais do que a experiência de sorver cremes que de tão gelados me dão dor de cabeça. Estou fugindo seja do que for e o Starbucks e seus cafés são meu porto de seguro. Dai posso sorrir de forma anônima, fora da realidade, desligando a minha própria consciência e apenas observando outras pessoas e suas formas teatrais de viver a vida.

O teatro de viver não é para mim. Não sou canastrão, não sou histriônico e muito menos sou um bom ator. Sou um minimalista que joga suas emoções na cara dos outros e ninguém gosta disso. No palco, sempre sou vaiado, as luzes se apagam para mim e ligam as luzes de serviço indicando que o breve espetáculo acabou. O minimalismo emocional não serve nos dias de hoje. Ser quer se é, ter a consciência de seu papel no mundo não serve para nada além de ser acometido de uma melancolia cronica. Mas e dai? Quem liga de verdade para isso?

Por mim, as luzes podem adormecer a mesmo entrar em sono profundo. Vivo de sombras, vivo nas sombras. Sou um vulto, não uma forma completa. A vida vai, a vida vem e um dia ela acaba. E ninguém nem nota, a verdade é esta.

É isso.

Ouvindo: Chris Rice

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