sexta-feira, 22 de abril de 2016

Sobre gostar de mim


Não valho a pena. E digo isso sem a menor auto comiseração. É algo real, palpável, principalmente para mim que me conheço a longos 43 anos. Pensar em gostar de mim, de minha cia, de minha pessoa é uma jornada que vira fardo, um caminhar com bolas de ferro presas na canela, um extenuante exercício de perda de tempo. Existem coisas muito melhores para se fazer na vida.

Já achei que quem buscasse ver sob a superfície aparente de mim fosse gostar das camadas internas. Balela que criei para mim mesmo. Quanto mais alguém se aprofunda em mim mais se decepciona e encontra ainda mais do que não gostar. Sou enfadonho, não sou leitura clássica e nem mesmo Pulp Fiction. No máximo sou Cassandra Rios, que ao escrever sobre erotismo achava ser um Nabokov de saias em busca de ela mesma escrever sua "Lolita", sua masterpiece. Só escreveu romances baratos.

E talvez na comparação acima se resuma tudo o que se precisa saber a meu respeito. Minhas referências são fantásticas, espetaculares mesmo, mas minha capacidade de equiparar-me a elas é nula. Sou uma mula que sonha em ser cavalo. Algumas mulas podem fingir que o são e até enganar algumas pessoas, mas não deixam de ser mulas. Minhas aptidões são para o transporte pesado, não para o refinamento de correr um "Grande Premio Brasil". Não sou  Secretariat , o lendário cavalo americano, sou o Pé de Pano pangaré sem brilho do desenho do Pica Pau.

Não existe tristeza nisso tudo. Constatar quem se é de fato, é libertador e ter coragem de dizer em alto e bom som é uma forma de depurar-se e tentar talvez fugir da mediocridade. Se minhas rimas não são como as de Marshall Bruce Mathers III (Eminem), que ao menos cheguem perto das produzidas por Bars and Melody.

E afinal de contas, cada um é como é. Pode até parecer uma frase tosca esta, (e de fato é), mas cada pessoa carrega, suas histórias, suas tristezas e alegrias suas conquistas e frustrações, suas razões e devaneios e tudo o mais o que compõe um indivíduo e não levar em conta toda essa carga individual que cada um carrega consigo é no mínimo injusto quando se trata de pensar o que quer que seja sobre atitudes de quem quer que for.

Não me importo com julgamentos exatamente por este motivo, mas me importo menos ainda por saber que eu mesmo me julgo constantemente e sempre sou reprovado por mim mesmo. Mais pessoas me reprovando só corroboram ainda que por motivos diferentes do meu que não tenho nada de boma  oferecer a quem quer que seja. Me aflige um pouco, por mais estranho que possa parecer, o fato de não ter nada de mal também a oferecer, porque isso me torna uma pessoa completamente "flat". Não sou bonzinho e não malzinho, logo a indiferença que me é designada pela imensa maioria das pessoas é totalmente justificada.

Não me convidem para festas, batizados, churrascos, peladas ou qualquer outro evento social. Não que eu não fosse gostar de ir, não me entendam mal. Quem me conhece minimamente sabe que fora do meu ambiente de trabalho eu sou uma pessoa extremamente tímida, não consigo me abrir e interagir, tenho medo de dizer algo e ser mal interpretado e da vergonha que me sobrevirá em seguida. Não sou cia para ninguém, nem a solidão gosta de estar ao meu lado.

Eu sei quem eu sou, e sei que a verdade tem que ser encarada de quanto em quando. Como o blog é meu, escrevo o que eu quiser e pronto. Tento me depurar as vezes, me livrar das toxinas emocionais que me arrasam. é um processo de mergulho em meu interior. Gostaria de dizer que consigo emergir renovado, mas não é exatamente isso que acontece. Eu gostaria de ser legal, de ter pessoas que gostassem de conviver comigo, que achassem isso um prazer, é besteira afirmar o contrário. Mas não sou e não tenho. A vida nem sempre me sorri e quando sorri não mostra os dentes sendo no máximo, um ensaio sobre o sorriso.

Fazer o que?

É isso.

Ouvindo: Prince

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