quinta-feira, 12 de abril de 2018

Black Mirror e o Futuro Que Eu Não Quero



Antes de mais nada a assepsia revelada nos tons pastéis que permeiam o futuro imaginado pelos criadores de Black Mirror não é feita para mim. Na verdade não é confortável para qualquer ser humano que pense minimamente com seus próprios neurônios sem se deixar levar pela malta em sua volta. Tudo  é construído em tons supostamente confortantes e confortáveis (pastéis) mas bastam alguns minutos no decorrer dos episódios para que esses tons se tornem opressivos e o que seria confortante se torne uma espécie de controle ou tentativa de controle de sua mente que começa exatamente doutrinando-a  a achar conforto na opressão.

O futuro de Black Mirror é baseado em controle extremo e emoções minimas. Amar, na série é quase que um pecado capital e embora a tecnologia seja apresentada  quase sempre no papel de vilã, devemos lembrar que quem a desenvolveu é o real  culpado, ou seja,  na ânsia de criar um mundo que jamais existirá a humanidade retratada em Black Mirror renunciou exatamente ao direito de ser humanizada e indo além da sociedade imaginada por Asimov onde robôs dominariam o mundo, o ser humano de Black Mirror acabou ele mesmo se robotizando, pondo toda a sua vasta gama de emoções de lado para viver de forma tão padronizada quanto irreal.

Um futuro  onde as pessoas podem bloquear outras pessoas, ( pra entender o conceito tem que entender a série e garanto: é bem perturbador)  podem saber em fração de segundo onde outra pessoa esta ainda que a milhas de distância, um futuro onde a privacidade é um conceito totalmente deturpado e completamente em desuso, onde a tecnologia serve primordialmente para privilegiar os mais ricos e impor um conceito onde a sociedade parece dividida novamente em "castas" e ainda sim todos ou praticamente todos anseiam por estar inseridos neste sistema sem maiores questionamentos ou melhor dizendo sem questionamento algum, não é exatamente uma sociedade que pareça ao menos para mim boa para se viver.

Claro, que o tom da série é crítico e os roteiros, todos soberbamente escritos até aqui (estou finalizando a terceira temporada) mostram de forma ácida que a vida da forma proposta nos episódios não é  de forma alguma positiva. Acontece que tanto na ficção quanto na vida real, entender conceitos elaborados é algo a qual o ser humano abriu mão a muito tempo. Se não houver uma explicação absolutamente detalhada a maior parte da população renúncia ao direito de entender por si só o que cria um terreno fértil para lideres insanos imporem sua visão de mundo absolutamente equivocada.

Claro que dentro de uma visão estritamente realista sei que o futuro de Black Mirror é absolutamente improvável, mas muitas das coisas que se diziam impossíveis de acontecer em um passado recente são corriqueiras hoje em dia, então, caso esse futuro em tons pastéis e rígido em controles chegue um dia, eu apenas oro para não estar mais caminhando por esta Terra.

É isso.

Ouvindo: Tony Tornado

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