E então um dia ela levantou-se, apoiou-se em sua bengala, caminhou com certa dificuldade até o rio que havia próximo a sua casa, abaixou-se, coletou pesadas pedras e as colocou nos bolsos de seu casaco. Entrou rio a dentro e deixou a correnteza leva-la enquanto seu corpo frágil se afundava e ela se afogava colocando fim em sua própria vida. Assim morreu Virgínia Woolf.
Escrevo este post ouvindo minha ária favorita, La Mamma Morta, ao som da maior voz que já existiu no Planeta Terra, Maria Callas. A frase que dá título ao post é dela, de Virgínia, uma de minhas heroínas na literatura, uma das razões do meu afeto pelos livros, a autora de Mrs Dalloway entre tantos outras preciosidades, sendo a minha obra preferida O Quarto de Jacob. Tenho pensado demais em Virgínia nestes tempos loucos de Pandemia global. Loucura, afinal, era a matéria prima de Virgínia, ela mesmo uma pessoa nada sã em termos mentais e por este mesmo motivo, tão fascinante.
As vezes me sinto vagando pelos cenários por onde viveu Virgínia. Uma mulher tão a frente de seu tempo, com sua fina ironia, sua inteligência aguçada, sua visão de mundo tão única que a fazia ser em plena década de 20 ser dona juntamente com seu marido de uma editora. Uma editora!!! Em uma época em que as mulheres mal eram alfabetizadas, Virgínia escolhia o que lançar no ainda incipiente mercado editorial inglês.
Me identifico demais com Virgínia não pela sua inteligência ou desenvoltura com a escrita, claro, mas por sua fragilidade ao se relacionar com outras pessoas. Como se o mundo lhe sufocasse o tempo todo e tudo e todos (ou quase todos) fossem enfadonhos, sem brilho, sem conteúdo e lhe sobrasse apenas uma sensação de sufocamento constante ao ter que interagir.
As vezes acho que se não tivesse me tornado Corretor de Imóveis teria pego já umas pedras pesadas e colocado em um casaco embora o rio que sempre esteve mais próximo de mim nada tenha a ver com a o bucólico rio que a levou. Mas enfim, se em várias medidas a corretagem talvez tenha me arruinado emocionalmente, ela também me salvou em outras tantas ao me forçar a interagir com pessoas sem enxerga-las como uma total perda de tempo, tendo que estuda-las entende-las de alguma forma, compreender o outro de formas que jamais me interessaria compreender. A corretagem é o meu veneno e meu antídoto.
Tenho andado pensando em Virgínia, como disse, porque nestes tempos últimos o mundo esta para mim, muito mais louco que de que costume. Ver pessoas se embriagarem na internet apenas por diversão virou algo normal. Noticias de que as agressões contra as mulheres aumentaram exponencialmente apenas porque agora os casais tem que conviver por mais tempo juntos me assustam assim como me assusta o desapego pela vida humana personalizado no comportamento de alguns políticos que não são meros vereadores de cidades desimportantes, mas Presidentes, Ministros e tantos outro do alto escalão.
Comprei uma coleção com algumas das obras mais importantes de Virgínia e mal posso esconder a ansiedade pela chegada em minha casa desses livros. Quero me refugiar neles, na penumbra da madrugada em minha sala, sorvendo cada palavra, cada parágrafo, cada capítulo escrito por Virgínia e ter contato com alguém que jamais conhecerei por obvio, mas que tenho certeza, teríamos muito a conversar durante um chá da tarde.
O mundo esta me enlouquecendo e eu apenas disfarço a angústia e o medo ante um futuro cada vez mais incerto. Se competente fosse, escreveria um livro, como não sou, apenas os leio.
A vida é como um sonho, é o acordar que nos mata.
É isso.
Ouvindo: Maria Callas

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