terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Assisti "O Astronauta" Novamente e Fiquei Chocado Com Tudo Que Não Tinha Percebido Antes

 

Claro que iniciar o texto falando sobre a atuação espetacular de Adam Sandler é chover no molhado pois mesmo quando esta repetindo o típico desmiolado em uma comédia meia boca qualquer ele é muito bom, então imagine ele fazendo um papel de verdade em um dos filmes mais subestimados dos últimos tempos que merecia facilmente Palma De Ouro em Cannes, Urso de Prata em Berlim e o Leão De Ouro em Veneza e claro, o Oscar. Sandler por seu turno merecia todos os prêmios citados como melhor ator por contracenar apenas com ele mesmo em 99% do filme ao dialogar com uma aranha gigante que não é real.

O filme é sobre o silêncio. Um silêncio auto imposto de alguém que se candidata a uma expedição pelo espaço sideral sabendo que vai só apenas terá interação ao falar com o comando da missão na Terra que ficará a milhões de km de distância. Aceitar tal empreitada revela muito sobre o estado de ânimo de quem a toma para si e ainda que se olhe essa jornada como um ato de estoicismo em nome da ciência, revela também o quanto o ser humano pode fazer para não ter que confrontar-se consigo mesmo, ainda que para isso tenha fugir em um foguete rumo ao espaço desconhecido.

O Personagem de Sandler foge e em sua fuga percebe que não importa para quão longe ele for e muito menos o quão em silêncio ele ficar. Os sentimentos de que ele tenta se livrar, a tristeza, a agonia de um amor mal resolvido com sua esposa, e até uma certa falta de amor próprio, tudo isso e outros tantos sentimentos embarcaram com ele nesta grande aventura, de forma que é impossível livrar-se de tudo o que sente e lhe aflige de forma que esta aflição se amplia ainda mais no silêncio ensurdecedor de um Universo tão grande quanto opressor.

O pano de fundo que é uma (propositadamente) mal explicada missão científica a ser executada em favor da humanidade, em momento algum toma qualquer dimensão de relevância para a história e tudo o que importa é a dor e a solidão do personagem de Sandler, que ele mesmo econômico e  com 0 maneirismos consegue expressar de forma tão cristalina. Assistir "O Astronauta" é torcer para que em algum momento Sandler conduza o seu personagem a uma senda onde a dor diminua e a vida se reconecte, mas torcer por coisas assim é mostrar um nível de ingenuidade que não cabe nos dias de hoje pois a vida sempre dará um jeito de impor a solidão, não importa se cercado de pessoas ou se no espaço com uma aranha gigante.

Entre aranhas falantes e astronautas que sofrem dores de amores e desamores, "O Astronauta" nos convida a entender que cada pedacinho de felicidade por mínimo que seja, importa, pois serão sempre maiores as tristezas e as agonias de uma vida que teimamos em viver mesmo que nem sempre valha a pena e mesmo que em alguns momentos a ideia de entrar em uma nave espacial retrô como a do personagem de Sandler não pareça de forma alguma disparatada e sim algo a se considerar de forma séria.

É isso.

Ouvindo: Elton John e sua fantástica Rocket Man


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