Eu ando comendo muito mingau de fubá. Não aquele bonitão que é como uma lamina no prato, todo bem feito. O que eu faço é uma massa desforme, sem graça, mas gostoso. Ao menos, para o meu paladar é muito gostoso. N verdade, mais importante que ser gostoso ele é carregado de memórias afetivas, recheado de lembranças da minha mãe. Eu cresci comendo este mingau feito pelas mãos dela que muitas vezes fazia porç]ões duplas e comia comigo. Hoje eu sei que faltava as vezes grana pra gente comer outra coisa então a gente comia o tal mingau, mas ela fazia de uma forma que parecia ser um dia especial, um momento mágico comer o tal mingau. E de certa forma, era.
Hoje, quando encosto a barriga no fogão e faço o tal mingau sempre é na esperança de reviver momentos, ainda que em forma de lembranças que foram vividos ao lado de minha mãe, momentos de uma infância tímida e introspectiva vivida entre livros e amigos imaginários que tinham as formas mais esquisitas possíveis. Fico ali mexendo com a colher de pau o fubá, o leite e o açúcar e as lembranças me inundam. São bons momentos ainda que encharcados de uma melanolia que embora tão minha parceira de vida fica mais latente em momentos como esse.
É interessante como uma comida pode despertar tão profundas lembranças que ficam por muito tempo guardadas em lugares de díficil acesso de minha mente talvez porque eu não queira que elas apareçam de forma palpável com frequência. Lembranças de um garotinho que quase sempre brincava sozinho, via tv sozinho e tinha como companhia mais frequente os personagens dos livros que lia. Fiquei amigo de Sancho Pança, de João Grande, de toda coleção "Para Gostar de Ler" e de toda coleção "Vagalume".
Sempre fui mais feliz (nas raras vezes em que fui efetivamente feliz), sozinho, matutando comigo mesmo sobre as questões que me eram caras para entender o mundo ao meu redor do que acompanhado, pois sempre que acompanhado estava, me sentia só entre tantos. Assim como ainda hoje me sinto. Só, ainda que rodeado de pessoas. Só, ainda que falando para várias pessoas ao mesmo tempo. Só, ainda que acompanhado.
Na últrima semana devo ter comido mingau de fubá ao menos umas 4, 5 vezes. É muito. E além de muito, não é por falta de comida melhor, ou comida qualquer que seja. É para que a saudade de minha ,ãe pare de gritar um pouco, para que eu me revisite menino e talvez me decifr adulto, antes que velho eu me torne um enigma indecifrável para mim e para os que perto de mim estão. Estou engordando de novo e comer tanto mingau assim vai me fazwer engordar ainda mais. Minha mãe me censuraria ainda que soubesse que tem a ver com o desejo de dela me lembrar.
Eu me lembro vividamente de um dia eu, minha mãe e Fernanda, minha irmã que se foi, tão cedo se foi, comendo mingau e os 3 riam à solta. Foi um dia feliz, muito feliz. A felicidade no final das contas pode estar escondida em um prato de mingua de fubá e ultimamente eu tenho desesperadamente tentado a encontrar.
É isso.
Ouvindo: Fernanda Brum
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