quarta-feira, 13 de julho de 2016

Carta para Rafaela



Hoje você faz 16. O tempo passa muito rápido não? Ontem eu te jogava para o alto e aparava a sua queda sorridente. Você confiava cegamente no que eu dizia e fazia. Eu era mais alto e forte do que você podia imaginar possível e hoje temos a mesma altura. Eu cantava para você e você se acalmava. Se eu cantar hoje para você, provavelmente você sairá correndo. Mas a vida é assim.

Sua maior virtude, filha amada, é ser jovem. Seu maior defeito, também. Paradoxal não? Suas juventude joga a seu favor mas te faz querer correr. Quer um conselho de quem te ama? Não corra. Ande rápido, mas não corra. Pense alto,  sonhe, realize. Antes eu guiava os seus passos, agora só posso seguir você bem de perto pra caso você pegue um desvio errado na estrada eu esteja lá para te socorrer. E eu estarei, pode ter certeza.

No  entanto, a cada dia que passa, os seus caminhos serão traçados por você mesma filha. O certo, o errado, o bem e o mal, se antes eu podia segundo os meus critérios mostra-los a você, hoje cada dia mais é sua responsabilidade defini-los como conceitos seus e usa-los para ser uma pessoa de bem e do bem.

Não estou mais a seu lado, ando um pouco atrás, sem jamais perde-la de vista e principalmente pronto a interceder por você em caso de necessidade. Você vai ser uma mulher brilhante, eu sei disso. Seu gênio difícil, sua falta de paciência tão típica de sua idade, sua coragem em pensar como pensa, sua firmeza de caráter tão precoce, tudo isso eu sei moldarão uma mulher que saberá se colocar no mundo em que vive.

Você não nasceu, Rafaela, para perder ou ser figurante. Nada disso. Seu papel é de protagonismo no que escolher fazer, não porque você seja minha filha e eu esteja sendo tendencioso, mas porque você brilha, transcende a mediocridade reinante em muito. Mas sabe de uma coisa? Você não pode se embriagar em suas virtudes. Virtudes podem nos arruinar filha caso se transformem em meras características embebidas em vaidade. Não deixe a vaidade te dominar. Busque a excelência, busque ser excelente, mas sempre sabendo que todos tem o seu valor e todos  merecem respeito assim como você também merece.

Grite, chore, de risada, emociono-se. Cultive poucos porém leais amigos. Faça da lealdade as pessoas que você ama e confia e que confiam em você a sua  mais marcante característica. Deixem falarem o que quiserem a seu respeito, mas tenha uma vida em que não possa falar de seu caráter, de seus valores. Seus valores tem que ser mais importante do que seus bens. Não os venda, não negocie de forma alguma o seu credo mas construa um credo baseado na bondade e noa amore tudo o mais automaticamente se encaixará.

Você terá defeitos como qualquer pessoa. Você  já os tem filha. Não deixe no entanto que eles sirvam de muleta para comportamentos inapropriados. Não permita que suas fraquezas sejam maiores e mais aparentes que as coisas boas que você tem dentro de si. Se machucar alguém, de que forma for, peça desculpas. Seja grande e peça desculpas. Não se envergonhe se tiver que fazer isso.

No mais, filha minha tão amada, tenha uma vida boa, evolua, procure servir mais do que ser servida, procure doar mais do que receber, procure amar mais do que ser amada, procure a paz e ela te encontrará. Conte comigo, conte com meu amor incondicional e incondicional aqui não é figura de linguagem. Eu amo você acima de tudo e jamais estarei longe de você. Você é o melhor pedaço de mim, o que realmente fiz de bom na vida, talvez a única coisa boa que tenha realmente feito. Tenho orgulho de ser seu pai. Deus foi bom comigo, no dia que me deu você.Durma em paz.

É isso.

Ouvindo: Cat Stevens (Yusuf Islam)

terça-feira, 12 de julho de 2016

Larnelle Harris e seu dedo indicador para o alto


Larnelle Harris é sem duvida alguma uma das maiores e melhores vozes que a CCM Americana ja produziu. Seu estilo nada "firulento",  seu canto fácil, macio e ainda sim potente encantou e encanta gerações de amantes da boa música cristã contemporânea.

São inúmeros álbuns, dvds, participações especiais em trabalhos de outros artistas e um sem número de outras atividades ligadas a música que fazem de Larnelle referência obrigatória  quando falamos de música de qualidade, seja ela cristão ou secular.

Mas de verdade, o que mais me chama a atenção em Larnelle, não é a sua incrível voz. É o seu dedo indicador. Faça uma busca no vocêtubo com o nome de Larnelle Harris e preste atenção em suas de ao vivo. Sempre extremamente ovacionado Larnelle  jamais, eu disse JAMAIS, deixa de levantar seu dedo indicador para o alto redirecionando ao Senhor toda honra que sua audiência lhe oferece. Ele não fica com tal honra, não a aceita. Humildade e sabedoria fazem de Larnelle não um artista, mas um adorador.

Vivemos em um mundo onde não apenas cantores, mas também pastores, "apóstolos" (apóstolo é risível, mas ok!!!!) e outros pretensos representantes do Eterno na Terra, buscam para si toda honra e toda glória em uma tentativa estúpida e ineficaz de usurpar o que de Cristo é: Honra, glória e majestade.

Larnelle sempre entendeu que nada mais é do que um condutor de pessoas a glória de Cristo porque ele assim permite. Seu gesto singelo apenas sinaliza a sua compreensão do quanto ele é dependente da misericórdia do Eterno para realizar o seu trabalho. E me lembra de forma inequívoca a arrogância vigente nos dias de hoje.

Pessoas sem o menor talento querendo de qualquer forma alcançar o status de "artistas". Cantores realmente talentosos usando seu talento para enriquecer esquecendo do que deveria ser o seu propósito primeiro. Na outra ponta, um público ávido por "artistas" que se comportem como estrelas, pronto a endeusa-los ainda que tais pessoas mereçam não mais que a misericórdia do Eterno e mais do que isso, precisem urgentemente aprender a levantar seu dedo indicador para o alto.

Música dentro de um contexto cristão é nada mais que serviço. Nada além disso. A humildade e sobretudo o estar pronto a servir ao próximo são as molas propulsoras de uma carreira de sucesso dentro dos termos cristãos, que são termos bem diferentes dos termos seculares é evidente.

Que Larnelle possa continuar com seu dedo indicador apontado para o alto por ainda muito tempo. A música cristã precisa de personalidades como a dele.

É isso.

Ouviundo: Larnelle Harris

quinta-feira, 7 de julho de 2016

R.R. Soares, o Passaporte Diplomático (cassado, ainda bem!) e de como esse país jamais será nação


Uma nação se constrói antes de mais nada com um sentimento latente de unidade. Isso não existe no Brasil por este motivo somos apenas um país, uma porção (imensa) de terra relegada para sempre ao segundo plano. Jamais seremos protagonistas no que quer que seja, jamais. Muito triste, porém real, esta é a nossa condição.

E por que? Simples. Somos governados, anos após ano, década após década, por pessoas que não se importam em criar este sentimento no povo que governam. Meus pais e os pais dos meus pais, viram ascender ao poder apenas pessoas comprometidas com elas mesmas e com as poucas que as poiavam.  Criar uma nação, com todo árduo esforço que isso demanda, jamais esteve na pauta em época alguma em nosso território. Criar uma nação dá trabalho. é mais fácil enriquecer a  poucos  a custa do trabalho do povo do que criar riqueza que dê para todos.

Não falo só das grandes negociatas, da corrupção visível, do roubo incansável aos cofres públicos, de tudo enfim que vilipendia nosso sistema ao ponto de inviabilizar a criação de uma nação. Falo hoje dos pequenos delitos, das coisas comezinhas que destroem a moral do povo que o faz olhar para baixo e desistir de esperar algo que venha de seus governantes e começar a tentar resolver sua vida por si só. Claro que não clamo por intervenção do Estado em nenhum aspecto de nossas vidas, mas este Estado tem sima  obrigação de prover o mínimo para o seu povo que é também, seu principal contribuinte.

Para ficar em um exemplo, o do título do post, que país pode ser nação ao expedir passaportes diplomáticos a quem diplomata não é? Antes é um pastor de uma igreja que independente de ter um número elevado de membros é apenas isso, uma igreja? Qual o sentido de R.R. Soares e sua esposa terem passaporte diplomático? O que fizeram eles pelo país além de alienar uma parte considerável da população que se deixar alienar e destruir um dos cinemas mais lindos e significativos de SP para transforma-lo em templo?

Não existe sob qualquer ótica quer se olhe justificativa para que este senhor tenha um passaporte diplomático. Simplesmente não existe. Um Pastor alias, deveria se envergonhar de ter tal distinção. Jesus, o Cristo, figura a quem estas pessoas dizem seguir e mais, dizem representar na Terra, jamais aceitaria tal comenda, pois o filho do Altíssimo se fez homem e com os mais humildes e mal vistos andou. Cristo não queria comendas terrenas, não queria furar fila de aeroporto, não queria ser visto como um representante de um governo corrupto que destrói qualquer possibilidade de sermos nação nos reduzindo a um pais de quinta categoria, que se como eu disse no início do texto esta fora de qualquer protagonismo, nem coadjuvante pode ser, sendo um mero figurante, a despeito de seu tamanho e importância geográfica.

Jamais seremos uma nação enquanto no poder estiverem pessoas mais preocupadas em acalentar o coração de "lideres religiosos" que usam seu rebanho ao seu bel prazer, sem deixar qualquer possibilidade de evoluírem como pessoa com pensamento autônomo. Na terra em que se "plantando tudo dá" vivemos um deserto de ideias, de personalidades capazes de se levantar contra este estado  em que as coisas chegaram. Se é verdade que o poder corrompe, ele também apequena, diminui os que dele se apoderam. Justiça, liberdade, integridade, senso de união, nada disso existe hoje em nosso país. Somos um catado de pessoas sem direção, brigando cada um por seus interesses, quando poderíamos ser uma nação e uma nação poderosa.

Vivemos dias escuros e eles serão ainda mais negros pois figuras como José Serra que concedeu o Passaporte a R.R. Soares ainda dominarão nossa cena política por muitos anos e pessoas abjetas como R.R. Soares, estas sempre existirão, jamais serão exterminadas até que o Eterno retorne a esta Terra. Que triste!

Um dia, a Terra (Brasil incluso) será bela, o mal não existirá. E como foi um dia, de novo ficará. Este é meu credo, este é meu anseio.

Em tempo: Hoje, esta excrecência foi cassada pela Justiça Federal de SP. Ainda bem!

É isso.

Ouvindo: Grupo Elo

terça-feira, 5 de julho de 2016

Heritage Singers 45 anos


Heritage Singers, chova, faça Sol, ou aconteça qualquer outra intempérie sempre será minha referência número 1 quando se fala em música cristã de qualidade. Claro, antes deles eu já tinha ouvido VPC  por exemplo. Denise também é uma referência, assim como Armando Filho também influenciou e muito, a minha forma de entender a música e diga-se de passagem, não tenho vergonha alguma de citar Denise e Armando pois se eram limitados nos arranjos de suas canções e nas vozes que tinham, eram ilimitados no serviço, humildes, exemplos de conduta e tudo o mais que faz um cantor fazer a diferença.

A grande questão é que com o Heritage aprendi que a qualidade deve ser uma obsessão e embora alguns álbuns de algumas formações do grupo não sejam exatamente um primor quanto ao rigor técnico, no quesito entrega, que embora possa parecer subjetivo é o que realmente importa eles sempre foram 100%. Não existe um álbum sequer do Heritage que possa ser apontado como comercial, feito apenas para vender, para elevar o nome do grupo no cenário gospel, (e antes que críticos critiquem, na "indústria" que se transformou a CCM, Herigate Singers é pouco mais que nada, sempre com um esquema de distribuição pouco mais que amador, me lembro de apenas um álbum do quarteto dos caras que foi lançado por uma grande gravadora a Image7 e ainda sim das grandes ela era uma das menores.

Max Mace e Sua Esposa Lucy sempre foram livres para criam o som que achavam mais adequado para o momento do grupo, que começou com formações imensas, depois foi diminuindo, chegou a ter o Heritage Singers II  e mesmo com um esquema pouco agressivo no que diz respeito a colocar a marca para ser conhecida tornou-se um grupo mundialmente conhecido. Pode-se argumentar que apenas os Adventistas sabem que é Max Mace e seu Heritage Singers, algo que eu discordo veementemente porque hoje eles são sim, referência para muito artistas solos de diversas denominações  e também para quartetos e outros grupos.

O Heritage Singers além de manter sua integridade musical sempre se pautou pela forma séria com sempre lidou com a sua audiência. Nunca se viu escândalo algum no Heritage Singers de qualquer ordem.  Evidentemente não é um grupo composto por anjos, e até pelas inúmeras formações que já teve, pessoas que não tinham tanto comprometimento com a bora do grupo certamente devem ter passado por suas fileiras, mas isso não embota a capacidade de emocionar seus ouvintes e principalmente de proclamar o nome do Eterno com propriedade.

Meus parabéns ao grupo, a Max Mace seu grande idealizador e que venham muitos anos mais!!!

É isso

Ouvindo: Heritage Singers

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Wesley Safadão e a vergonha de Caruaru


Não existe polêmica  alguma na questão da festa junina de Caruaru. O que existe é um "artista" fazendo jus ao seu nome: "SAFADÃO" Sim, pagaram 575.000 dinheiros a um uma pessoa que além de ser uma nulidade musical é também  alguém que nutre absoluto desprezo pela situação dos milhões de desafortunados do país que nada tem e graças a políticos e pseudo artistas como Safadão tem cada vez menos possibilidade de ter.

Não existe motivo, seja ele artístico ou de qualquer outro motivo que explique pagar a quantidade de dinheiro que se pagou para Wesley. Safadão não é um artista que valha um cache de 20.000 dinheiros, quanto mais de 575.000. O desplante de tal pagamento apenas evidência um país que perdeu a vergonha, onde qualquer negociata, qualquer falcatrua é feita a olhos vistos, sem a necessidade de esconder o mal feito de quem quer que seja.

É prática comum no meio "artístico" superfaturar os caches para fazerem acertos com prefeituras e assim o negócio ser bom para ambos. O artista recebe o que já receberia de qualquer modo e a prefeitura reforça o seu caixa paralelo e embora seja comum, é triste.  Não existe a menor preocupação em oferecer um show de qualidade para a população, um espetáculo que seja musicalmente agradável. Não.  O que se quer é faturar em cima de quem acaba pagando a conta sempre: O povo.

É uma vergonha que não existam controles públicos que possam evitar  que situações vexatórias como essas mas é mais vergonhoso ainda que artistas, que deveriam zelar pela dignidade de sua obra a vendam de forma tão vil e a preço tão barato, pois 575.000 dinheiros não deveriam de forma alguma  ser o preço final de um cantor ou qualquer outro artista. Sinto vergonha alheia de perceber que no Brasil, para a grande maioria dos assim denominados artistas,  valha mais a pena vender a sua obra do que mante-la integra, seja em qual estilo for. O povo também não se importa com a roubalheira, antes prefere agir como se nada estivesse acontecendo e lota esses shows  validando o processo de  pouca vergonha que cada show encerra.

Em um país sério, situações como essas seriam reprimidas até não mais existir e o dinheiro deveria ser integralmente devolvido aos cofres públicos. É lastimável que tudo continue como sempre foi e que esteja claro que continuará sendo. Qhe vergonha! Que vergonha!

É isso

Ouvindo: Alanis Morissete

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Dias de praia no inverno.


A menos que você more no litoral e já tenha se acostumado plenamente a todas as facetas que morar próximo a praia implica, o inverno por lá não é uma coisa bacana. Ter a faixa de areia a disposição, a imensidão do mar e tudo o que ela significa tanto em um plano literal como sobretudo em um plano literário e não poder desfrutar é de doer na alma e também é a metáfora quase que perfeita para falar sobre melancolia.

Se o Sol pede Beach Boys na vitrola e pessoas com seus maios, biquínis e sungas correndo em direção ao mar e logo em seguida ao Por Do Sol,  o inverno na praia pede uma reuniãozinha de poucas pessoas, Tom  e Sinatra cantando "Bonita" na mesma vitrola, queijos e vinho. Só que isso é Campos do Jordão, não litoral. Litoral no verão é sinônimo de festa de agitação de pessoas felizes. No invernos apenas soturnas figuras o frequentam com seus olhares macambúzios que entregam a falta de alegria a iluminar a alma.

Dias de praia no inverno não são dias de praia, são dias de não ir a praia. Dias de olha-la, deseja-la, imagina-la tal qual ela é. é ver o mar lindo, oferecendo-se com suas ondas em languidos movimentos, seu barulho musical sussurrando  poesias que de tão translúcidas, diafanas  são. Praia no inverno para o turista é a sensação máxima de não pertencimento  a algum lugar, é sentir-se mais triste do que se é ou do que se deveria ser. Dias de praia no inverno é abrir mão da felicidade que  Sol traz. É conscientemente escolher a tristeza, é de forma retumbante gritar ao mundo que se falhou.

Mas é claro que vive dias de praia no inverno quem se recusa a dela ir embora. O sentimento de  melancolia. tristeza,. não pertencimento, a solidão que dias passados no inverno do litoral traz, tudo isso pode ser substituído quando pura e simplesmente muda-se de lugar. Quando o inverno é vivido onde se deve, da forma que se deve,  Quando as coisas estão nos devidos lugares, o inverno não é um fator de interferência na felicidade e saindo da metáfora, quando as coisas estão no lugar dentro de nós, a tristeza, este inverno que a mim assola de vez em quando, não passa de uma nuvem escura que se dissipa.

Mas se ela me atinge quando as coisas já não estão bem, dai sim é como uma paisagem de inverno no litoral e nem quero sair de lá, é como se a estadia na gélida faixa de areia se prolongasse de forma natural, simplesmente porque é assim que tem que ser. E não é.

Me sinto como numa cidade muito bonita litorânea, mas estou  nela na estação errada. Esse frio vai passar, logo estarei adaptado, fora dessa cidade errada na hora errada. O tempo se encarrega de nos levar de volta para onde nunca deveríamos ter saído. O tempo e só ele pode me ajudar. Eu vou seguindo. Que assim seja.

É isso.

Ouvindo:Magic Numbers

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Maria Amélia Miranda Rocha (RIP)


Maria Amélia Miranda Rocha é o nome de minha irmã que morreu. Sim, além de minha irmã Fernanda, tinha a Maria Amélia também. Uma menina bonita, cheia de sonhos, que sempre se envolveu com as pessoas erradas infelizmente. Minha irmã era tão ou mais inteligente do que eu sou. Ela era brilhante. Foi uma criança cheia de vida,  Era doentinha, tadinha, tinha pulmões arrebentados como os de um fumante aos 7 anos. Um teve que ser removido inclusive, mais ainda sim ela lutava pela vida  e fazia o que era possível para se manter neste mundo de bosta.

Mas como eu disse sempre se envolvendo com pessoas erradas, com gente que não prestava que a fazia sofrer, a fazia ser muito pior do que ela era, que sugavam suas energias e alegria até que ela se tornasse algo próximo de um ser absolutamente desconstruído. Ela era bonita! Há! Como ela era bonita! Tinha olhos expressivos, castanhos, um cabelo cacheado que lhe caia sobre os ombros de forma  exuberante até. Não eramos melhores amigos mas a nossa maneira, nos amávamos.

Me ajudou várias vezes, eu lhe ajudei outras tantas, fazíamos como irmão deveriam fazer. Mas agora, ela morreu. Tinha três filhos, mas o mais velho morreu também. É triste, mas minha irmã morreu de AIDS e seu filho, que tem o meu nome, de overdose.  Não a julguem, asseguro que ela era uma boa pessoa. Se enveredou por uma vida de erros é porque mesmo as pessoas boas tem suas fraquezas e cometem erros que aos olhos de quem não os cometem podem parecer absurdos. Mas e dai? O mundo continuará a girar da mesma forma. A morte de minha irmã é só um número de uma fria estatística que versa sobre pessoas que usam drogas e o seu triste fim.

A AIDS foi uma consequência quase que natural  de seu comportamento errático e a morte de seu primogênito nada mais é do que o reflexo de filhos que sem estrutura repetem os erros de seus pais. Mas minha irmã sempre foi para mim muito mais que uma pessoa que se perdeu para as drogas. Era minha irmã, meu sangue, a quem tinha apreço, amor. Sua morte finaliza anos de sofrimento, mas isso não me consola. Ver quem se ama morrer assim é algo muito triste e por mais que eu possa parecer um ogro sem sentimentos, não sou bem assim. Agora não tenho mais irmãs. Fernanda, a esperta, se foi logo deste mundo vil. Amélia, a que gostava da vida mas não soube vive-la, se foi agora. E eu, o pior dos três rebentos de minha mãe, permaneço aqui, sendo uma pessoa detestável e sem graça.

Meu mundo interior já habitualmente tão cinza, esta negro, as trevas são espessas, a vontade de continuar é zero. Eu sou uma sobra de mim mesmo a muito tempo e agora perdi meu elo familiar, perdi minha irmã. Queria realmente ter estado ao lado dela em seus momentos finais. Queria ter cuidado de seu corpo frágil e febril ao fim da vida. Queria lhe dado um abraço que mostrasse o amor que lhe tinha. Queria muita coisa e agora nada disso vai acontecer. Seus olhos se fecharam, cessou a respiração e isso fala muito de um mundo absolutamente sem sentido onde pessoas como eu continuam a caminhar. Minha irmã era uma mulher muito jovem para morrer. 38 anos e uma vida para viver.

Minha irmã morreu e eu continuo vivo. A vida não traz  justiça. A vida é a própria injustiça. Minha irmã merecia mais do mundo do que ela teve, o mundo deveria ter a conhecido melhor. Minha irmã se foi e eu fiquei. Que bosta!

É isso.

Ouvindo: Yo - Yo Ma