domingo, 24 de julho de 2016

Maria Callas é o meu refúgio


Não existe, nunca existiu e creio que jamais existirá, uma voz como a de Maria Callas. Já falei dela aqui algumas vezes. Para mim Maria Callas é uma amostra, ainda que muito pálida, do que poderia ter sido o ser humano se não tivesse caído.

Em momentos de tristeza, ou de raiva, ou de qualquer outra alteração de humor, é em Maria que me refugio.  A beleza contida em suas interpretações, a força que embala a suavidade de seu timbre, o poder de emocionar apenas abrindo a boca e cantando, tudo isso me faz admira-la de forma profunda e definitiva.

Eu sei que existe Montserrat Caballé, Jessye Normam e tantas outras interpretes, mas quantas delas, ou qual delas melhor dizendo tem  a entrega que Maria tinha? Maria não cantava, ela se entregava. Nos minutos que duravam suas interpretações, Maria não era Maria, era "a voz", o sentimento, a verdade em forma de música.

E é fato que a música pode prescindir até mesmo de uma bela voz, mas jamais poderá abrir mão da verdade. é a verdade contida em cada nota que define quem é quem quando o assunto é música. Maria tinha esta verdade impregnada em suas interpretações. Não havia concessões, não havia possibilidade de ouvi-la e afirmar que ela havia faltado com a verdade.

Me refugio em Maria porque vivo em um mundo cínico, mentiroso, que não tem qualquer sombra de verdade nas relações humanas. Chegamos a tal ponto em que ter idéias próprias e defende-las é algo mal visto. Ligar para uma pessoa é quase um crime que se comete contra ela, uma vez que existe o "whats" para se comunicar. A verdade é o que se vê nas fotos do facebook, nada acontece fora dele, ou nada que realmente importe para quem "posta". Viver uma vida real, sem disfarces, sem falsidades, sem pequenas mentiras para enfeitar o currículo é algo impensável.

Por questões como essas, me refugio em Maria e seu canto. Sua voz perfeita, importa menos que sua obsessão pela verdade,  Suas interpretações nunca são menos que viscerais, e por este motivo magníficas. São meu porto seguro, são a prova de que a beleza e a verdade ainda existem e não falo da beleza física ou como elemento meramente estético. Falo do belo como conceito mais amplo, o belo que nos impulsiona a ser melhor, não a uma admiração vazia ou um exercício inútil de buscar um conceito estético.

Em Maria Callas, encontro  a paz e isso me basta.

É isso.

Ouvindo: Maria Callas

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