domingo, 26 de fevereiro de 2012

Uma dor que me sufoca

Eu tenho fotos que comprovam que eu era um bebe muito bonitinho. Daqueles que a gente quer apertar as bochechas. Olhos verdes, muito cabelo, gordinho, em nada parecido com o homem feioso que eu sou hoje.

Minha mãe sempre diz que eu puxei para o meu pai. Que ele era lindo e que ela deu pra ele por isso. Esse termo "deu" do verbo "dar" e que todos sabem bem o que significa era utilizado por ela mesmo. Fui fruto de sexo sem amor, descompromissado de uma mulher que também era muito bonita, e um cara gato.

Fico pensando se meu pai tinha visão de futuro e intuiu que eu ficaria feio e achou melhor nem me conhecer para não se decepcionar depois. Pode ser também que ele simplesmente não tivesse afeto o suficiente pela minha mãe e eu pudesse atrapalhar os seus planos futuros. Não seria novidade, afinal estou sempre atrapalhando alguém de alguma maneira, mas se foi isso, perdão, pai.

Minha mãe também sempre diz que a família dele tinha dinheiro, mas isso eu sei que não fazia sua cabeça pois puxei dela esse lance de ser totalmente desligado de bens materiais. Se meu pai fosse pobre e ela sentisse vontade de dar pra ele, teria dado do mesmo jeito. Se você esta se incomodando com o termo "dar" usado para falar da minha mãe, pode parar de ler a qualquer momento, minha mãe não me teve da cegonha, ela deu para o meu pai e eu nasci, como todos os outros seres humanos.

No fim deste ano eu completo 40 anos. Toda vez que penso em meu pai, me sinto com 7. Não queria conhecer meu pai para pedir dinheiro, ou para conferir se ele ainda é bonito. Queria apenas conhecer meu pai, olhar no rosto dele, buscar traços meus nos seus, tentar me reconhecer finalmente em alguém.

Já estive várias vezes perto de conhece-lo mas nunca aconteceu de fato. Sei que sou uma pessoa razoavelmente inteligente e se buscasse a fundo eu o encontraria, mas tenho tanto medo de não ser alguém que ele goste que desisto e prefiro ficar idealizando que as vezes ele possa ficar pensando no filho que ele teve antes dos outros.

Me ponho a pensar se ele alguma vez se preocupou comigo. Se quando chegou a época da faculdade ele pensou que profissão escolhi e morro de medo de decepciona-lo nisso também, pois talvez ele ache minha profissão algo pouco glamouroso, algo que não condiz com quem ele é.

As vezes eu penso nisso e choro sozinho sabe? Sei que pode parecer coisa de menininha, mas não ter um pai que conscientemente optou por não me registrar me faz doer o peito de um jeito que nem uma marretada nele conseguiria. Se meu pai permitisse que eu o conhecesse eu juro que não seria espetaculoso. Tentaria ser o mais contido e tranquilo possível, mesmo que pra isso eu tivesse que tomar toda medicação disponível para controle de DDA existente no mundo. Eu ia ficar quietinho ia apenas pedir permissão pra lhe dar um abraço, pra tocar no rosto dele sabe? Ia fazer com a Rafa faz quando está comigo e aperta minha mão com força pra se sentir se segura.

E se ele gostasse de mim só um pouquinho que fosse, se ele identificasse em mim algo de valor, nem que fosse uma caracteristica apenas, eu juro que já poderia morrer feliz. Se eu soubesse que ao encontrar meu pai depois de 40 anos de vida apenas uma coisa que eu fiz fosse o agradar eu me tornaria o melhor melhor do mundo naquele item em particular.

Eu sei que pra quem tem pai isso pode parecer piração, sentimentalismo barato, mas creia, não é.

Fui criado por um homem que não era meu pai e nem se quer gostava de mim apenas gostava de sexo com minha mãe que definitivamente nos tempos áureos devia ser ótima de cama porque o cara me suportava pela oportunidade de te-la noite sim, outra noite também. Quando eu lhe dava as coisas que a escola nos obrigava a fazer como presente de dia dos pais ele jogava de lado. Será que meu pai jogaria também? As vezes penso que ele não gostava pela minha inapetência em artes manuais, mas quase sempre chego a conclusão que era apenas para me fazer sofrer mesmo. Será qu emeu pai, por ser meu pai ao menos fingiria gostar?

Eu não sei fazer nada com minhas mãos. Não sei arrumar chuveiro, bater um prego não sei cozinhar, nada disso, mas se isso fosse importante para o meu pai eu faria um curso rápido e me tornaria o melhor melhor do mundo nisso também.

Eu fico pensando se um dia vou encontra-lo. Fico pensando como isso seria, como aconteceria e tenho medo. Medo de ser rejeitado. Medo de ser considerado ridículo pelo meu pai ( de modo algum eu o culparia, mas não seria agradável) mas acho que preferia a execração de algo assim a morrer sem conhece-lo.

Em dias como o de hoje, que ao assistir o Fantástico me deparei com uma matéria sobre encontros e desencontros de pessoas que cresceram sem saber quem é seu pai, meu choro transborda e eu penso o que poderia fazer um dia poder ao menos apertar a mão de meu pai e como minha filha quando aperta a minha, me sentir ao menos uma vez, 100% seguro.

É isso.

Ouvindo: Felipe Valente

Um comentário:

Anônimo disse...

Davi, sua preocupação com essa questão me comove, sempre te achei tão resolvido, mas pensando bem, isso realmente faz muita diferença!
Porém, minha mensagem para você, é, você tem um Pai, e muito mais preocupado com você do que você consegue dimensionar. Ele é o Pai de todos os pais, e se um dia você criar coragem suficiente pra se deparar com seu pai terreno, faça questão de mostrar para ele que você foi muito bem cuidado pelo seu Pai celeste que o criou, e o idealizou muito antes de sua mãe imaginar conhecer seu pai;
E acima de tudo, se ame, você tem muito valor, mas se percebe defeitos a serem melhorados, peça ao Papi do Céu, pra te ajudar mudar...Pode parecer uma missão impossível, mas para Ele, tudo é possível! Por mais maluco que vc seja, saiba que temos um carinho muito grande por você...
Obs.(...Seja um pai que não deixe resquício algum, que dê margem a esses sentimentos aflorarem em filhos(as) de pais ausentes).Neu&Ox