segunda-feira, 20 de maio de 2013

Onde vivem os monstros

Infelizmente o título do post não se refere ao estupendo livro do Americano Maurice Sendak, (Where The Wild Things Are) lindamente transposto para as telas pelo brilhante Spike Jonze. Não, não é sobre uma criança que representa tantas outras em sua jornada de auto conhecimento e descoberta que eu vou falar embora gostaria. é sobre monstros "reais" e eles habitam um bairro chamado Cidade Tiradentes nas franjas da Zona Leste, minha querida Zona Leste que me viu crescer de São Paulo.

Crianças são um dos últimos bastiões de pureza que ainda existem. Embora a internet e a televisão a cada dia despedacem mais e mais os períodos de inocência que elas tem, empurrando-as  cada vez mais para uma precocidade indesejada e desnecessária elas ainda resistem com seus sorrisos, sua fala sem maldade, seus gestos de amor verdadeiro e sobretudo com sua confiança de que nenhum adulto lhes fara mal dada a sua incapacidade de se defender.

Infelizmente não é o que acontece. Monstros travestidos de  seres humanos estupraram e mataram covarde e friamente uma menina de 8 anos de idade. Menina essa, amiga de uma das filhas de um dos monstros. Menina essa que brincava com essa amiguinha igualmente pura que não tem culpa de ter o pai que tem. Menina essa que só queria viver e crescer e talvez ser alguém. Virou apenas estatística, virou apenas um nome a ser gritado por repórteres policiais ávidos por sangue e nenhuma compaixão. Virou pó. O mesmo pó de onde ela veio. Ma virou pó cedo demais.

Deixa pai e mãe que não conseguem (como eu também não consigo) entender o que se passa na cabeça de dois homens que se unem para infligir torturas e dor a uma criatura completamente desprotegida da sanha  assassina que reside nos corações de seres maus como eles. Deixa pai e mãe que embora pobres, são dignos e tentavam educar sua filha com dignidade. Deixa pai e mãe que olharão para suas roupas, seus sapatinhos, seus parcos brinquedos e talvez façam desses itens um memorial em homenagem a quem tanto amavam. Deixa pai e mãe a quem o estado virará as costas em um primeiro momento mas lembrará na hora de pedir votos transformando em mártir quem merecia apenas justiça.

Monstros assim estão em todos os lugares. Nossas crianças não estão mais seguras. É mister que as protejamos como nunca antes, com nossa própria vida. Nossos bens de nada valem se levarem  nossas crianças. Nossa vida não valerá mais nada se levarem nossas crianças mas a mente sórdidas de pessoas completamente descompromissadas com o significado da palavra amor,  pode cometer atos de desatino sem o menor grau de arrependimento posterior.

Não existe arrependimento ou mesmo remorso na alma dessas criaturas maléficas que destroem vidas, que interrompem caminhadas que deveriam durar anos. Não nascemos para ver nossos filhos morrer, eles nos enterram e não o contrário. Quando enterramos filhos jogamos juntos no caixão para abaixo do solo um naco de nossas própria vida que jamais será restaurado. Monstros como esses dois facínoras simplesmente não entendem o que fizeram, não compreendem a dor pelo qual passarão familiares, amiguinhos. Não projetam o fim da confiança desses mesmo amiguinhos que jamais se deixarão tocar e serem abraçados por outro adulto, pois agora todos somos suspeitos para eles de sermos os próximos algozes.

Junte a isso um Estado incapaz de prestar assistência adequada a familiares e temos ai um caldo de dor e sofrimento que pode se desdobrar em problemas conjugais como separação, em alcoolismo, até mesmo em suicídio. Por que coisas assim acontecem?

Porque o mundo é mal. Porque permitimos que ele seja cada vez pior. Porque expomos nós mesmos nossos filhos a cargas maciças de erotização e violência como nunca antes geração alguma anterior a nossa foi exposta. Porque permitimos que o mal nos ronde sem tomar qualquer traço de atitude. Porque temos medo de sermos enérgicos e criamos filhos que não estão prontos para reagir a ameaças (embora neste caso específico em que dois animais se juntam contra uma criança nada pudesse ser feito). Porque não nos indignamos o suficiente. Porque não foi com um de nossos filhos. Ainda.

Queria poder abraças esses pais e dizer que a dor deles é um pouco minha também. Queria poder conforta-los com uma palavra de esperança de que se  forem fiéis a Jesus Cristo podem sim, no dia da Ressurreição dos Justos ter sua filha devolvida a eles por um anjo, purificada, limpa de toda mácula que um dia existiu. Queria poder apenas ficar em silêncio ao lado deles e sentir com eles essa dor que não deveria ser só deles mas de toda pessoa de bem.

É isso.

Ouvindo: Prisma Brasil

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