terça-feira, 4 de novembro de 2014

Sobre ontem a tarde


Foram 17 unidades vendidas no residencial. Mais 9 no comercial. Acho números bem expressivos. Talvez um cínico diga que não é nada mais do que obrigação. Eu mesmo, cínico incorrigível que sou sempre digo para mim mesmo que é isso mesmo: Nada mais que obrigação.

Fato é que ontem a tarde, passando em frente ao Florida Penthouses e também do Landmark, dois empreendimentos que vendi na mesma época e que estão na verdade no mesmo terreno desmembrado lembrei do tempo que eu era alguém.

Não por conta de grana. Estou e sempre estive cagando e andando pra dinheiro. Mas por ter vendido um empreendimento daqueles que marcam a vida de um corretor que dele participa. Me orgulho demais de ambos. Me orgulho demais de ter ligado para um, cliente as 23:00 e te-lo tirado da cama dizendo que estava fazendo "bobagem" de não ter ido participar do lançamento do Land. Me orgulho mais ainda de as 00;15 e  cara ter chegado com a mulher com cara de brava e terem fechado ali, na hora, quatro salas. Isso marcou. Me fez sentir, basicamente para mim mesmo, especial, um cara que sabe o que faz quando o assunto diz respeito a sua profissão.  O dinheiro? Gastei com bobagens, provavelmente, mas e dai? O ganhei honestamente e tinha o direito não?

No Florida também tem história. Vender para um casal de velhinhos tão simpáticos quanto idosos e saber que ainda moram lá, pois os vi caminhando em direção ao prédio, mãos dadas, curvadinhos, porém ali, dignos, como um casal de eternos namorados, me fez feliz. Quis cumprimenta-los, mas fiquei com vergonha. Fiquei com medo de não ser reconhecido, pois confesso, sei que não sou uma pessoa marcante quando faço algo de bom, apenas quando cago, porque são cagadas tão grandes que entram pra história.

Mas quando faço as coisas certas, também não as faço esperando reconhecimento, faço porque é assim que as coisas devem ser feitas, da maneira correta. Mas este casal, que na época já tinha por volta de 70 anos, mas era ( e ainda deve ser tão cheio de vida), me emocionou por apostarem em um empreendimento que demoraria três anos e meio para ser entregue ao qual diziam que seria sua última moradia. Fiz questão de escolher a melhor unidade possível, com a melhor vista, com o melhor preço que fosse possível conseguir, não porque não tivessem condição de pagar, mas para ser justo. E  consegui. E eles ficaram felizes.

E ontem ao passar por lá e coincidentemente vê-los, meu coração disparou. Por que existem vendas que a gente faz  e nem lembra no dia seguinte, mas existem algumas poucas que nos marcam, nos emocionam, nos fazem sentir-se pleno de orgulho, trazem uma alegria incontida, um sei lá o que... Talvez a palavra seja felicidade.

E sentei no banco do ponto de táxi que tem em frente. E olhei para o empreendimento, lindão, imponente, como uma bela mulher que se mostra, (ou duas, já que são duas torres), e lembrei do tempo em que eu andava naquele terreno, primeiro em uma barraca, depois em um imponente plantão e fiquei um bom tempo pensando na vida, nas coisas que fiz e nas que não fiz.

Claro, não cheguei a conclusão alguma, afinal não sou uma pessoa de concluir pensamentos.Quando acho que me apeguei a um logo outro vem de assalto e rouba minha atenção, mas ontem a tarde, eu definitivamente me lembrei do tempo que eu era alguém, era reconhecido pelo nome, tinha reconhecimento.

Hoje trabalho em em uma empresa em que sou apenas mais um. Se antes eu tinha uma diretora que me abraça toda vez que me via, hoje tenho um que nem me cumprimenta, provavelmente de tão ocupado que é. Não perco o sono obviamente por conta disso, mas quando passo ao lado de empreendimentos que me marcaram, como o Florida Penthouses. um misto de conforto e saudosismo me invade. Lembro que um dia, já fui alguém.

É isso.

Ouvindo: Michael Bublé

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