sábado, 26 de dezembro de 2015

25 Adele


Adele é linda, Adele canta magnificamente bem. Adele lança álbuns coesos, Adele se veste com uma sobriedade chique, rara de se ver em meio a cafonice do showbizz atual. Adele parece ser boa gente, Adele, em suas entrevistas fala palavrões em quantidades industriais. Adele se parece com aquela moça para casar e a julgar pela sua silhueta, linda silhueta diga-se de passagem, ama comer. Mas quem é afinal, Adele no rolê das cantoras com alma?

Adele desafiou o mainstream ao não permitir que seu novo álbum, o soberbo "25" fosse lançado via plataformas digitais. Resultado? A quebra de um recorde que já durava 15 anos e a fez ser simplesmente a maior estreante de todos os tempos ao vender 2.43milhões de álbuns na semana de lançamento. Falo de álbuns físicos, aqueles cds que pegamos, manipulamos o encarte, aquela  forma linda de ver e sentir a música que esta sumindo.  Mas quem é Adele no rolê das cantoras com alma?

Adele que lança seus álbuns não por uma Major Label mas por um selo independente, mostra ter total controle sobre sua carreira. Adele não tem o comportamento despirocado de gente com muito menos talento que ela. Adele é diva. Adele faz cada centavo gasto com um ticket para apresentação sua valer a pena, Adele não é fotografada bêbada ou zuada com um cachorro lambendo sua boca. Adele tem um filho e até parou de se apresentar uns tempos para prioriza-lo. Mas quem é Adele no rolê das cantoras com alma?

Sim, eu ouvi "25" e por este motivo, insisto na pergunta: Quem é Adele no rolê das cantoras com alma? A minha resposta? Adele não é ninguém neste rolê. Seu "25" assim como seus álbuns anteriores são álbuns excepcionais isso é indubitável, mas carecem de alma, de verdade. São impecáveis tanto no vocal que não se permite escorregadelas como nos arranjos, executados de forma brilhante e também na parte técnica. O piano, figura central junto com sua voz, nunca é menos que espetacular e percebe-se de cara que o engenheiro de som que cuidou da gravação é nada menos que brilhante.

Mas onde esta aquele componente tão necessário aos cantores e cantoras de verdade? Onde está a alma de Adele? Nas letras por vezes confessionais e pessoais? Na interpretação chorosa e cheia de dor de algumas canções? As letras de Adele poderiam ser escritas por qualquer compositor mediano, não são nada demais, nada que uma jovem de sua idade não tenha passado e por ser uma pessoa de maior sensibilidade Adele conseguiu passar para o papel enquanto a maioria de suas amigas no máximo chora baixinho na cama a noite.

Suas interpretações carecem de verdade. Sua tristeza é posada. Sua raiva se dissipa entre sorrisos vitoriosos que não consegue evitar a cada apresentação lotada ou cada vez que vai a um programa e o coloca em primeiro lugar de audiência com sua presença. Falta a Adele um quê de Amy Winehouse. Falta a Adele controlar menos a si própria e como Amy levar-se menos a sério. Se Adele se permitisse ser apenas uma cantora, não a salvadora da música pop atual,  talvez se tornasse a maior interprete do pop em todos os tempos.

Adele é uma cantora fora do normal, mas como interprete, apenas engatinha. Lhe falta a leveza, mesmo a dor e o desespero podem e na verdade devem, ser interpretados de forma descontrolada. Sua dor vai até uma certa medida, sua raiva parece se perder sua angustia embora perceptível é questionável.

"25" é sem dúvida um álbum notável, mas infelizmente em grande medida ele alcança este status muito mais pela indigência do cenário musical atual do que pela singularidade de Adele. Afinal, quem é Adele no  rolê das cantoras com alma?

É isso.

Ouvindo: e por muito tempo, não ouvirei novamente, 25.

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