segunda-feira, 3 de abril de 2023

De Quase Morte

 

Eu sempre acho que o acontece comigo pode e deve ser relativizado. Busco nunca me vitimizar, me colocar em situação de fragilidade ou incapacidade e acho que o melhor é quando algo acontece  que não seja bom eu simplesmente esquecer o mais rápido possível, afinal o que não é bom, não precisa ficar sendo lembrado.

Mas desde a última quinta feira até a noite de sexta, a verdade é que eu quase morri. É isso mesmo, eu quase morri. O pico de Diabetes que sofri (430), aliado a minha recusa de ir ao hospital no início e me medicar da forma correta quase me levaram a confirmar da pior forma que ao morrer eu dormiria até o regresso do Eterno. Seria um soninho bom, admito, mas não estou preparado ainda para tê-lo afinal, tenho meu neto, minha filha, minha enteada e minha esposa. Pessoas caras a mim, importantes, cruciais as quais não quero abandonar ainda.

Mas é interessante estar em uma enfermaria tomando soro e tantos outras medicações e ver a vida se desenrolando silenciosamente através de flashes, que bem diante dos meus olhos iam se desenhando. A morte em si não parece assustadora quando esta chegando, pode parecer loucura mas parece até gentil, mas o que amedronta e entristece é a certeza que vai se solidificando minuto a minuto que nunca mais haverá um pôr do Sol, um chuva refrescante, não acordarei Graziela pela madrugada só pra atazaná-la,  não verei meu neto crescer, minha filha atingir sua potencialidade total e ser a pessoa que eu sei que ela será e não verei Vivi, minha enteada amada ser a artista que esta destinada a ser. Morrer, em si não é ruim. Ruim é cessar as possibilidade que a vida oferece.

Eu parecia a menina do Exorcista vomitando jatos amarelos que teriam potencial para ganhar um mundial de vomito em distância se houvesse uma disputa tão nojenta. Só faltei virar o pescoço, mas se o fizesse, não me assustaria dada a minha coloração esverdeada. Eu parecia um bolo mofado. 

Mas o fato é que mofado ou não, eu sobrevivi. Mofado ou não a morte foi quase e não, não é exagero, foi realmente quase. E neste quase, eu aproveitei para ser pleno. Pleno de certezas sobre a beleza da vida. Pleno de certezas sobre a concretização de futuros projetos antes que o quase da morte, se torne morte real. Um dia ela virá, gentil, sorrateira, mas virá. A morte vem pra todos e quanto a isso tudo bem. Só espero ver Graziela bem e feliz, Rafa realizada, Isaac criado e Vivi a artista que é sendo o que pode ser. Depois disso, se der para o Santos ganhar mais uma Libertadores e um mundial, ta valendo também.

A morte quase me pegou e isso foi sério. Mas ficou no quase. Obrigado, Deus, por não ter sido ainda o fim. Valeu mesmo.

É isso.

Ouvindo: Chris Rice

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