sexta-feira, 17 de novembro de 2023

A Cada Dia Que Passa

 

A cada dia que passa eu falo menos e ouço mais. Ainda derrapo nesse quesito, mas tenho buscado o silêncio que venho considerando tão vital ultimamente. Sei lá, creio que já falei tudo o que tinha para falar e tudo o que falo não passa de repetição. E repetição, não ajuda a vida a avançar, apenas torna a vida um pouco mais monótona.

A cada dia que passa, eu percebo que se ainda estou aqui, vivo, neste planeta baleado e cambaleante de tantas dores que nós mesmos, seus habitantes causamos, eu preciso fazer a diferença. Ou ao menos tentar. Ter uma vida que não seja vazia, que não seja de uma busca incoerente por uma pretensa liberdade que me diz que posso fazer o que quiser penas porque encontrei a maturidade aos  quase 51 anos. Na verdade, essa maturidade tem me ensinado a não fazer muitas coisas, a declinar de convites, a não me colocar em situação que não cabem mais na forma que vejo o mundo e como o percebo. Alias, percebo que o mundo, cambaleante como disse, esta a um passo de se esvair de vez. É certo que eu me liquefaça juntamente com ele? Não deveria eu buscar minha própria integridade?

A cada dia que passa, eu percebo que tenho buscado esta tal integridade. Era uma busca inconsciente ate um certo tempo atrás, mas  a um certo tempo eu tomei consciência que se não buscar  me posicionar de forma positiva e integra nestes poucos anos que me restam, finalizarei minha existência sendo apenas uma caricatura vil de mim mesmo, uma pálida ideia do que eu poderia ter sido. Não pretendo terminar assim meus poucos dias.

A cada dia que passa, percebo que se eu não tenho tempo mais de deixar uma marca que seja grande, visível, que mostre como foi minha caminhada, ao menos posso não me tornar uma nulidade, o que sendo bem franco, era o que restava para mim até então. Não quero ser nulo e se não posso fazer uma grande diferença, tenho que encontrar o meio termo que minha vida permite e ser lembrado como alguém ao menos, essencialmente justo e bom.

A cada dia que passa estou ficando um pouco mais cego. Essa é uma constatação literal de minha condição física. Meus olhos me traem se dirijo a noite, então preciso redobrar a atenção e dirigir mais devagar. Já sou uma tartaruga de qualquer forma, mas agora não sou mais uma tartaruga em fuga e sim a passeio. Prefiro, ver filmes e séries dublados o que vai frontalmente contra o que sempre gostei porque não consigo mais ler as legendas de forma completa. Agora mesmo, ao escrever este texto, mal vejo o que é projetado na tela. Preciso de óculos, mas eles serão nada mais que um corretivo artificial que toda vez que for retirado da frente de meus olhos instantaneamente me lembrará minha real condição.

A cada dia que passa, sinto mais saudades de minha mãe e minha irmã e torço para reencontrá-las um dia na eternidade. Sei que elas estarão lá.

A cada dia que passa, no entanto eu me lembro de forma realista, que a eternidade não é para mim.

É isso.

Ouvindo: Out Of The Grey e seu espetacular álbum A Little Light Left


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