O amor, este sentimento insondável que tem tão difícil definição embora seja facilmente percebido, tem diversas formas de se revelar. Podemos ver o amor ao contemplar uma mãe e a forma com que ela redefine o seu Universo através de seu filho, podemos contemplar o amor ao ver um casal apaixonado que traduz seu mundo através de seu relacionamento tornando visível ao mundo que ninguém penetra aquele espaço só deles. Podemos amar pessoas, sejam elas filhos, esposas, avós, irmãos e é tão inexplicável o amor e o seu surgimento quanto é impossível negar a sua existência quando estabelecido.
Sim, existe aquele amor que devotamos a quem quer que seja e pode não ser correspondido mas ainda sim é amor e ainda sim é belo por ser amor, por ser vivido ainda que seja no profundo da alma de quem ama, na escuridão e no vazio da falta de correspondência. Não importa. O amor tem seu próprio oxigênio e ele queima por si só. Te faz feliz, ainda que triste. O amor é belo, ainda que triste. É vida e mantém vivo.
Eu quero falar na verdade de uma amor em especifico, que eu acho lindo, puro e quando falo puro é porque ele advém de um coração puro, um coração que tem seus defeitos como todos temos mas que tem a pureza como principal característica. Um coração que todos os dias, quando começa a escurecer vai até a varanda de seu apartamento e aguarda o surgimento da Lua e principalmente de uma estrela que fica ali, bem ao lado que ele me jura (e eu acredito), nunca esteve lá antes. Falo de Graziela, minha mulher, que tem o coração mais puro que já conheci e ainda sofre e chora com a perda de nossa gata garota, a Mel.
Graziela nem tinha tanto apreço por gatos até que Mel surgiu em nossas vidas 9 anos atrás para alegrar a vida de Vitória Heloisa, minha enteada e sua filha. Foi amor qu ela sente pela filha que possibilitou o início de uma relação que culminaria no amor entre Mel e Graziela. Elas de fato, se amavam. Mel conforme crescia, foi adaptando sua personalidade a de Graziela, criando um vínculo forte e muito lindo de se ver. Passavam o dia praticamente juntas e quando viajámos, eu ali do lado de Graziela sabia que algo lhe faltava, a companhia de Mel. Elas até cozinhavam juntas, pois toda vez que Graziela ia preparar alguma refeição ela se achegava na esperança de receber algum alimento fora da normalidade de sua ração.
Graziela fazia questão de testar vários alimentos molhados para gatos e vários tipos de petiscos para que Mel tivesse variedade para que Mel não achasse o ato de se alimentar algo monótono. Elas recolhiam roupas juntas e Mel a "ajudava" a guardar, por ajudar, entenda que ela ficava ali do lado TODAS AS VEZES até que toda roupa estivesse nas respectivas gavetas ou cabides. Elas de fato se amavam.
Não vou ficar rememorando tantas e tantas coisas que faziam juntas mas vou confessar que das poucas coisas que eu oro Deus apesar de minhas dúvidas sobre sua existência é que ele transforme a dor de Graziela em lembranças que a façam sorrir com uma saudosa alegria. Mel esteve entre nós e alegrou nossa vida e hoje, para Graziela, ela é a estrela ao lado da Lua que todo dia vem lembrar para ela, Graziela, o quanto esta relação entre elas foi boa e foi prazerosa. Elas trocavam amor puro e genuíno, daqueles amor que se percebe na primeira vez que olha, e isso as alimentava.
Graziela jamais mediu esforços para fazer com que Mel fosse Feliz e eu tenho a mais absoluta certeza que de alguma forma, Mel sabia e compreendia esses pequenos gestos pois sempre devolvia amor em forma de outros gestos para Graziela. Elas tinham uma sintonia tão incrível que era comovente de se ver.
Hoje, eu vejo Graziela ainda chorando pela saudade que Mel evoca em seu coração e eu sei que enquanto for viva, jamais deixará de amar aquele bichinho tão frágil que conosco morava, mas eu espero que toda tristeza e dor com o tempo se transforme em lembranças boas, em sentimentos que possam ser aditivos de alegria para a vida de Graziela, que é uma pessoa tão especial e com um coração tão poderoso em amor.
O amor, para Graziela é aquela linda estrela que está ao lado da Lua todas as noites e nunca antes esteve lá. E eu a admiro ainda mais por fazer essa ligação pois revela um coração de criança, puro como o de uma que esta pronta a creditar que seu ser amado que partiu virou estrelinha no céu. O Deus que eu acredito ou quero acreditar seria capaz de olhar para a dor de sua filha amada e colocar ali, ao alcance de seus olhos uma estrela, como se fosse um memorial para que Graziela pudesse sentir-se confortada com a partida de Mel.
Eu me sinto confortado quando penso que Deus é tão amoroso com seus filhos que mesmo com toda nossa falta de merecimento ele nos afaga, nos acalanta com uma estrela e faz dessa estrela a mais bela e brilhante do céu. Essa estrela para mim não poderia ter outro nome. O nome dela é Mel.
É isso.
Ouvindo: Stars, com a interpretação de Cindy Morgan
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